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3 MATERIAL E MÉTODOS

5.1 GEOLOGIA DO QUADRILÁTERO FERRÍFERO

5.1.2 Arcabouço Estrutural

5.1.2.1 Morfotectônica mesozóica e cenozóica

A análise da evolução tectônica do Quadrilátero Ferrífero durante o Fanerozóico mostra-se importante quando se considera que os principais fatores que controlam a circulação e o armazenamento de água subterrânea em rochas de baixa porosidade primária referem-se às falhas e fraturas que podem ser geradas ou reativadas nesse longo espaço de tempo. Outro aspecto de especial interesse corresponde ao papel desempenhado pelas estruturas (reativadas ou geradas) na evolução do processo de gênese do minério de ferro e que envolve a geração de alta porosidade intersticial em rocha originalmente de porosidade fissural.

Uma das feições notáveis da morfologia do Quadrilátero Ferrífero é que todo o conjunto encontra-se sobrelevado (tectonicamente soerguido) com intervalo de altitude entre 900 e 1.000 m, podendo alcançar 1.500 m em alguns trechos e até mais de 2.000 m, como na Serra do Caraça. Como sugerido por Varajão (1988), o Quadrilátero Ferrífero constitui um mosaico formado por províncias geomorfológicas ligadas diretamente às condições estruturais, nas quais variações altimétricas e a declividade das vertentes relacionam-se a variações litológicas.

Como principais traços fisiográficos da área podem-se citar (SAADI, 1991): i) grande escarpa (Serra do Curral) de direção SW-NE (com 100 Km de comprimento e altura superior a 200 m e exposição para NW) que constitui um hogback e provavelmente, uma escarpa de falha; ii) os Sinclinais Moeda e Gandarela de direção geral NNW-SSE, relativamente planas, suspensas e localmente entulhadas de depósitos cenozóicos; e iii) a depressão NNW-SSE escavada pelo rio das Velhas, num eixo de caráter antiformal. Estas feições de relevo indicam que o conjunto litoestrutural da região foi submetido a variações climáticas e a atividade erosiva desde o Proterozóico, com nítido controle litoestrutural (VARAJÃO, 1991).

Admite-se que o Quadrilátero Ferrífero foi afetado por soerguimentos epirogenéticos e falhamentos relacionados à tectônica distencional pós-cretácica cujos indícios consistem de (SAADI, 1991 e VARAJÃO, 1991): i) idade eocênica das bacias terciárias Gandarela e Fonseca ii) evidências cinemáticas distensivas encontradas em falhas de empurrão

pré-cambrianas; iii) o reentalhamento da drenagem e o rejuvenescimento do relevo, com fenômenos de captura associados e realce das estruturas através dos relevos invertidos. Há um consenso entre os autores que o maciço correspondeu a uma área de forte soerguimento epirogenético durante o Mesozóico e o Cenozóico tendo sido estimado por King (1956; apud VARAJÃO, 1988) que os valores acumulados das compensações isostáticas positivas, desde o final do ciclo pós-Gondwana, alcançam 1.094 m na região de Itabirito.

De acordo com Barbosa (1980) a serra do Caraça, testemunho de superfície cimeira, apresenta as mais altas elevações (cotas entre 1.500 e 1.600 m) devido a processos de reativação neotectônica em que se ressalta o papel relevante assumido pelos sistemas de falhas no processo de esculturação do relevo. Os topos residuais das cristas dos sinclinais da Moeda e do Gandarela e da estrutura homoclinal da serra do Curral (cotas entre 1.308 a 1.600 m) seriam resultantes de uma segunda geração de aplainamento configurando um dos mais importantes registros da evolução da paisagem, a inversão do relevo, onde as estruturas dobradas refletem morfologias de sinclinais suspensos e anticlinais escavados. Considera-se que após esses eventos de aplainamento e período de dissecação o Plateau da Moeda tenha permanecido preservado e foi aberto, em períodos pós-pliocênicos, pelos ribeirões Mata Porcos, Capitão do Mato e córrego dos Fechos, condicionados por uma zona de falha localizada próximo ao eixo da estrutura sinclinal (MEDINA et al., 2005).

