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4.3 Concessão de aposentadoria por idade ao segurado especial e a Lei nº 11.718/2008

4.3.5 Competência da Justiça Federal

O INSS, ao negar o pedido de aposentadoria por idade do segurado especial, pode utilizar, como justificativas para a feitura de tal ato administrativo, o fato de o requerente não ter cumprido a carência necessária (efetivo exercício de atividade rural) ou que o requerente ainda não tenha atingido o patamar necessário de 60 anos de idade para sexo masculino ou 55 anos para sexo feminino.

A negativa do INSS autoriza o requerente a, como visto em tópico precedente, sem necessidade de recurso administrativo, acionar diretamente a Justiça. A ação será proposta na Justiça Federal, órgão originariamente responsável por julgar ações que envolvam autarquias de caráter federal, qual é o caso do INSS, segundo o art. 109, I da Constituição Federal, que afirma que cabem aos juízes federais processar e julgar “as causas em que a União, entidade autárquica ou empresa pública federal forem interessadas na condição de autoras, rés, assistentes ou oponentes, exceto as de falência, as de acidentes de trabalho e as sujeitas à Justiça Eleitoral e à Justiça do Trabalho” (grifo nosso).

4.3.5.1 Juizados Especiais Federais

Na situação de se optar por agilizar a referida ação judicial, caso seu valor não ultrapasse o montante de 60 salários-mínimos, a demanda será julgada na esfera dos Juizados Especiais Federais, pois, de acordo com o art. 3º da Lei 10.259/2001, regramento que trata dos Juizados Federais Especiais, “compete ao Juizado Especial Federal Cível processar, conciliar e julgar causas de competência da Justiça Federal até o valor de sessenta salários mínimos, bem como executar as suas sentenças”.

Como a maior parte dos requerentes não arrecada como contribuinte individual, fadados, dessa forma, a receberem apenas um salário-mínimo como benefício, mesmo com a

adição de juros e atualizações monetárias aos valores atrasados, respeitando-se o prazo prescricional de 5 anos (de acordo com o parágrafo único do art. 103 da Lei nº 8.213/1991), o valor total de atrasados geralmente não ultrapassa o limite de 60 salários-mínimos, e as ações relativas à aposentadoria por idade rural acabam mesmo não ultrapassando a órbita dos Juizados Especiais Federais.

Contudo, ainda se a causa vier a exceder esse valor estipulado, há permissão para que a parte autora – desde que expressamente – renuncie ao que, por ventura, ultrapassar os 60 salários-mínimos. Ao abrir mão do valor excedente, no intuito receber o dinheiro por meio de requisição de pequeno valor (RPV), e não por precatório, a renúncia não poderá ser tácita de acordo com a Súmula nº 17 da Turma Nacional de Uniformização (TNU), que assim é redigida: “não há renúncia tácita no Juizado Especial Federal, para fins de competência”.

O autor do pedido judicial deverá, dessa forma, fundamentar o requerimento com a comunicação do pedido negado, na qual constará a data de entrada do requerimento administrativo (DER), o nome do autor, o tipo de benefício requisitado e a justificativa da não concessão do benefício por via administrativa. Para o sucesso do pleito, deve-se juntar aos autos documentos que sirvam de início de prova material a fim de que se confirme o futuro depoimento de testemunha em audiência.

Muito se questiona a respeito da obrigatoriedade do prévio requerimento administrativo como requisito para o acionamento dos Juizados Especiais Federais, ou seja, do processo administrativo como antecedente do judicial. Tal é o debate em razão de não haver previsões que estipulem o exaurimento das vias administrativas para se acionar a Justiça ao mesmo tempo em que a entrada direta de pedidos judiciais lotaria o Poder Judiciário de assuntos que poderiam ser solucionados logo administrativamente. Diz-se que a falta do comprovante de requerimento administrativo implicaria falta de interesse de agir da parte autora, pois:

[...] o segurado que solicita benefício por via judicial, sem sequer manifestar seu desejo perrante o INSS, seria carecedor do direito de ação, já que inexistente o interesse de agir, devido à ausência de conflito de interesses. Não haveria, de pronto, a necessidade do reconhecimento de um direito ignorado por outrem (IBRAHIM, 2012, p. 721.)

Ainda sobre a necessidade do prévio requerimento administrativo, Castro e Lazzari (2007, p. 583) argumentam que: “[...] o Judiciário não pode substituir a Administração nas atividades que lhe são afetas, entre elas, a concessão do benefício previdenciário. A prestação jurisdicional só se justifica quando há a comprovação do conflito de interesses”.

