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4 UNIDADES LITOESTRATIGRÁFICAS E GEOMORFOLÓGICAS DA SERRA DE

4.2.3 Compartimentação Pedológica da Serra de Martins

4.3.2.1 Compartimento pedológico da Depressão

O compartimento pedológico da Depressão foi formado a partir do agrupamento dos pontos 1, 4, 11, 16 e 18. Estes se encontram inseridos predominantemente no contexto geológico das unidades litoestratigráficas Suíte Poço da Cruz (metamonzonitos) e Formação Jucurutu (rocha calcissilicática, biotita gnaisse-xisto, mármore e muscovita-quartzito). Nos aspectos geomorfológicos, dominam as superfícies aplainadas erodidas pouco movimentadas, com relevo suave ondulado a ondulado e presença de elevações remanescentes (residuais) típicas da Depressão Sertaneja, com cotas altimétricas abaixo de 270 metros.

Dentre as propriedades físicas, destaca-se a grande proporção de areia encontrada, sendo 554 g.kg-1 e 795 g.kg-1 o mínimo e máximo, respectivamente, como também significativos valores de silte, atingindo 406 g.kg-1, constituindo a textura franco arenosa, e, portanto, caracterizando os solos de acordo com composição granulométrica de textura média. Os valores de silte encontrados podem ser interpretados como um indicativo da ação do intemperismo físico predominante no clima semiárido, que atua degradando as rochas, transformando-as em partículas menores. Elucida-se a importância do material originário assumido na pedogênese, já que as rochas presentes nas unidades litoestratigráficas Poço da Cruz e Jucurutu, de composição mineralógica predominante de quartzos, feldspatos e plagioclásios, originaram solos com altos percentuais de areia e silte. Porém, é necessário apresentar outra hipótese: a de que os solos da Depressão podem ter sido originados de materiais provenientes dos morros isolados de origem cristalina, denominadas coberturas pedimentares. Pela atuação dos processos de meteorização física, as rochas que constituem os morros isolados desagregam-se e, posteriormente, são carreadas a curta distância e acumulam- se no entorno daquelas elevações. Com efeito, tem-se a formação de solos originados a partir de materiais considerados pseudo-alóctones.

Com relação às propriedades químicas, inicia-se discutindo a acidez ativa que revelou solos alcalinos com valores de pH acima de 7, segundo Buol et al. (1980), valores de pH entre 6,5 e 8,0 indicam solos completamente saturado por bases. Lepesch (2011) afirma que os solos de regiões semiáridas são naturalmente neutros ou alcalinos, em virtude da ausência de lixiviação intensa. No tocante à acidez potencial, contrariamente, a maioria destes apresentou valor 0, considerados alcalinos fracos. Conforme observado, sugere-se que os solos alcalinos favorecem a precipitação do alumínio na forma de hidróxido, justificando-se assim os baixos valores de Al 3+ encontrados nesses pontos.

Os solos localizados nesse compartimento apresentaram elevada disponibilidade de P, acima de 75,0 mg.dm-3, provavelmente oriundo de fontes naturais de rochas alcalinas, ricas em minerais fosfáticos como apatita, monazita, xenotímio e piromorfita, cuja disponibilidade sugere uma relação entre esse elemento e o pH do solo, tendo em vista que a maior disponibilidade ocorreu em áreas de pH alcalino, sendo justificado por Souza et al. (2007) que a redução da acidez do solo promove a insolubilização de Al e Mn e aumenta a disponibilidade de P.

Quanto ao complexo sortivo, foram evidenciadas, nesse compartimento pedológico, elevadas concentrações nos elementos Ca2+ e Mg2+. Conforme visto, esses solos se caracterizam por alcalinidade fraca (pH > 7,0) e teor de Al 3+ igual a 0, o que naturalmente tende a aumentar a disponibilidade dos elementos em questão, além da influência dada pelo material de origem, Meurer (2007) destaca que o mineral primário feldspato tem acentuada importância para o crescimento das plantas, atuando como uma fonte de Ca e K. Tendo em vista a importância que os elementos Ca2+ e Mg2+ desempenham na SB, salienta-se que acompanhou a mesma realidade, sendo identificados os maiores valores nesses pontos. É possível ainda identificar a influência desses elementos nos valores de CTC, sendo as maiores encontradas no universo amostral, entendida como resultado da fraca alcalinidade, teor 0 de Al e alta concentração de Ca2+ e Mg2+. Os valores de CTC representam grande importância no tocante à retenção de cátions, nutrientes e água.

Outra variável importante na análise química é a saturação por bases (V), que fornece respostas quanto ao nível de fertilidade do solo. Os solos deste compartimento pedológico predominantemente apresentaram 100% de V, definidos por caráter eutrófico, segundo EMBRAPA (2013), em virtude de armazenarem significativas quantidades de cátions básicos, em especial o Ca2+. O caráter eutrófico aliado à alta CTC reflete diretamente na fertilidade desses solos, ou seja, apresentam alta capacidade de ceder nutrientes para as plantas, apresentando, portanto, boa fertilidade natural. Apresentam ainda percentuais baixos no tocante à saturação por Alumínio e quanto à saturação por Sódio são considerados como não sódicos ou normais.

