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I. ENQUADRAMENTO TEÓRICO

1. ENQUADRAMENTO GERAL

1.6. E STUDOS NO D OMÍNIO DA A VALIAÇÃO DE R ISCO

1.6.3. Comparação de métodos semi-quantitativos

Tal como já foi referido, poucos são os estudos que refletem a preocupação de comparar os resultados das Avaliações de Risco aquando da utilização de diferentes métodos, em particular os métodos centrados nas matrizes de risco. Os estudos realizados por Carvalho (2007) e por Branco et al. (2007) vêm reforçar a necessidade de se aprofundar o conhecimento científico neste domínio, para garantir a Fiabilidade das Avaliações de Risco efetuadas.

O estudo realizado por Carvalho (2007) centrou-se na análise comparativa entre 10 métodos de Avaliação de Risco de natureza semi-quantitativa (MASqt). Com este estudo pretendeu-se investigar se o Nível de Risco obtido pelos diferentes MASqt era idêntico, para cada um dos riscos previamente identificados, e se o Tipo de risco identificado poderia influenciar o Nível de Risco obtido por esses mesmos MASqt. Aplicaram-se 10 MASqt para estimar e valorar 150 riscos decorrentes da realização de 6 tarefas de manutenção. O estudo compreendeu 4 etapas: Caracterização da Situação de Trabalho; Identificação dos Perigos e associação dos potenciais riscos e respetivas consequências; Estimativa do Risco e Valoração do Risco. A aplicação dos vários métodos para estimar o Nível de Risco foi efetuada pelo mesmo avaliador, que utilizou, intencionalmente, os mesmos critérios de julgamento. Na maioria dos casos (90%), foram registadas diferenças estatisticamente significativas para o Nível de Risco obtido com os diferentes métodos.

Para a maioria das categorias de risco (77%), verificou-se que a escolha do método não deve ser independente do Tipo de risco a avaliar. A ausência de diferenças significativas entre os resultados obtidos com os métodos de 3 níveis de Índice de Risco revelou consistência em 33% dos casos (análise a posteriori). Para os métodos

casos, respetivamente. Encontrou-se algum consenso na potência revelada pelos métodos, no que se refere à proteção que conferem ao trabalhador.

Apesar das diferenças se terem revelado significativas, na maioria dos testes realizados, a potência associada a esses resultados foi considerada limitada, já que, na opinião de Carvalho e Melo (2007a, 2007b, 2008a, 2008b), existe alguma incoerência entre os descritores associados a cada nível das escalas de Índice de Risco disponibilizadas pelos métodos. Neste sentido, os autores reforçam que, independentemente da validade intrínseca de cada método, a sua escolha não deverá ser feita de forma aleatória.

Branco et al. (2007) procuraram avaliar os resultados da aplicação de dois métodos de Avaliação de Risco semelhantes e de utilização frequente. Os métodos escolhidos foram o “método simplificado” e um método matricial semi-quantitativo, utilizados na indústria extrativa. À semelhança do estudo apresentado anteriormente, a aplicação foi efetuada sempre pelo mesmo avaliador, para que os critérios de julgamento utilizados aquando da aplicação dos dois métodos fossem os mesmos. Neste estudo foram analisados 62 acontecimentos potenciais, em quatro zonas de trabalho previamente definidas e com características distintas. Apesar dos autores reforçarem que é fundamental a disponibilidade de métodos de Avaliação de Risco expeditos, da análise efetuada resultou que, em mais de 60% das situações analisadas, as conclusões não eram equivalentes. Assim, e sem prejuízo da validade intrínseca de cada método, Branco et al. (2007) apresentam como conclusões primordiais do estudo que a escolha do método deverá ser objeto de uma análise mais cuidada, sendo aferido de acordo com o alvo que se pretende avaliar, o que é reforçado nos resultados apresentados por Carvalho (2007).

