II. METODOLOGIA
3. DESCRIÇÃO DOS MÉTODOS UTILIZADOS
3.4. M ÉTODO DE WTF
O método de William T. Fine (WTF), publicado há mais de 30 anos (Fine, 1971), tem sido objeto de várias traduções e adaptações (Cabral & Veiga, 2009; INSHT, 1984) A utilização deste método pareceu-nos adequada na medida em que satisfaz alguns dos pressupostos, apontados na literatura, importantes na definição quantitativa do Nível de Risco, nomeadamente, o facto de ter em consideração três fatores:
a Gravidade/Severidade das Consequências (S) (Høj & Kröger, 2002);
a Probabilidade/Possibilidade (P) de que alguém irá ser afetado pelo perigo (Woodruff, 2005);
Para a realização deste estudo foi utilizada a versão apresentada por Cabral e Veiga (2009), por se tratar de uma referência acessível a todos os profissionais que trabalham na área da prevenção dos riscos profissionais.
Uma das diferenças encontradas entre esta publicação e a original reside na escala do Índice de Risco, que apresenta 5 níveis, ao contrário dos 3 níveis originais. Esta diferença pareceu-nos útil, já que o método se assemelha ao método de matriz composta – P, quer na determinação da variável Magnitude do risco (R) (embora com menos uma variável envolvida), quer na dimensão da escala do Índice de Risco.
Tal como referido no Quadro 4, é um método de Avaliação de Risco que recorre ao conhecimento de 3 variáveis distintas, aqui designadas por Fator consequência (C), Fator exposição (E) e Fator probabilidade (P).
Cada uma das 3 variáveis (C, E e P) é analisada com recurso a escalas de 6 níveis. Nos Quadros 16, 17 e 18 apresentam-se os níveis e os descritores associados a cada uma das variáveis em análise.
À semelhança de outros métodos, o método WTF prevê uma classificação das consequências em termos de danos pessoais e materiais. Contudo, tendo em conta os objetivos deste trabalho, foram apenas consideradas as primeiras.
É de salientar que neste método, sempre que se considerar que uma dada situação não se enquadra em nenhum dos códigos sugeridos, mas sim no seu intervalo, pode optar-se por atribuir um código diferente.
Por exemplo, na escala de Fator consequência (Fc) do 1º nível ao 6º nível correspondem os valores 1, 5, 15, 25, 50 e 100, respetivamente. Contudo, o analista pode considerar que perante a situação que está a avaliar, nenhum dos valores é adequado para caracterizar a mesma, optando por atribuir um valor intermédio do tipo 3, 8, 20, 35 ou 75, só para exemplificar alguns em cada um dos intervalos. A mesma situação é válida para as restantes variáveis usadas pelo método.
Quadro 16 – Escala de Fator consequência (C) – Método WTF.
Fator consequência (C)
100 Catastrófico – Muitas vítimas mortais. 50 Vários mortos.
25 Morte – acidente mortal. 15 Lesões Graves – Incapacidade
permanente / Amputação.
5 Lesões com baixa – Incapacidade temporária. 1 Pequenos ferimentos – Lesões ligeiras; contusões, golpes, etc.
(adaptado de Cabral e Veiga (2009))
Quadro 17 – Escala de Fator exposição (E) – Método WTF.
Fator exposição (E)
10 Contínua – muitas vezes/dia.
6 Frequente – aproximadamente 1vez/dia. 5 Ocasional – > 1 vez/semana a <
1vez/mês.
4 Irregular – ≥ 1 vez/mês a < 1 vez/ano.
1 Raro – sabe-se que ocorre, mas com baixíssima frequência. 0,5 Pouco provável - Não se sabe se ocorre mas é possível que possa
ocorrer.
(adaptado de Cabral e Veiga (2009))
Quadro 18 – Escala de Fator probabilidade (P) – Método WTF. Fator probabilidade (P)
10 Muito provável Acidente como resultado mais provável e
esperado, se a situação de risco ocorrer.