Conexos na ideia da necessidade do prévio pedido administrativo, Ibrahim e Castro e Lazarri também compartilham do entendimento de que o requerimento em via administrativa não será necessário quando em ações nas quais a vontade do INSS é notoriamente contrastante em relação ao que o autor alega, seja por meio de decisões internas da autarquia, seja por divergência de interpretação de normas (IBRAHIM, 2012, p. 722; e CASTRO e LAZZARI, 2007, p. 589).

Na jurisprudência, as disparidades a respeito do requerimento administrativo prévio como condição para a concessão do benefício são bem elucidadas, ao ponto de o Superior Tribunal de Justiça (STJ) já ter se manifestado contrário a esse requisito, ao ponto de julgados da Turma Nacional de Uniformização desconsiderarem o entendimento do STJ quando em matérias de competência dos Juizados Especiais Federais, o que também é alegado por enunciado do III Fórum Nacional dos Juizados Especiais Federais (FONAJEF).

A fim, de detalhar tais julgados, eis como se apresenta o referido entendimento do STJ:

RECURSO ESPECIAL. PREVIDENCIÁRIO. BENEFÍCIOS. REQUERIMENTO ADMINISTRATIVO PRÉVIO. DESNECESSIDADE. O prévio requerimento na esfera administrativa não pode ser considerado como condição para propositura da ação de natureza previdenciária. Ademais, é pacífico neste Superior Tribunal de Justiça o entendimento de que é desnecessário o requerimento administrativo prévio à propositura de ação que vise concessão de benefício previdenciário. Recurso conhecido e desprovido (BRASIL, Superior Tribunal de Justiça, REsp 603164, Relator JOSÉ ARNALDO DA FONSECA, 2004).

A TNU, defendendo precisão do prévio acionamento da administração como caracterizador do interesse de agir da parte e a fim de se evitar o avolumamento extraordinário de demandas, alega que:

PREVIDENCIÁRIO – BENEFÍCIO DE AUXÍLIO-MATERNIDADE – SEGURADA ESPECIAL – TRABALHADORA RURAL – EXTINÇÃO DO FEITO SEM JULGAMENTO DE MÉRITO – AUSÊNCIA DE PRÉVIO PEDIDO NA ESPFERA ADMINISTRATIVA – JULGADO DO STJ ANTERIOR À CRIAÇÃO DOS JEF’S – CONTEXTO FÁTICO DISTINTO – INDISPENSABILIDADE DE PEDIDO ADMINISTRATIVO PRÉVIO – INEXISTÊNCIA DE MANIFESTAÇÃO DO INSS SOBRE O MÉRITO - PEDIDO DE UNIFORMIZAÇÃO IMPROVIDO. 1) A posição adotada pela jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, referente à possibilidade de propositura de ação de natureza previdenciária, independentemente de prévio pedido na esfera administrativa, por ser anterior à sua criação, não guarda similitude fática com

aquelas processadas no âmbito dos JEF’s. 2) Tendo o r. acórdão impugnado

confirmado a sentença recorrida que, por sua vez, extinguiu o feito sem julgamento de mérito por ausência de prévio pedido na esfera administrativa, restou observado o atual posicionamento da Turma Nacional de Uniformização que preserva o acesso aos Juizados Especiais Federais mediante a observância do requisito do prévio pedido na esfera administrativa, visando assegurar a celeridade da prestação jurisdicional, que estaria comprometida com o aumento extraordinário do número de demandas. 3) Embora a exigência de prévio

processo administrativo venha sendo mitigada naquelas hipóteses em que a inicial tiver sido admitida e, em contestação, o INSS manifestar-se especificamente sobre o mérito da questão debatida, tal não ocorre no presente caso, visto que o requerido limitou-se a reclamar a falta de prévio requerimento administrativo 4) Pedido de Uniformização de Jurisprudência ao qual se nega provimento. (BRASIL, Turma Nacional de Uniformização, Pedido de Uniformização 200581100054978, Juiz Federal Ricarlos Almagro Vitoriano Cunha, 2010, grifo nosso).

Já o Enunciado nº 77 da FONAJEF estipula que: “O ajuizamento da ação de concessão de benefício da seguridade social reclama prévio requerimento administrativo”.

Se o autor, mais uma vez, só que agora em nível judicial, tiver negada a concessão da aposentadoria por idade, poderá dar entrada em recurso nas Turmas Recursais instituídas pelos Tribunais Regionais Federais.

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