Marhavilas e Koulouriotis (2008) desenvolveram e analisaram, as bases teóricas de duas ferramentas de Avaliação de Risco de natureza semi-quantitativa (de acordo com o nosso sistema classificativo apresentado no ponto 1.5) que, posteriormente, aplicaram numa indústria de extrusão de alumínio, usando dados reais de eventos indesejados ou de acidentes (i.e., potenciais fontes de perigo), registados pelos engenheiros de segurança, durante um período de 5 anos e meio (1999-2004). A

análise dos resultados, no que diz respeito ao Nível de Risco obtido por cada um dos métodos utilizados, para cada uma das fontes de perigo identificadas, revela que os mesmos não são compatíveis, ao contrário do defendido pelos autores. A ausência de tratamento estatístico e a presença de escalas de Índice de risco com número de níveis diferente (um dos métodos hierarquiza os riscos numa escala de 5 níveis enquanto o outro, numa escala de 4 níveis) dificulta uma análise mais detalhada. Contudo, das nove fontes de perigo identificadas verificou-se que:

no método com escala de 5 níveis, 8 das situações obtiveram uma classificação de nível 5 (ou seja, não são necessárias ações imediatas, mas é requerida vigilância dos eventos) e 1 obteve a classificação de nível 4 (ou seja, são requeridas ações ou medidas de supervisão, antes de 1 ano).

no método com escala de 4 níveis, as mesmas nove situações foram distribuídas por três níveis:

- 2 obtiveram a classificação de nível 1 (situação inaceitável – são necessárias ações imediatas e urgentes para eliminar a fonte de perigo);

- 4 obtiveram a classificação de nível 2 (situação indesejável – são necessárias ações para eliminar a fonte de perigo);

- 3 obtiveram a classificação de nível 3 (situação aceitável com controlo –não são necessárias ações imediatas, mas requer vigilância das fonte de perigo).

Tais constatações evidenciam a ausência de compatibilidade entre os dois MASqt utilizados.

Na mesma linha de ideias, Marhavilas, Koulouriotis e Mitrakas (2011) aplicaram dois MASqt (o PRAT - Proportional Risk Assessment Technique e o DRAM - Decision Risk Assessment Matrix) numa empresa pública fornecedora de energia elétrica. Os resultados disponibilizados, no que diz respeito ao Nível de Risco obtido por cada um dos métodos utilizados, para cada uma das fontes de perigo identificadas, vêm revelar

utilizados métodos com escalas de Índice de risco de número de níveis diferente (um dos métodos hierarquiza os riscos numa escala de 5 níveis - PRAT, enquanto o outro numa escala de 6 níveis - DRAM).

A comparação entre métodos com escalas diferentes para a variável Índice de risco torna, naturalmente, mais difícil a análise. Contudo, pela análise dos descritores, associados a cada um dos níveis, foi possível estabelecer uma relação entre os níveis 5 e 6 do método DRAM e o nível 5 do método PRAT. Entre os restantes níveis 1, 2, 3 e 4, existe equivalência entre os dois métodos.

Assim, considerando a síntese dos resultados obtidos, parece-nos lícito considerar que não existe compatibilidade entre os dois MASqt utilizados:

no método PRAT, com escala de 5 níveis, as 21 situações foram distribuídas por quatro níveis:

- nenhuma obteve a classificação de nível 1 (ou seja, são requeridas ações imediatamente);

- 1 obteve a classificação de nível 2 (ou seja, são requeridas ações ou medidas de supervisão antes de 1 dia);

- 7 obtiveram a classificação de nível 3 (ou seja, são requeridas ações ou medidas de supervisão antes de 1 mês);

- 4 obtiveram a classificação de nível 4 (ou seja, são requeridas ações ou medidas de supervisão antes de 1 ano);

- 11 obtiveram a classificação de nível 5 (ou seja, não são necessárias ações imediatas, mas é requerida vigilância dos eventos).

no método DRAM, com escala de 6 níveis, as mesmas 21 situações foram distribuídas pelos seguintes 4 níveis:

- 1 obteve a classificação de nível 1 (situação rejeitável – risco inaceitável);

- 9 obtiveram a classificação de nível 3 (situação censurável – risco deve ser reduzido);

- 7 obtiveram a classificação de nível 4 (situação indesejável – risco deve ser reduzido);

- nenhuma obteve as classificações de nível 5 (situação aceitável - risco requer vigilância) e 6 (situação aceitável).