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3 MATERIAL E MÉTODOS

7.3 OS PRINCIPAIS PONTOS DE DESCARGA DOS AQÜÍFEROS

7.3.3 Compartimento Hidrogeológico da Faixa Tamanduá-Mutuca

7.3.3.1 Nascentes do manancial de Fechos (Casa de Bombas – P77 e P79)

Correspondem a três nascentes localizadas no córrego de Fechos e distanciadas de cerca de 100 m. Relacionam-se a filito da unidade confinante Batatal (P77) e a rocha dolomítica provavelmente do aqüífero Gandarela (P79). Além dessas, ocorrem três nascentes de vazões medianas a reduzidas, na mina de Tamanduá ou em seus arredores, denominadas de João Rodrigues, Capão da Serra e Meloso (P58), todas afetadas pela atividade minerária.

A maior permeabilidade dos filitos na faixa é inicialmente revelada pela ocorrência de pequenas exsudações ao longo do plano de foliação e de fraturas que chegam a formar localmente pequenos jorros. As duas nascentes principais situam-se em vertentes opostas do curso d’água e têm como principal característica a formação de depósitos argilosos amarelados em suas imediações. Apresentam águas de caráter redutor que se deve à presença de quantidade expressiva de sulfetos disseminados, especialmente, pirita.

A nascente em camada dolomítica provém de uma gruta de extensão não avaliada. A vazão média total nesse trecho do córrego de Fechos, obtida pela subtração dos valores medidos em vertedores localizados a montante e jusante, é de 214 m3/h.

7.3.3.2 Nascente do Meloso (Mina do Tamanduá – P58)

Esta nascente localiza-se no interior da cava da mina do Tamanduá tendo sido seu ponto original de descarga alterado pela evolução da mina e atualmente encontra-se encoberto por uma pilha de blocos de hematita e itabirito. À montante do local atual onde a água surge encontram-se bermas escavadas em hematita compacta fraturada que parece ser a rocha da qual o fluxo é proveniente.

A poucos metros da fonte, ocorre dique de rocha básica posicionada discordantemente do bandamento do itabirito. A proximidade dessa rocha de baixa permeabilidade é relacionada, nas avaliações hidrogeológicas efetuadas para a mina, como condicionante da nascente. Medida efetuada no ponto de descarga, em abril de 2005, revelou vazão reduzida de valor em torno de 5 m3/h.

7.3.4 Discussão dos Resultados

Os levantamentos de campo realizados evidenciaram o condicionamento das descargas dos aqüíferos Cauê e Gandarela nas estruturas de descontinuidade das rochas representadas pelo acamamento que produz, pela variação composicional, uma dissolução diferencial e pelas fraturas e falhas geradas no pré-Cambriano e eventualmente reativadas em eventos tectônicos recentes. Grande parte das surgências do aqüífero Cauê ocorre junto aos contatos com as unidades de topo ou de base (Formações Batatal e Moeda) em pontos de dissecação profunda de relevo que expõem o nível de base local.

É evidente pela análise dos diversos documentos que tratam dos recursos hídricos subterrâneos nessa região a incerteza quanto ao comportamento hidrogeológico da Formação Gandarela composta principalmente por dolomitos. Registros de carstificação são citados tanto no Homoclinal da Serra do Curral quanto no Sinclinal Moeda, com pontos localizados de maior expressão. É muitas vezes classificada como um aquitarde ou aquiclude, mas nos modelos elaborados para a mina Córrego do Feijão (no Homoclinal; ÁGUA CONSULTORES, 2001a e 2002a) e Pau-Branco (no Sinclinal; ÁGUA CONSULTORES, 1999, 2001b, 2001c) foi tratada como um aqüífero de potencial inferior ao Cauê e em conexão hidráulica a este. Para a área adjacente à mina do Capão Xavier, a unidade Gandarela foi considerada por Rubio (1995 e 1996, apud Lazarim, 1999) como um aquífero localmente de elevada capacidade de transmissão, equiparável às hematitas. Lazarim (1999) adotou para os dolomitos carstificados nesse mesmo local, condutividades hidráulicas bem superiores àquelas dos minérios friáveis, ressaltando a existência de conexão hidráulica entre os aquíferos Cauê e Gandarela.

O papel da Formação Batatal como aquiclude chega a ser quase um consenso geral, apoiado pelos dados dos conjuntos de piezômetros instalados nas cercanias das minas. Heterogeneidades locais podem gerar porções de maior permeabilidade, como no caso das intercalações de chert e a percolação de águas pelas superfícies de foliação e de fraturas em porções mais tectonizadas.

