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CAPÍTULO V PROFISSIONALISMOS DO PROFESSOR JERÔNIMO ARANTES EM UBERABINHA (1907 a 1926)

1.4 Configuração da profissionalidade do professor na educação

1.4.3 Competência profissional na profissionalidade do professor

A terceira dimensão da profissionalidade identificada por Contreras é a competência profissional, que vai além do significado propriamente técnico do recurso didático, que a princípio, possa parecer. Pois na realização de todo e qualquer trabalho profissional do professor há necessidade de se ir além do domínio de habilidades, de técnicas, de recursos para a ação didática, de conhecimento de aspectos da cultura e do conhecimento do âmbito ou do objeto que se ensina. O ir além está identificado na necessidade de análise e reflexão sobre a prática profissional que o professor realiza, abarcando neste processo, tanto o conhecimento disponível quanto os recursos intelectuais que produzirão e ampliarão novos conhecimentos profissionais, aumentando a responsabilidade profissional, e por conseguinte, valorizando a autonomia do professor. O autor afirma que

[...] a competência profissional se refere não apenas ao capital de conhecimento disponível, mas também aos recursos intelectuais de que se dispõe com objetivo de tornar possível a ampliação e desenvolvimento desse conhecimento profissional, sua flexibilidade e profundidade. A análise e a reflexão sobre a prática profissional que se realiza constitui um valor e um elemento básico para a profissionalidade dos professores.163

A contribuição dessa dimensão à profissionalidade do professor está fundamentalmente vinculada ao desenvolvimento da competência intelectual e não apenas da

162 MAGALHÃES, Justino Pereira. Tecendo nexos: história das instituições educativas. Bragança Paulista:

Editora Universitária São Francisco, 2004. p. 68.

competência técnica, em que há análise e reflexão do conhecimento disponível quanto aos recursos na valorização dos critérios sobre o valor moral e político, da mesma forma que há necessidade de coerência entre esse valor e o que se requer no exercício profissional do professor164.

Assim, haverá possibilidade de realizar juízos e decisões profissionais ao se dispor de um conhecimento profissional de que possa extrair reflexões, ideias e experiências, bem como se pode elaborar tais decisões e executá-las. Este conhecimento é oriundo de diversas fontes, em parte advindo do próprio professor em suas experiências e reelaborações, outra parte dos processos coletivos de intercâmbios e socialização com outros professores, como também advinda de posições assumidas em relação às tradições, às posturas pedagógicas que contribuem para configurar diferentes formas de interpretar a realidade escolar na ação docente165.

Contreras argumenta que não se pode desligar a própria ideia da obrigação moral de seu componente emocional, como também, não se pode reduzir a dimensão da competência profissional a seu sentido mais puramente racional. Assim, diz o autor, faz parte das competências profissionais

[...] o modo em que se criam e se sustentam vínculos com as pessoas, em que a cumplicidade, o afeto e a sensibilidade se integram e se desenvolvem nas formas de viver a profissão, de tal modo que compreensão e implicação se vinculem. A instituição, a improvisação e a orientação entre os sentimentos próprios e alheios são também parte das competências complexas requeridas pela profissionalidade didática, tanto dentro como fora da sala de aula.166

Uma característica fundamental identificada na dimensão da competência profissional, apontada por Contreras, é a valorização dada ao aumento da autonomia profissional do professor, necessária para o pleno exercício dessa dimensão com o desenvolvimento tanto da responsabilidade quanto das outras dimensões. Pois, o desenvolvimento da competência técnica, isoladamente ou em descompasso com a competência intelectual, não garante o desenvolvimento da competência profissional. Caso haja aumento de uma e restrição da outra, haverá comprometimento no desenvolvimento da competência profissional, e por assim, no desenvolvimento da profissionalidade do professor.

Ressalto que pela perspectiva adotada nesta pesquisa, se houver alteração em aspectos da profissionalidade do professor pode-se esperar alteração no profissionalismo do mesmo,

164 CONTRERAS, José. A autonomia de professores. São Paulo: Cortez, 2002. p. 83.

165 Ibidem.

reservando, proporcionalmente, um tempo maior para que as alterações dessa força estruturante se efetivem em comparação ao menor tempo despendido, caso fossem provenientes da profissionalização. Em razão de que a apropriação das alterações dos valores de princípios morais que interferem nos compromissos assumidos, bem como no desempenho da competência técnica e intelectual do professor se fará pelos critérios validados pela vontade e desejo do professor.

Contreras afirma que essas três dimensões da profissionalidade do professor podem, ao se desenvolverem, se combinarem de diferentes maneiras:

[...] estas três exigências do trabalho de ensinar, podem ser concebidas e combinadas de maneiras diferentes em função das concepções profissionais das quais se parta, e que dependem, por sua vez, da forma em que se entenda o ensino: contexto educacional, seu propósito e sua realização. E logicamente estas concepções darão lugar a diferentes formas de entender a autonomia profissional docente. Ao esclarecer isso, nos aproximamos a diferentes formas de se conceber a profissão docente. Desta maneira, poderemos chegar à reflexão sobre o significado da autonomia¸ tendo situado a discussão em diferentes modelos sobre o que significa e requer o trabalho de ensinar.167

Entendo que as combinações flexíveis e articuláveis entre si das dimensões da profissionalidade, a obrigação moral, o compromisso com a comunidade e a competência profissional, sofrerão desenvolvimentos distintos na linha do tempo, ao receber determinada intensidade de pressão sobre a autonomia do professor advinda da outra força estruturante, a profissionalização. Isto ocorrendo em contextos distintos, sob a influência de ideias pedagógicas, o resultado possível será o de se obter a configuração de diversos tipos de profissionalismos.

CAPÍTULO II

PROFISSIONALIZAÇÃO DO PROFESSOR MUNICIPAL EM UBERABINHA: cenários de permanências e mudanças

No presente capítulo apresento os dados e argumentos teóricos sobre o processo constituído de uma das forças estruturantes do profissionalismo, a profissionalização do professor municipal em Uberabinha/Uberlândia, como forma de melhor situar o cenário socioeconômico e cultural e das ideias pedagógicas que circularam nesta sociedade à época. A profissionalização será o agente que apresentará o contexto da sociedade uberabinhense para a constituição dos momentos da profissionalização do professor municipal, cenário em que foram revelados os profissionalismos dos professores municipais Alice da Silva Paes e Jerônimo Arantes, respectivamente discutidos nos capítulos 4 e 5.

Abordo, na primeira parte deste capítulo, sobre a formação, emancipação e desenvolvimento do município de Uberabinha na transição do ocaso do Império e início da República. Na segunda parte, apresento as relações estabelecidas na área da educação pelos governos federal, estadual mineiro, principalmente, com foco na influência da profissionalização na formação da identidade profissional do professor. Na terceira parte, apresento de forma sintética, a análise do processo de profissionalização do professor municipal na Primeira República, com a identificação de três momentos: o da construção (1892-1899); da consolidação (1899-1922) e da atualização (1923-1930).