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1. ORGANIZANDO O REPERTÓRIO DA FAMOSA

4.1. Memórias históricas das fanfarras e suas origens

Não há como falar das fanfarras do cariri sem antes fazer uma viagem pela história e relatos dessas manifestações musicais tão antigas. Histórias essas que vem lá da Grécia Antiga, com as guerras e seus exércitos, chegando ao Brasil com a corte Portuguesa e seus regimentos militares, com as intervenções do maestro Villa-Lobos e o Decreto n° 19.890 na reforma do ensino básico no Brasil, com a formação da banda da Polícia Militar no Ceará e com a interiorização das bandas no Cariri começando pela cidade do Crato.

É muito complexo saber como se deu início a cultura de fanfarras no mundo. Sabe-se, porém que essas manifestações musicais são relatadas desde a Grécia Antiga pela utilização de instrumentos percussivos em movimentos em frentes de batalhas, com soldados músicos que marchavam e tocavam esses instrumentos para amedrontar os exércitos inimigos e assim conquistarem as vitórias das batalhas na Europa, conforme se vê em Santos (2013, p. 7):

Quando o exército se preparava para uma grande batalha na Europa, um soldado começou a bater no seu escudo com a espada produzindo um som ritmado e constante sendo seguido pelos seus companheiros, encorajando-os a batalha. Seu general, observando isso, ordenou que rapidamente preparassem instrumentos de couro e latão para um grupo de soldados com o objetivo de entrarem na batalha tocando aqueles instrumentos e música sendo um elemento surpresa para vencer a guerra. Os soldados músicos iam à frente de seu exército e o inimigo afugentava-se com som ritmado que eram acompanhados por gritos dos seus soldados enfurecidos que causava medo ao exército inimigos. Os comandantes e o governo vendo que isto era bom para a tropa, acreditaram no projeto, e depois de muito tempo ao longo da história, formou-se uma fanfarra completa e a partir de então foi espalhada pelo mundo todo.

Os relatos, portanto, falam em formações percussivas em sua origem, que ao passar dos tempos essa formação musical foi sendo copiada por outros regimentos e exércitos em vários países em todo mundo, por perceberem a grandeza e poder desse agrupamento diante das batalhas, como também várias explicações de suas formações e nomenclaturas.

A princípio foram grupos musicais informais ligados à atividade militar. Encontramos grupos musicais ambulantes no Egito Antigo, em Roma, no Oriente Médio, como na descrição bíblica de Josué no Antigo Testamento sobre a tomada de Jericó. Alguns historiadores falam que banda é o feminino de bando, que vem do latim e quer dizer bandeira. Estes grupos de músicas marchavam com a bandeira já modernamente. (HOLANDA FILHO, 2010, P. 22).

Com essas transformações, tornaram-se possíveis a ampliação e ingressão de outros instrumentos em suas formações, sendo incluídos instrumentos característicos de cada região como trombetas, pífanos, flautas, gaitas e instrumentos percussivos variados, tornando-se os modelos de Bandas de Música que conhecemos hoje.

A mais antiga banda de música organizada como tal, foi criada no Regimento dos Janízaros que era uma facção do Exército Turco, organizada no Século XVIII. Os Janízaros eram uma tropa especial criada em 1326, por Omar I, Sultão do Império Otomano. Constitui-se os Janízaros os primeiros soldados regulares, uma “Tropa de

Linha”. Possuíam uniformes e foram inspirados na Guarda Pretoriana de Roma.

Com a invasão dos turcos ao Império Austro-Húngaro, a Alemanha, criou uma banda de música, copiada dos turcos, posteriormente a França também cria uma banda de música no corpo militar (...) A banda, composta de instrumentos de percussão e sopro, com uma estrutura semelhante à que existe hoje, teve este nome adotado na Itália. Foi dado o nome aos grupos militares compostos de instrumentos de sopro e percussão, que juntamente com a bandeira nacional, marchava à frente dos exércitos, conduzindo os mesmos ao local desejado. (HOLANDA FILHO, 2010, P. 22, 32).

Com o passar dos tempos, devido à importância simbólica e a instrumentação que cada agrupamento representava para seus exércitos, as formações foram se modificando, ganhando nomes e apelidos que passaram de fanfarra para banda, de banda para filarmônica, de filarmônica para orquestra, dentre outras nomenclaturas que são atribuídas a elas.

A fanfarra foi ganhando corpo, personalidade e em algum momento da história, a fanfarra cruzou-se com a banda de música e perdeu a sua força, passando a ser um seguimento com pouca importância pela sua simplicidade na formação, limitando-se a movimentos escolares ou momentos pontuais da vida das pessoas.

Aconteceu um cruzamento simbólico no qual, ao longo da história, a fanfarra passou de grande representante da força militar nas conquistas de batalhas, para apenas a representante de um momento simbólico das escolas ou movimentos estudantis que vemos hoje. Esse cruzamento permitiu que as fanfarras evoluíssem e assumissem outros segmentos, porém ainda hoje ela pode não ser a mesma do passado, detentora desse poder estabelecido pelas sociedades, mas que, no entanto, tem o mesmo poder simbólico do que as outras representações pelo trabalho e a seriedade que é postada pelos seus alunos, professores e dirigentes.

O certo é que essa cultura foi se propagando e tomando proporções nunca imaginadas, que a propósito, é detentora de um poder simbólico enorme, que ao longo do texto iremos tentar dialogar, desvendar e discutir, no sentido de que as fanfarras sejam melhor compreendidas, e talvez um dia, sejam reconhecidas pelo seu poder simbólico e educacional.