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4.3 Concessão de aposentadoria por idade ao segurado especial e a Lei nº 11.718/2008

4.3.1 Início de prova material

A situação de segurado especial é embutida de dificuldades acerca do modo como ele irá provar o trabalho como rurícola em razão das dificuldades e empecilhos a que estão submetidos, seja por não serem assaz informados a respeito de como guardarem documentos que lhes favoreçam na época do pedido de aposentadoria, seja por realmente não produzirem quaisquer documentos que venham a fundamentar o requerimento.

A Lei nº 11.718/2008 alterou o art. 106 da Lei 8.213/1991 para que este passasse, agora, a prever como documentos comprobatórios da atividade rural:

I – contrato individual de trabalho ou Carteira de Trabalho e Previdência Social; II – contrato de arrendamento, parceria ou comodato rural;

III – declaração fundamentada de sindicato que represente o trabalhador rural ou, quando for o caso, de sindicato ou colônia de pescadores, desde que homologada pelo Instituto Nacional do Seguro Social – INSS;

IV – comprovante de cadastro do Instituto Nacional de Colonização e Reforma

Agrária – INCRA, no caso de produtores em regime de economia familiar; V – bloco de notas do produtor rural;

VI – notas fiscais de entrada de mercadorias, de que trata o § 7o do art. 30 da Lei no 8.212, de 24 de julho de 1991, emitidas pela empresa adquirente da produção, com indicação do nome do segurado como vendedor;

VII – documentos fiscais relativos a entrega de produção rural à cooperativa agrícola, entreposto de pescado ou outros, com indicação do segurado como vendedor ou consignante; VIII – comprovantes de recolhimento de contribuição à Previdência Social decorrentes da comercialização da produção;

IX – cópia da declaração de imposto de renda, com indicação de renda proveniente da comercialização de produção rural;

X – licença de ocupação ou permissão outorgada pelo Incra.

Esse rol não é considerado taxativo, ou seja, não é viável a limitação de apresentação de apenas esses documentos em prejuízo do caráter probatório de outros que não estejam em tal lista. Como exemplo repetidamente usado pela jurisprudência e que não está inserto no rol exemplificativo acima, tem-se a certidão de casamento em que consta a profissão do pretenso segurado especial como rurícola. Sobre essa forma de comprovação da efetiva atividade rural, segue a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça:

AÇÃO RESCISÓRIA. PREVIDENCIÁRIO. APOSENTADORIA POR IDADE. RURÍCOLA. DOCUMENTO NOVO. CERTIDÃO DE CASAMENTO. SOLUÇÃO PRO MISERO. INÍCIO DE PROVA MATERIAL CORROBORADO POR PROVA TESTEMUNHAL. PEDIDO PROCEDENTE. 1. Esta Corte, ciente das inúmeras dificuldades por que passam os trabalhadores rurais, vem se orientando pelo critério pro misero, abrandando o rigorismo legal relativo à produção da prova da condição de segurado especial. Em hipóteses em que a rescisória é proposta por trabalhadora rural, tem se aceitado recorrentemente a juntada a posteriori de certidão de casamento, na qual consta como rurícola a profissão do cônjuge (precendentes). Se se admite como início de prova documental a certidão na qual somente o cônjuge é tido como rurícola, com muito mais razão se deve admitir, para os mesmos fins, a certidão na qual o próprio autor é assim qualificado. A certidão de casamento é,

portanto, documento suficiente a comprovar o início da prova material exigido por lei a corroborar a prova testemunhal. 2. Diante da prova testemunhal favorável ao autor, estando ele dispensado do recolhimento de qualquer contribuição previdenciária e não pairando mais discussões quanto à existência de início suficiente de prova material da condição de rurícola, o requerente se classifica como segurado especial, protegido pela lei de benefícios da previdência social - art. 11, inciso VII, da Lei 8.213/91. 3. Pedido procedente. (BRASIL, Superior Tribunal de Justiça – Terceira Seção, AR 200701226767, Relatora MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA, 2010.)

A Turma Nacional de Uniformização (TNU), órgão responsável pelo julgamento de recursos provindos das Turmas Recursais dos Juizados Especiais Federais, também já sumulou o entendimento a respeito da validade da certidão de casamento como início de prova material, quando, na edição da Súmula nº 6, afirma que “a certidão de casamento ou outro documento idôneo que evidencie a condição de trabalhador rural do cônjuge constitui início razoável de prova material da atividade rurícola”.

O início de prova material, portanto, é fator que baseia o pedido do segurado especial. A prova material sozinha, contudo, pode não ser considerada como suficiente para o convencimento do servidor do INSS ou, caso haja negativa administrativa e interposição de ação judicial, do Juiz. Assim, a fim de dar mais concretude ao elemento probatório material, busca-se também a prova testemunhal, a qual, indo ao encontro do documento utilizado, corroborar-lhe-á, conforme indica a ementa do STJ anteriormente citada.

Essa necessidade de algo a mais além do início de prova material está correlacionada à essência do termo “início de prova material”, o qual indica ser apenas um começo. Em julgado proferido na TNU, salientou-se que “o início de prova material não é senão ponto de partida indispensável à comprovação dos fatos, objetivo a ser atingido sobretudo mediante a produção de prova testemunhal em ações com idênticos elementos objetivos à ação presente.”4

Wladimir Novaes Martinez entende a expressão como baseada em três suportes: “a) ser incipiente, dispensada a prova exaustiva; b) ser razoável, isto é, ser acolhida pelo senso comum; e c) ser material, não se aceitando a apenas testemunhal” (1998, p. 111 apud IBRAHIM, 2012, p. 526).

Frisando-se que o documento usado como início de prova material não precisa abarcar todo o tempo de trabalho do segurado especial, o início de prova material é, dessa forma, considerado prova indireta, a qual se entende como:

A prova indireta, indiciária, embrionária, é aquela que não tem o potencial de produzir, por si só, o fim desejado, mas somente criar um ponto de partida para que

4

BRASIL, Turma Nacional de Uniformização, Processo 200384130006662, Relator Juiz Federal Osni Cardoso Filho, 2004.

a parte possa trazer testemunhas as quais, mediante depoimento convincente, venham a corroborar o jus pretenso (IBRAHIM, 2012, p. 527).

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