Estes aspectos são reforçados por Medina et al. (op. cit.) que admitem a formação da paisagem geomorfológica regional durante um período geológico mais recente (Neogeno e Quaternário) atestando o papel expressivo da tectônica Cenozóica no Quadrilátero Ferrífero que se revela pelo ajuste da rede de drenagem ao nível de base regional e pelas capturas de drenagem nos sinclinais suspensos que teriam ocasionado o esvaziamento de paleolagos. Estas últimas feições têm interesse particular no estudo da dinâmica de fluxo subterrâneo na área, visto que os pontos de abertura dos sinclinais pelo processo de captura de drenagem representam pontos importantes de descarga do aqüífero de maior potencial na região (aqüífero Cauê).

Saadi (1991) em estudo a respeito da morfotectônica em Minas Gerais advoga para a região do Quadrilátero Ferrífero que os esforços tectônicos registrados foram compressivos na direção E- W no neo-cretáceo e trativos SW-NE (provavelmente compressivos SE-NW) no Cenozóico o que pode indicar a possibilidade de reativação das estruturas proterozóicas E-W e NE.

Evidências de falhamentos afetando sedimentos terciários e superfícies de aplainamentos foram percebidas por Gorceix (1884, apud MEDINA et al., 2005) e RADAMBRASIL (1983).

Estudos mais recentes (MAGALHÃES e SAADI, 1994 e MARQUES et al, 1994; apud MEDINA et al, 2005) apontam a ocorrência de movimentos tectônicos durante o Pleistoceno em virtude da constatação de anomalias de perfis longitudinais de terraços dos rios das Velhas e Paraopeba e que se relacionam a falhamentos nos contatos entre os três principais compartimentos morfoestruturais regionais: o Quadrilátero Ferrífero, a Depressão de Belo Horizonte e a Bacia do Bambuí. Maizatto (2001) demonstra que formação e evolução dos depósitos sedimentares das bacias Gandarela e Fonseca foram conduzidos durante o Oligoceno, período marcado por intensa atividade tectônica de caráter extensional, responsável pela geração de falhas sindeposicionais e de altos e baixos estruturais.

Magalhães (2002; apud RIBEIRO, 2003) ao estudar os depósitos cenozóicos na Mina de Águas Claras, afirma que estes depósitos têm condicionamento estrutural ligado a falhamento e à evolução do relevo. Quanto a este aspecto é interessante notar os limites retilíneos dos depósitos de cobertura que ocorrem na extremidade sudoeste da Serra do Curral.

Trabalho importante sobre a evolução neotectônica do Quadrilátero Ferrífero foi realizado por Lipski et al. (2001) em que os autores, a partir da análise de 14 depósitos sedimentares identificaram três eventos neotectônicos (D1, D2 e D3) sob campos de tensões distintos. O evento D1, iniciado no Oligoceno-Mioceno, teria ocorrido sob regime trativo com o eixo de tensão máximo orientado segundo NNE-SSW que ocasionou a geração de um sistema de estruturas WNW-ESSE correspondentes a grabens e horsts. Foi verificado localmente campo de compressão WNW-ESSE, induzido pela movimentação de blocos do embasamento, que desenvolveu falhas de componentes direcionais de movimento. São relatados grandes lineamentos regionais (falhas normais com eventuais componentes direcionais) de direção E- W associados a esse evento. O evento D2, de idade mínima Pliocênica e caráter compressivo, deformou os sedimentos segundo as direções E-W e NW-SE e reativou as estruturas pré- cambrianas, de orientação E-W, como falhas direcionais dextrais e, com menor freqüência, sinistrais. O evento D3, também do Plioceno, caracteriza-se pelo alívio das tensões geradas em D2 com regime de tensão radial no setor ocidental do Quadrilátero Ferrífero e de direção WNW-ESSE na porção ocidental. Manifesta-se como planos de deslizamento tanto nas estruturas do embasamento quanto naquelas geradas previamente nos sedimentos.

Lipski et al. (2001) destacam também a influência das descontinuidades crustais pré- cambrianas no controle das orientações dos campos de tensões locais e a reativação das estruturas, em especial as de orientação E-W, chegando a afetar até mesmo as coberturas lateríticas dos depósitos sedimentares.