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4 UNIDADES LITOESTRATIGRÁFICAS E GEOMORFOLÓGICAS DA SERRA DE

6.2.1 Cobertura da terra

6.2.1.1 Floresta Estacional Semidecidual

Segundo Salgado et al. (1981), a Serra de Martins abriga dois tipos de vegetação: Estepe e Floresta Ombrófila Densa. Silva et al. (2000) caracteriza a área a partir da ocorrência de Floresta Subcaducifólia nos topos e Caatinga Hipoxerófila nas encostas. Giulietti et al. (2004) enfatiza que na serra de Martins ocorre a vegetação de Caatinga, associada a Florestas Perenifólias. Assim, apesar da diferença entre as concepções apresentadas, é perceptível caracterizar-se a partir do componente vegetal típico da região semiárida, a Savana Estépica, e por outro tipo vegetal, a Floresta Estacional Semidecidual.

Segundo IBGE (2012), o conceito ecológico desse tipo florestal é estabelecido em função da ocorrência de clima estacional que determina semideciduidade da folhagem da cobertura florestal. Complementa que, na Zona Tropical, associa-se à região marcada por acentuada seca hibernal e por intensas chuvas de verão.

Nesta mesma pesquisa doutoral, foi realizada uma análise climática para o município de Martins-RN, com espaço-temporal de 30 anos, a partir dos elementos precipitação pluviométrica e temperatura. A partir destes foi gerado um balanço hídrico, evidenciando, ao longo do ano, seis meses de excedente hídrico e outros seis meses de déficit hídrico (ver capítulo 3). Portanto, pode-se apreender que essas particularidades climáticas da área de estudo se enquadram na característica acima descrita para regiões que apresentam características propícias para esse tipo vegetal.

Salienta-se que a ocorrência da Floresta Estacional Semidecidual está condicionada por fatores como maior umidade e menores temperaturas, altitudes elevadas (acima de 700 metros de altitude) e solos pedogeneticamente desenvolvidos, no caso o Latossolo Vermelho- Amarelo. Localizam-se na forma de fragmentos na parte plana do topo, a Chapada, e em algumas áreas situadas nas encostas, porém com altitudes bem expressivas. Atenta-se ainda que esses fragmentos, de ocorrência bastante pontual na Serra de Martins, foram fortemente alterados ao longo de tempo, atuando como testemunho de pretérita cobertura vegetal.

Para IBGE (2012), a explicação para a existência desse tipo vegetal reside no fato de que

reflete uma possível dominância uniforme de dois tipos climáticos passados: um muito antigo, que revestia os planaltos com altitudes bem mais elevadas do que os seus atuais resíduos, durante todo o Paleozoico até o fim do Mesozoico, e outro mais recente, iniciado no fim do Cretáceo e terminado no fim do Pliopleistoceno, justamente no auge do arrasamento, quando, é provável, ocorreram os depósitos fossilíferos de plantas angiospermas, como os de Maraú e Gandarela/ Fonseca, que espelham o atual quadro florístico da região nordestina.

Tendo em vista essas características, a área de estudo define-se como um “refúgio” estabelecido em área de relevo residual, testemunha do arrasamento a que foi submetido o relevo da região.

As espécies encontradas podem ser evidenciadas na tabela 08. Analisando a tabela abaixo, é possível apreender que a Serra de Martins, em termos fitogeográficos, é composta por espécies típicas de Floresta Estacional Semidecidual. As espécies definidas nesta classe vegetal têm ocorrência evidenciada em áreas geográficas do Brasil com características bem

particulares, destacando-se, dentre estas, a altitude, as formas de relevo e os elementos climáticos.

Tabela 2: Espécies da Floresta Estacional Semidecidual com ocorrência na Serra de Martins

Família Espécies Hábito

ASTERACEAE Wedelia calycina Rich. Arbóreo

CAPPARACEAE Cynophalla flexuosa (L.) J. Presl. Arbóreo

Crataeva tapia L. Arbóreo

EUPHORBIACEAE Sapium biglandulosum (L.) Mull. Arg. Arbóreo

FABACEAE Copaifera duckei Dwyer. Arbóreo

Inga marginata Willd. Arbóreo

Senegalia polyphylla (D.C) Britton e Rose Arbóreo

MALVACEAE Guazuma ulmifolia Lam. Arbóreo

Pseudobombax marginatum (A. St.-Hil.) A. Robyns Arbóreo

MYRTACEAE Myrcia fallax (Richard) DC. Arbóreo

POLIGONACEAE Coccoloba P. Browne Arbóreo

RUBIACEAE Borreria latifolia E. L. Cabral e Martins Arbóreo

Genipa americana L. Arbóreo

SALICACEAE Casearia decandra Jacq. Arbóreo

SAPINDACEAE Paullinia pinnata L. Arbóreo

Talisia esculenta (Cambess.) Radlk Arbóreo

SOLANACEAE Solanum rhytidoandrum Sendtn. Arbóreo

Fonte: elaborada pela autora, a partir dos dados de campo.

A descrição sobre a ocorrência das espécies vegetais desse tipo de formação, assim como para as demais foram obtidas no herbário virtual speciesLink. Este, caracteriza-se como um sistema distribuído de informação que integra em tempo real, dados primários de coleções científicas de várias partes do mundo. Encontra-se disponível em: http://splink.cria.org.br/.