6 Possível É muito possível que ocorra, Acidente como
perfeitamente possível. Probabilidade de 50%.
3 Raro É raro que aconteça; Acidente com incidência
rara. Probabilidade de 10%.
1 Repetição improvável Já aconteceu mas é difícil que se repita; Acidente com incidência remotamente possível. Sabe-se que já ocorreu. Probabilidade de 1%.
0,5 Nunca aconteceu Acidente como incidência extremamente
remota.
0,1 Praticamente impossível Acidente como praticamente impossível. Nunca aconteceu em muitos anos de exposição.
O produto da classificação das 3 variáveis dá a Magnitude do risco (R), que neste método é designada por Grau de perigosidade (GP). Para facilitar a leitura e respetiva relação entre as várias escalas, iremos manter a terminologia de Magnitude do risco (R).
A equação (Eq. 3) traduz o processo de determinação da Magnitude do risco (R).
R = C * E * P (Eq. 3) onde: R = Magnitude do risco; C = Fator consequência; E = Fator exposição; P = Fator probabilidade.
A escala varia entre 0,05 (situação ótima) e 10 000 (situação péssima).
Para a determinação das prioridades de intervenção recorre-se à escala de Índice de Risco disponibilizada e que é apresentada no Quadro 19.
Quadro 19 – Índice de Risco e Prioridade de Intervenção segundo a Magnitude do risco (R) – Método WTF.
Magnitude do
risco Índice de Risco Prioridade de intervenção
≥ 400 1 Grave e iminente Suspensão imediata da atividade perigosa.
[200 – 400[ 2 Alto Correção imediata.
[70 – 200[ 3 Notável Correção necessáriaurgente. [20 – 70[ 4 Moderado Não é urgente, mas deve corrigir-se.
Este método apresenta uma particularidade, face aos demais, que se traduz na possibilidade de apresentar uma Justificação das medidas a implementar (J) a partir de uma Relação Custo -benefício estabelecida pela equação (Eq. 4).
J = R / (fc * gc) (Eq. 4)
onde:
J = Justificação das medidas a implementar; R = Magnitude do risco;
fc = Fator custo – traduz o custo expectável da intervenção;
gc = Grau de correção – traduz aquilo que é expectável reduzir em termos da Magnitude do risco (R), com a implementação das medidas contempladas no Fator custo (fc).
A determinação das variáveis Fator custo (fc) e o Grau de correção (gc) é efetuada com o auxílio das classificações propostas nos Quadros 20 e 21.
Quadro 20 – Fator custo (fc) – Método WTF. Fator custo (fc) 10 > 2 500 € 6 De 1 250 € a 2 500 € 4 De 675 € a 1 250 € 3 De 335 € a 675 € 2 De 150 € a 335 € 1 De 75 € a 150 € 0.5 <75 €
(adaptado de Cabral e Veiga (2009))
Quadro 21 – Grau de correção (gc) – Método WTF.
Grau de correção (gc) 1 Risco completamente
eliminado
2 Risco reduzido em 75% 3 Risco reduzido entre 50 a 75% 4 Risco reduzido entre 25 a 50% 6 Ligeiro efeito sobre o risco (adaptado de Cabral e Veiga (2009))
Determinado o valor de J, com auxílio da equação (Eq. 4), procede-se à sua interpretação de acordo com o Quadro 22.
Quadro 22 – Índice de Justificação (J) versus Grau de atuação – Método WTF.
J Grau de atuação
≥ 20 Muito Justificado. [10 – 20[ Provável justificação.
< 10 Não justificado. Reavaliar a medida proposta.
(adaptado de Cabral e Veiga (2009))
Tendo presentes os objetivos do nosso estudo, a determinação das variáveis Justificação das medidas a implementar (J), Fator custo (fc) e Grau de correção (gc) não foram contempladas.