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Compartilhando conhecimentos: a influência do porteiro

1. ORGANIZANDO O REPERTÓRIO DA FAMOSA

6.3. Compartilhando conhecimentos: a influência do porteiro

O segundo tópico encontrado na pesquisa mostra a influência da minha história de vida e formação na educação musical dos componentes da FANMOSA, evidenciando as contribuições e limitações expostas por essa proximidade durante o processo de formação nas aulas, ensaios e apresentações. Diante das descobertas apontadas até agora, ficou a curiosidade de saber como a minha trajetória teve influência nessas formações e como foram percebidas na aproximação com a FANMOSA. Silva (2011, p. 35) aponta um dos caminhos que me conduziram para a prática docente dizendo que:

[...] os estudos sobre a prática docente – cuja metodologia é a reflexão da prática docente exercida pelo agente que a efetiva – devem estar em um bom caminho. Sobretudo porque os hábitos é uma estrutura estruturada estruturante. Ou seja, um hábito pode ser reestruturado com outras práticas, configurando um outro hábito. 60

Acredito que a minha história de vida e trajetória influencia fortemente na formação musical dos componentes da Fanfarra Moreira de Sousa, desde o primeiro contato que tive no ano 1995, pois naquele momento a fanfarra estava passando por uma crise entre a direção do colégio e a organização da banda. Neste momento fui convidado para tocar com eles em uma procissão para reforçar o elenco e, a partir daquele momento, os componentes tiveram a oportunidade de vivenciar outras ideias e outras possibilidades nascentes de mim, que os encorajaram como tendo sangue novo na caminhada, que os permitiram almejar novos caminhos para o futuro incerto da Fanfarra do Colégio Moreira de Sousa.

Hoje percebo que aquela participação discreta, deu uma pequena contribuição para formação daqueles componentes, e que de alguma forma, tornou possível a transformação de

um problema em esperança para todos. Esta contribuição, sinestesicamente, os deixou gigantes diante daquele momento de turbulência, me apontando também a percepção de que com a minha ação estavam se abrindo portas, fazendo nitidamente a função do porteiro na formação daqueles componentes que mais tarde consolidariam essa posição com a minha participação efetiva na Fanfarra Moreira de Sousa.

Durante os mais de vinte anos de contribuição na Fanfarra Moreira de Sousa, percebi que alguns momentos mostraram a minha influência na formação dos componentes a partir das minhas intervenções nos ensaios e apresentações, que ao longo dos anos evoluiu e transformou os hábitos formativos desse agrupamento. Essas mudanças também foram percebidas em outras fanfarras da região que seguiram as mudanças e transformaram hábitos, nos permitindo olhar com uma visão ampla da questão, observando a abertura de portas que estávamos proporcionando para as fanfarras da região do Cariri.

Uma das minhas contribuições junto com os coordenadores da Fanfarra foi a inserção de um repertório variado com músicas populares atualizadas que enaltecem os componentes e o público, motivando-os a cada ensaio e apresentação. Isso porque, o repertório que executavam, acompanhava as tradições dos agrupamentos militares com marchas, dobrados e hinos que apontavam para esse campo militarizado, dosado de muitas tradições, impondo um poder simbólico enorme nas fanfarras que apontava regras e obediências nos seus agrupamentos.

A partir dessas mudanças, o olhar interno dos componentes da fanfarra e o olhar externo do público que acompanhava tudo de perto foram aguçados por novas possibilidades que e então foram fortificadas pelas criticidades desses olhares que permitiu ampliar possibilidades e nos tornou referência pela ousadia e coragem de quebrar paradigmas, tendo o cuidado de não extrapolar o bom senso, usando a bagagem e experiência de vida adquirida durante o processo formativo, como é observando por Silva (2005) quando fala que “a produção desse hábitos depende da qualidade teórica e cultural da formação dos professores, mas não é desenvolvido durante a formação, e sim durante o exercício profissional”.

Essa nova metodologia nos permitiu construir essas formações a partir do senso crítico que nos apontavam, tornando possível corrigir os nossos erros durante o percurso, ampliando a possibilidade de construir nos componentes o senso crítico na música com repertório de qualidade e de referências, como também na construção do cidadão a partir dos ensinamentos obtidos na fanfarra.

Com o novo formato do repertório, tornou-se necessário a inserção de novos instrumentos que também não fazia parte da formação tradicional das fanfarras. Os ritmos baianos como axé, samba-reggae e os pernambucanos frevo e maracatu, impulsionaram essas inserções, principalmente por serem ritmos oriundos da cultura africana que têm como característica os tambores com marcações fortes em seus ritmos. Então incluímos o timbale, a tímba, o repinique, a lira e outros instrumentos percussivos na fanfarra à medida que fomos sentindo a necessidade desses elementos sonoros no repertório.

Acompanhando esse movimento, passamos a trabalhar coreografias e evoluções com a fanfarra pela facilidade coreográfica das músicas que nos permitia tamanha ousadia já que até então, a ordem unida e marchas eram os principais elementos para as apresentações das fanfarras, construindo com isso um novo formato de apresentações no Cariri, dando a liberdade para os componentes conhecerem novas culturas construindo importantes elementos para suas formações.

Vejo que a maior contribuição durante todos esses anos foi poder construir com eles uma formação consciente e segura dos seus atos e deveres, buscando elementos que contribuíram para suas formações, os tornando pessoas autônomas, que expõe suas opiniões e conseguem criticamente construir a sua formação, ousando na sua musicalidade, agregando instrumentos e conhecendo culturas, como também avançando tecnicamente nas execuções, danças e movimentos das músicas nas suas apresentações, sendo assim um bom porteiro nessa abertura de portas e conhecimentos.