A espécie Wedelia calycina Rich. ocorre em todo o Brasil, no entanto, destaca-se sua ocorrência em áreas transicionais entre os tipos de formação de Floresta Estacional Semidecidual e Floresta Ombrófila Montana, enfatizando os estados de São Paulo, Paraná, Goiás e Distrito Federal. No Nordeste, enfatiza-se sua ocorrência em Brejos de Altitude localizados nas serras de Merouca e Ibiapaba, no Ceará.

As espécies Cynophalla flexuosa (L.) J. Presl. e Crataeva tapia L. ocorrem nos estados do Rio de Janeiro, Santa Catarina, e Paraná dentro do contexto da Floresta Estacional Semidecidual-Decidual. Na região Nordeste, ocorre na Chapada Diamantina, na Bahia, em áreas florestais de Pernambuco, como o Brejo de Serra Negra-Bezerros.

Sapium biglandulosum (L.) Mull. Arg. se apresenta como um arbusto de aproximadamente 2 metros de altura, com ocorrência bem restrita, destacando-se os estados de São Paulo, Minas Gerais e Goiás.

As espécies Copaifera duckei Dwyer. e Inga marginata Willd. se fazem presentes em diversas áreas na região Sudeste do país, exibindo árvores que chegam a 20 metros de altura, pertencente aos tipos Floresta Estacional Decidual, Floresta Estacional Semidecidual e Floresta Ombrófila. Destaca-se a ocorrência no estado do Rio de Janeiro em áreas serranas (Teresópolis, Itatiaia e Serra dos Órgãos), bem como no estado de São Paulo (Itapeva e Serra da Cantareira). Na região Nordeste, sua ocorrência também está atrelada a elevadas cotas altimétricas, evidenciando-se na Bahia (Morro do Chapéu), Ceará (Serras de Baturité, Guaramiranga, Meruoca, Chapada do Araripe e Tiangá), na Paraíba (Areia) e no Pernambuco (Brejo da Madre de Deus, Taquaritinga do Norte e Garanhuns). Todas essas áreas são denominadas como Brejo de Altitude.

Senegalia polyphylla (D.C) Britton e Rose tem ocorrência em diversas partes do país, destacando-se, no contexto da Floresta Estacional Semidecidual, nos estados de São Paulo, Minas Gerais, Pará, Rondônia, Goiás, bem como em Brejos de Altitude situados no Nordeste, nos estados de Pernambuco (Triunfo) e Paraíba (Areia).

A espécie Guazuma ulmifolia Lam. ocupa áreas em diversas partes do Brasil, no entanto, salienta-se sua ocorrência no estado do Rio Grande do Norte, em áreas litorâneas (Baía Formosa e Mata Estrela, situada em Nísia Floresta), bem como na Chapada do Apodi. Com relação à espécie Pseudobombax marginatum (A. St.-Hil.) A. Robyns, o contexto de sua ocorrência está relacionado aos tipos vegetais de Carrasco, Cerrado e Floresta Ombrófila, presentes nas regiões Centro-oeste, Sul e Sudeste. No Nordeste do país, encontra-se em Brejos de Altitude do Ceará e Pernambuco.

A espécie Myrcia fallax (Richard) DC. apresenta ocorrência atrelada a áreas que apresentam capeamentos sedimentares, sejam Florestas Ombrófilas Montanas ou tipos vegetacionais não florestais como o Carrasco. No Nordeste, destaca-se o estado da Bahia (Morro do Chapéu, Pico das Almas e Serra da Jibóia) e no Ceará (Chapada do Araripe).

A espécie Borreria latifolia E. L. Cabral e Martins enquadra-se no tipo vegetal Floresta Ombrófila Densa, com ocorrência significativa nos estados da região Sudeste, com altitudes que ultrapassam os 1000 m. No contexto nordestino, salienta-se a ocorrência na Serra de Ubajara (Ceará).

A espécie Coccoloba P. Browne ocupa florestas ao longo do Nordeste brasileiro, na perspectiva da Floresta Estacional Decidual/Semidecidual. Assim como a Genipa americana

L. que ocorre nessa mesma perspectiva, além de ocupar áreas litorâneas no estado do Rio Grande do Norte. A Casearia decandra Jacq. apresenta significativa ocorrência nos estados do Paraná e Minas Gerais.

As espécies Paullinia pinnata L. e Talisia esculenta (Cambess.) Radlk ocorrem em todo o país, enfatizando sua ocorrência no Nordeste em áreas de Brejos de Altitude, como Chapada do Araripe e Serra de Meruoca (Ceará).

A ocorrência mais significativa da espécie Solanum rhytidoandrum Sendtn. no Nordeste está limitada a brejos de altitude localizados nos estados do Pernambuco (Serra Negra, Brejo da Madre de Deus, Buíque e Triunfo), Ceará (Baturité, Crato e Chapada do Araripe), Paraíba (Monteiro, Itaporanga e Pico do Jabre) e no Rio Grande do Norte, em áreas litorâneas e na serra de Equador.

Tendo em vista as especificidades elencadas quanto à ocorrência das espécies vegetais identificadas na área de estudo, assegura-se que a vegetação assume caráter de Floresta Estacional Semidecidual, podendo ser entendida enquanto uma vegetação típica de Brejo de Altitude. Tal afirmação se sustenta pelo fato destas espécies vegetais estarem sujeitas a um ritmo estacional que as torna diferentes daquelas típicas das regiões semiáridas.