A partir do exposto, afere-se que os solos que compõem o compartimento pedológico da Depressão, desenvolvidos em superfícies aplainadas e em baixas cotas altimétricas, menos de 300 m, apresentaram-se pouco profundos e com textura média. Destacaram-se no tocante aos elevados valores de pH, definido como alcalino e teor zero de Alumínio. As altas concentrações de Cálcio, Magnésio, Potássio e Sódio nesses solos acarretaram alta Soma de

Base, elevada Capacidade de Troca Catiônica e alta Saturação por Base, sendo classificados como eutróficos.

As análises físicas e químicas sugerem tratar-se de solos jovens, com boa disponibilidade de nutrientes, apresentando boa fertilidade natural, sem limitações às plantas. Tal fato reflete diretamente nas formas de uso que se verificam na área, como a agricultura e pecuária extensiva. Entretanto, o uso e manejo inadequado destes solos, promovendo a retirada constante de nutrientes pelas plantas cultivadas, como também as perdas por erosão devido ao mau uso, podem reduzir a disponibilidade de nutrientes às plantas, além de promover a degradação destes solos. Na área, identifica-se uma tendência natural aos processos erosivos, que se aceleram com as práticas agrícolas inadequadas, proporcionando erosão laminar, em sulcos e muitas vezes em ravinas.

Jacomine et al. (1971) caracteriza essa área a partir de uma associação entre o Argissolo Vermelho Amarelo Equivalentes Eutrófico, textura média, fase Caatinga hiperxerófila e relevo ondulado, Argissolo Vermelho Amarelo Equivalente Eutrófico, raso, textura média cascalhenta, fase Caatinga hiperxerófila e relevo ondulado e Luvissolo fase pedregosa, Caatinga hiperxerófila e relevo ondulado.

A ocorrência dos Argissolos está relacionada a áreas de relevo plano a montanhoso, desenvolvidos a partir de diversos materiais de origem. São solos medianamente profundos a profundos, tendo horizonte B textural com textura média a argilosa, abaixo de um horizonte A ou E, com textura arenosa ou média (EMBRAPA, 2013). Cunha et al. (2010) salienta que os solos que constituem esta classe apresentam reação ácida, com pH variando de 4,0 a 6,0 na camada superficial. Os valores para SB chegam a 8,9 cmolc.Kg-1 e a CTC apresenta valores

compreendidos entre 8,7 cmolc.Kg-1 e 13,4 cmolc. Kg-1.

Com relação aos Luvissolos, ocorrem em áreas de relevo suave ondulado, podendo ocorrer também em relevo forte ondulado, apresentando deficiência em água, sendo este o principal fator limitante para o uso agrícola. São solos rasos a pouco profundos, com horizonte B textural (horizonte resultante de acumulação de argila decorrente de processos de iluviação) de cores vivas e argila de atividade alta, apresentando horizonte A fraco, de cor clara, pouco espesso, maciço ou com estrutura fracamente desenvolvida. São moderadamente ácidos a neutros, com elevada saturação por bases. Apresentam frequentemente revestimento pedregoso na superfície (pavimento desértico) ou na massa do solo e normalmente possuem uma crosta superficial de 5 a 10 mm de espessura, além de altos teores de silte. São altamente susceptíveis aos processos erosivos, em virtude da grande diferença textural entre o horizonte A e o horizonte B e da atividade das argilas. São de elevado potencial nutricional decorrente

das altas quantidades de nutrientes disponíveis às plantas e de minerais primários facilmente intemperizáveis e são ricos em bases trocáveis, especialmente o potássio. (CUNHA et al., 2010; EMBRAPA, 2013; RIBEIRO et al., 2009).

Corroborando as características dos Argissolos Vermelho-Amarelo Equivalentes Eutróficos predominantes na área da Depressão na Serra de Martins (JACOMINE et al., 1971), tece-se algumas observações. Inicialmente, destaca-se a composição granulométrica encontrada nesses solos, que, a priori, parece ser indicativo das características de um horizonte A ou E. Para tanto, ao acatar essa hipótese, entende-se que, nesses pontos de coleta, o horizonte Bt diagnóstico, que caracteriza o Argissolo, não foi atingido. Salienta-se ainda que a pouca profundidade apresentada por esses solos pode ser um reflexo da forma como as coletas foram realizadas, a partir do trado de caneco. O uso desse instrumento acarreta dificuldade em se atingir maiores profundidades, quando da existência de algum tipo de impedimento físico.

Destaca-se também que o compartimento pedológico da Depressão, se configura enquanto uma área de acumulação de sedimentos, cobertura pedimentar, provenientes da degradação física das rochas que compõem as partes mais elevadas e transportadas para as partes baixas pela ação da gravidade e/ou escoamento hídrico de superfície, contribuindo para que as rochas areníticas típicas da Formação Serra de Martins se acumulam na área da Depressão, tornando-se o principal material de origem, o que sugere que a pedogênese se desenvolveu em material sedimentar transportado do Platô da Serra, formando solos alóctones.

Com relação aos valores de pH encontrados, os quais diferem dos valores típicos de Argissolos, é importante destacar a contribuição dada pelos mármores presentes na área. Conforme destacado por Ramos e Manzatto (1991), os valores de pH encontrados em solos de embasamento calcário estão sempre na faixa superior ao pH 7,0.

Assim, afere-se que os solos analisados apresentam características que mais se assemelham aos Luvissolos fase pedregosa, Caatinga hiperxerófila e relevo ondulado.

Ainda na área da Depressão Sertaneja, evidencia-se uma pequena mancha de Planossolo situada na porção Sudoeste da área de estudo.