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A competência em razão da matéria e a forma processual aplicável A resposta vem na decorrência do que vimos dizendo.

No documento O Direito dos Animais 2019 (páginas 75-78)

O DIREITO DOS ANIMAIS – 2019 4 Os animais de companhia na jurisdição da família e das crianças

3. Concretizações 1 Questões práticas

3.2. Da subsunção do direito aos factos

3.2.4. A competência em razão da matéria e a forma processual aplicável A resposta vem na decorrência do que vimos dizendo.

Vejamos.

De acordo com o artigo 122.º da Lei de Organização do Sistema Judiciário (LOSJ), compete aos Juízos de Família e Menores, no que ao estado civil das pessoas e família concerne, preparar e julgar:

a) Processos de jurisdição voluntária relativos a cônjuges;

b) Processos de jurisdição voluntária relativos a situações de união de facto ou de economia comum;

c) Ações de separação de pessoas e bens e de divórcio;

d) Ações de declaração de inexistência ou de anulação do casamento civil;

e) Ações intentadas com base no artigo 1647.º e no n.º 2, do artigo 1648.º do Código Civil, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 47344, de 25 de Novembro de 1966;

f) Ações e execuções por alimentos entre cônjuges e entre ex-cônjuges; g) Outras ações relativas ao estado civil das pessoas e família.”50

Por seu lado, relativamente às crianças e jovens, a competência do Juízo de Família e Menores em prevista no artigo 123.º:

“Competência relativa a menores e filhos maiores

1 – Compete igualmente às secções de família e menores: a) Instaurar a tutela e a administração de bens;

b) Nomear pessoa que haja de celebrar negócios em nome do menor e, bem assim, nomear curador-geral que represente extrajudicialmente o menor sujeito a responsabilidades parentais;

c) Constituir o vínculo da adoção;

d) Regular o exercício das responsabilidades parentais e conhecer das questões a este respeitantes;

e) Fixar os alimentos devidos a menores e aos filhos maiores ou emancipados a que se refere o artigo 1880.º do Código Civil, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 47344, de 25 de novembro de 1966, e preparar e julgar as execuções por alimentos;

f) Ordenar a confiança judicial de menores;

g) Decretar a medida de promoção e proteção de confiança a pessoa selecionada para a adoção ou a instituição com vista a futura adoção;

h) Constituir a relação de apadrinhamento civil e decretar a sua revogação;

i) Autorizar o representante legal dos menores a praticar certos atos, confirmar os que tenham sido praticados sem autorização e providenciar acerca da aceitação de liberalidades;

j) Decidir acerca da caução que os pais devam prestar a favor dos filhos menores;

50 Sublinhado nosso.

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k) Decretar a inibição, total ou parcial, e estabelecer limitações ao exercício de responsabilidades parentais, previstas no artigo 1920.º do Código Civil, aprovado pelo Decreto- Lei n.º 47344, de 25 de novembro de 1966;

l) Proceder à averiguação oficiosa da maternidade e da paternidade e preparar e julgar as ações de impugnação e de investigação da maternidade e da paternidade;

m) Decidir, em caso de desacordo dos pais, sobre o nome e apelidos do menor.”

Subsumindo, dir-se-á que não se suscitam dúvidas quanto a ser o tribunal de família e menores competente, por força das alíneas a) e b) do artigo 122.º da LOSJ.

Com efeito, a sistematização que levamos a cabo resume-se a processos de jurisdição voluntária pressuponentes de relações matrimoniais ou outras, que, por defeito, não poderão deixar de chamar-se – algumas delas – de uniões de facto, na perspetiva abrangente acima considerada, por oposição à visão estrita da Lei 7/2001.

Note-se, aliás, que todos os processos de RERP são de jurisdição voluntária, como se classifica no artigo 12.º do Regime Geral do Processo Tutelar Cível (RGPTC).

Não desconsideramos, a este respeito, as dúvidas pertinentes suscitadas e que se prendem com a ausência de previsão processual específica quanto ao destino dos animais de companhia fora dos casos de divórcio51.

Porém, a nossa perspetiva é de eficácia processual e coerência decisória dentro do espírito do sistema. Eis porque tivemos a preocupação de proceder a algum enquadramento interpretativo da temática em causa e no sentido de dar sentido útil aos avanços legislativos. Afinal de contas, ao juiz é também exigido que decida “segundo a norma aplicável aos casos

análogos”52, sendo que “há analogia sempre que no caso omisso procedam as razões

justificativas da regulamentação do caso previsto na lei.”53

Por seu lado, no que ao artigo 123.º da LOSJ concerne, a sua aplicabilidade adaptativa às situações de facto inerentes aos animais de companhia é verosímil, porquanto cada um dos tipos processuais aí descriminados, substituindo o menor/maior pelo animal de companhia, não se nos afigura desfasado. Tenha-se em conta que a evolução sociológica da sensibilidade humano-animal tem sido galopante, a pontos de, em vários lares, os animais de companhia substituírem os filhos.

Assim, mais uma vez, não se nos afigura injustificada a associação entre a regulação do destino dos animais de companhia e a RERP, pelo que nem sequer será necessário ao juiz criar norma dentro do espírito do sistema. Mas, se tivesse de o fazer, redundaríamos no mesmo – a equiparação entre a regulação do destino dos animais de companhia e a RERP, bem assim os demais tipos processuais categorizados.

51 Cfr. PEDROSO, Anabela, cit., pp. 30-31. 52 Cfr. o n.º 1 do art. 10º do CC.

53 Cfr. o n.º 2 do art. 10º do CC.

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Apenas pela frequência da incidência judiciária, nos reportámos às providências tutelares cíveis regulatórias, cientes, porém, de que outras se poderão configurar na prática, devendo o intérprete seguir os cânones interpretativos/integrativos já aludidos.

Já no que concerne aos processos de promoção e proteção, sendo justificado processualmente que se verificou um obstáculo, na assistência pública, não transponível de outro modo, não encontramos forma de recusar a intervenção judiciária a tal nível. Ainda que as adaptações tenham de ser várias, a associação às crianças e jovens e a natureza de jurisdição voluntária não deixam, nem podem deixar – porque a cada direito subjetivo/interesse legalmente protegido corresponde uma ação – a proteção dos animais de companhia sem resposta judiciária,

O mesmo é dizer, relativamente a estes últimos processos, que o tribunal não deverá invocar a incompetência em razão da matéria para decidir questões relativas à proteção dos animais de companhia, caso as respostas públicas não tenham funcionado até ao momento.

E, desde logo, em termos de controlo da legitimidade e da iniciativa processuais, admitimos que o seja qualquer pessoa, incluindo entidades representativas dos animais de companhia em causa.

A partir desta conclusão e até que o legislador entenda fixar um quadro normativo diverso, tudo o mais se encontra facilitado, ou seja, a tramitação subsequente e o valor da causa54.

54 Cfr. o art. 303º n.º 1 do 1 — As ações sobre o estado das pessoas ou sobre interesses imateriais

consideram -se sempre de valor equivalente à alçada da Relação e mais € 0,01.

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4. Conclusões

A) Nos casos de divórcio sem consentimento de um dos cônjuges, apresentado em tribunal

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