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Nos casos de divórcio sem consentimento de um dos cônjuges, apresentado em tribunal 1) A homologação judicial, em sede de tentativa de conciliação deverá ser precedida da

No documento O Direito dos Animais 2019 (páginas 78-85)

O DIREITO DOS ANIMAIS – 2019 4 Os animais de companhia na jurisdição da família e das crianças

A) Nos casos de divórcio sem consentimento de um dos cônjuges, apresentado em tribunal 1) A homologação judicial, em sede de tentativa de conciliação deverá ser precedida da

aferição da bondade de cada um acordos previstos no artigo 1775.º n.º 1 do Código Civil?

Em rigor, sim, como forma de garantir que são assegurados os interesses dos donos/detentores dos animais de companhia, tal como definidos pelo artigo 1.º n.º 1 da Convenção Europeia para a Proteção dos Animais de Companhia, e dos filhos daqueles, e, sobretudo, o bem estar animal, como decorre do artigo 1793.º-A do CC..

Há que aferir, igualmente, se se trata de animal de companhia, por oposição a animal, para efeitos do artigo 2.º n.º 2 da Diretiva n.º 58/CE/1998, do Conselho, de 20 de Julho, e do artigo 1.º do DL n.º 276/2001 de 17.10.

2) Qual a abrangência semântica do «acordo sobre o destino dos animais de companhia», previsto no artigo 1775.º n.º 1 f) do Código Civil?

Atenta a referência a, em sede de atribuição da casa de morada de família, bem assim o uso da terminologia «destino» e «confiança» dos animais de companhia, respetivamente, nos artigos 1775.º f) e 1793.º-A, ambos do CC, somos de entendimento que o regime de RERP é adaptativamente aplicado à – por nós designada – regulação do exercício das responsabilidades dos donos/detentores dos animais de companhia em relação a estes.

O mesmo se diga relativamente aos processos de promoção e proteção, nas situações em que não tenha sido lograda alternativa protetiva extrajudicial.

3) O referido «acordo sobre o destino dos animais de companhia» poderá traduzir-se na regulação do exercício das responsabilidades dos donos/detentores em relação aos animais de companhia?

A resposta é afirmativa, em coerência com a integração dos animais de companhia no seio familiar, como seres sencientes que são.

A regulação abrange todos os parâmetros da RERP, adaptados à condição dos animais de companhia.

4) O juiz poderá não decretar a convolação do divórcio sem consentimento em divórcio por mútuo consentimento, por não ter sido alcançado acordo quanto à regulação do exercício das responsabilidades dos donos/detentores em relação aos animais de companhia?

A resposta só pode ser afirmativa. Caso contrário, não teria sido tal acordo incluído como condição convolatória.

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Estamos perante um sinal claro do legislador nacional de dignificação da condição animal não humana, ao mesmo nível – numa situação de rutura dos laços conjugais – da necessidade de entendimento quanto a parâmetros necessariamente caros a qualquer família, como sejam, v.g., os filhos ou a casa de morada de família.

5) E no caso de o acordo apresentado ao juiz não corresponder aos interesses de cada um dos cônjuges ou dos filhos do casal ou ao bem estar do(s) animal(ais) de companhia?

Coerentemente, um tal acordo não poderá/deverá ser homologado, devendo o juiz diligenciar proactivamente e em consonância com os poderes-deveres de que dispõe no âmbito da jurisdição voluntária, pela superação de tais obstáculos.

6) Nas hipóteses questionadas em 4) e 5), poderá o juiz decretar a convolação do divórcio sem consentimento em divórcio por mútuo consentimento logo na fase da tentativa de conciliação?

A nossa convicção é negativa, por respeito à opção legal e à consciência jurídica reinante, de que derivou a elevação do acordo relativo ao destino dos animais de companhia a condição convolatória.

7) Se sim, quid iuris quanto aos animais de companhia? Segue-se a produção de prova?

A resposta está prejudicada pela anterior.

Entendemos inexistirem sentenças condicionais, porquanto – proferida sentença – esgota-se o nosso poder jurisdicional sobre o objeto respetivo.

8) Se sim, quais as formalidades aplicáveis?

A resposta está prejudicada pelas duas anteriores.

O óbice reside apenas no esgotamento do poder jurisdicional, pois que o âmbito e os rituais probatórios seguiriam os cânones da jurisdição voluntária.

9) E que tipo de decisões regulatórias deverá ser tomado?

Todos os tipos previstos no RGPTC, com as necessárias adaptações.

10) Nas hipóteses previstas em 4) e 5),deverá o processo seguir como divórcio sem consentimento do outro cônjuge, sem que a regulação do exercício das responsabilidades dos donos em relação ao animal tenha lugar?

É, a nosso ver, a conclusão incontornável, esgotadas que sejam todas as iniciativas conciliatórias de que o juiz seja capaz.

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B) Os donos/detentores do(s) animal (ais) de companhia encontram-se separados de facto, tendo sido – ou não –, casados entre si:

1) É possível a regulação do exercício das responsabilidades dos donos/detentores dos animais de companhia em relação a estes?

Assim o concluímos, por uma razão de congruência com:

– A dignificação jus-familiar dos animais de companhia;

– A igualdade legal e em termos de consciência jurídica geral das relações conjugais de tipo matrimonial ou não matrimonial;

– A aceitação, para efeitos da RERP, de qualquer estado de não convivência marital ou de tipo marital, como fundamento de interesse processual.

2) Se sim, qual o processo aplicável?

Qualquer dos previstos ao nível do RGPTC, com as devidas adaptações.

3) E qual o tribunal competente em razão da matéria?

O Juízo de Família e Menores, ou que funcione como tal, nos concelhos em que não esteja instituído.

Entendemos não fazer sentido estribarmo-nos na letra da lei (artigos 122.º e 123.º da LOSJ) para declinar a competência especializada, quando estamos a falar de um membro da família, sistemática e teleologicamente assemelhável a um filho.

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Referências bibliográficas

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Guimarães, Ana Paula / Teixeira, Maria Emília, A PROTEÇÃO CIVIL E CRIMINAL DOS ANIMAIS DE COMPANHIA, «A PROTEÇÃO CIVIL E CRIMINAL DOS ANIMAIS DE COMPANHIA», in O Direito

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– Dissertação de Mestrado em Direito, Especialidade em Ciências Jurídico-Forenses,

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PEREIRA, RITA, OS DIREITOS DOS ANIMAIS. ENTRE O HOMEM E AS COISAS, Dissertação com vista à obtenção do grau de Mestre em Direito, Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, julho de 2015

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Professor Doutor Luís Alberto Carvalho Fernandes”, Vol. 2, Lisboa: Universidade Católica

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Vídeo da apresentação

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Vídeo do debate

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