As barreiras hidráulicas constituídas pelos diques básicos representam um outro aspecto interessante a ser analisado. Estes diques são encontrados compartimentando o sistema aqüífero Cauê em praticamente todas as minas de ferro. Não obstante serem tratados como aquicludes, no modelo de fluxo elaborado para os blocos (compartimentos) delimitados na Faixa Tamanduá-Mutuca (ECOLAB, 2002) alguma drenança é presumida, pois o fluxo

principal se dá na direção do córrego de Fechos. Na mina do Pau-Branco, o rebaixamento do nível d’água revelou a não formação de barreira hidráulica pela faixa de rocha básica intrusiva (ÁGUA CONSULTORES, 2001b).

As diferenças pronunciadas nos níveis piezométricos, a curtas distâncias, são interpretadas comumente como indicativas da existência de rochas muito impermeáveis (diques básicos ou filitos) que compartimentariam o aquífero. Interpretação distinta foi dada por Lazarim (1999) na região do Platô do Jardim Canadá que atribuiu a esse aspecto o monitoramento em pontos diferenciados do sistema de fluxo do aquífero refletindo áreas de recarga, marcadas por fluxos descendentes e níveis mais profundos, e áreas de descarga, com fluxos ascendentes e níveis mais rasos. Esta interpretação, para o Platô do Jardim Canadá, foi comprovada com o início do rebaixamento da mina de Capão Xavier (MBR, 2007). É provável que as duas situações sejam encontradas na área.

A influência das estruturas tectônicas como condutos de água subterrânea e na ruptura de barreiras hidráulicas é, no geral, pouco discutida. Descrevem-se falhamentos transcorrentes e fraturas no homoclinal Serra do Curral (ÁGUA CONSULTORES, 2002a) indicando possibilidade de conexão hidráulica do sistema aqüífero Cauê com os sistemas dolomítico (Gandarela) e quartzítico (Cercadinho). A uma zona de falha localizada junto ao eixo do Sinclinal Moeda atribui-se a abertura do Platô da Moeda, que se encontrava preservado e fechado após períodos de dissecação, pela implantação do Córrego Capitão da Mata/Rio do Peixe (MEDINA et al., 2005) que constitui ponto de descarga importante do aqüífero Cauê no setor oriental.

As coberturas são invariavelmente referidas como de alta permeabilidade às quais denota-se significativa importância para a recarga dos aqüíferos sotopostos, o que é comprovado pelas rápidas oscilações dos níveis piezométricos com as chuvas e pelos estudos isotópicos realizados nas adjacências da mina do Córrego do Feijão.

Verifica-se que os valores de recarga introduzidos nos modelos numéricos exibem grande imprecisão e variam de 100 a cerca de 1.790 mm/ano.

Por fim apresenta-se uma estimativa das vazões médias para as descargas naturais ou induzidas por galerias para o aqüífero Cauê nos diversos compartimentos (Tabela 7.4). A FIG. 7.1 reúne fotos de algumas nascentes.

Tabela 7.4 - Vazões totais para as descargas do aqüífero Cauê nos grandes compartimentos hidrogeológico.

Homoclina da Serra do Curral Sinclinal Moeda Segmento

Nordeste

Junção com o Sinclinal

Segmento

Sudoeste Flanco Oeste Flanco Leste

Faixa Tamanduá- Mutuca Nascent e Vazão (m3/h) Nascente Vazão (m3/h) Nascente Vazão (m3/h) Nascente Vazão (m3/h) Nascente Vazão (m3/h) Nascente Vazão (m3/h) Cor. Fazenda Nascente 85,0 Rola Moça 364,0 VT55 86,0 Catarina Principal 324,0 Fechos Auxiliar 164,0 Fechos Elevató- ria 214,0 Cor. Fazenda Galeria 72,0 Taboões 570,0 VT33 66,0 Catarina Auxiliar 197,0 Angu* 2 58,0 João Rodri- gues 30,0 Tunel Ferrovia 35,0 Bálsamo 173,0 VT60 87,0 Miguelão BR040 120,0 Rio do

Peixe*1 200,0 Capão da Serra*1 62,0

Nascente Taquaril 92,0 Leste*2 50,0 Miguelão Portaria C 73,0 Trovões 259,0 Meloso*2 53,0 Águas

Claras*2 72,0 Jequi-tibá*2 94,0 Tutaméia 159,0 Cata Branca*2 123,0

Alto Barreiro (VT07/9 6CPX 67,0 Rio Parao- peba 956,0 Retiro Mãe d’água 172,0 Bugre*2 9,4 Mutuca Auxiliar 170,0 Retiro Capitão Valente 158,0 Estância da Serra*1 50,0 Suzana*1 100,0 Clube Serra da Moeda*1 100,0

TOTAL 643,0 TOTAL 1107,0 TOTAL 1339,0 TOTAL 1403,0 TOTAL 813,4 TOTAL 359,0

*1 - vazão estimada; *2 - suprimida ou afetada pela atividade mineral, vazão estimada ou correspondente ao período anterior à alteração.