• Nenhum resultado encontrado

41 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil. 41. ed. São Paulo: Forense, 2004, v. 1, p. 145.

Inicialmente, cumpre dizer que, quando se estuda de competência internacional, não se quer abordar propriamente matéria referente à competência, mas à jurisdição. Isso porque é através da competência internacional que se delimita o poder jurisdicional de um Estado, excluindo determinados litígios de sua competência. Então, antes de fixar, internamente, qual o juiz ou tribunal competente para a causa, é necessário que se diga se o litígio submete-se ou não ao poder jurisdicional soberano de um certo país. Desta forma, competência internacional não é tema atinente à competência, mas à jurisdição. Competência interna, sim, refere-se à distribuição do poder jurisdicional dentro de um Estado, entre os vários juízes e tribunais nele existentes. Esta última é a que interessa aqui.

Cintra, Grinover e Dinamarco42 apontam alguns fatores que o legislador leva em conta para fazer a distribuição interna da competência. São aspectos ora atinentes às partes e ao processo ora ao direito em litígio. Destarte, consideram-se três afirmações: a) existem órgãos judiciários diferenciados; b) é possível fazer uma triagem dos tipos de causas ou dos tipos de processo (ou procedimento), separando-os em grupos e c) a competência para a causa é atribuída ao órgão mais idôneo para julgá-la. Pela primeira afirmação, deduz-se que é necessário atribuir competência a um ou outro órgão, face à existência de inúmeros órgãos jurisdicionais no mesmo país. Através da segunda, conclui-se pela necessidade de dividir a competência conforme a natureza da causa ou do processo. Assim se faz, ao se criarem varas de falência, de família – em que os fatos e fundamentos jurídicos são específicos –, ao serem instituídos os Juizados Especiais, com rito próprio, para causas de pouca monta etc. Desta maneira, dinamiza-se o julgamento das lides através da especialização dos órgãos. E, pela última afirmação, vê-se que o órgão competente deve ser aquele que esteja mais apto para julgar a ação, observados os critérios de interesse público e da qualidade das partes. É por isso

42 CINTRA, Antônio Carlos de Araújo; GRINOVER, Ada Pellegrini; DINAMARCO, Cândido Rangel. Op. cit., p. 230-240.

que se fixa o foro do alimentando como competente para ação de alimentos e o Tribunal de Justiça para julgar o prefeito pelos crimes que cometa, por exemplo.

Inicialmente, leva-se em conta que existem vários órgãos jurisdicionais no país, ou seja, justiça federal e estadual - consideradas justiças comuns -, justiça comum e justiças especializadas (do trabalho, eleitoral, militar), órgãos inferiores e superiores de jurisdição etc. Enfim, como existem várias “justiças”, primeiramente é necessário que se diga qual delas é competente para apreciar a causa. Se for matéria de interesse da União, a competência será da justiça federal (art. 109, I, da Constituição Federal). Se a lide funda-se em relação de trabalho, deverá ser submetida à justiça obreira (art. 114, I, da Carta Magna). Enfim, esse tipo de competência costuma ser chamada de competência “de jurisdição”, ou seja, cumpre saber qual a “justiça” competente, estadual ou federal, comum ou do trabalho etc.

Ainda assim, dentro de uma mesma “justiça”, existem órgãos inferiores e superiores, por isso é necessário que se diga, por exemplo, se é competente o juiz singular ou o Tribunal de Justiça, o juiz federal monocrático ou o Tribunal Regional Federal respectivo. Trata-se então, da chamada competência originária.

A fixação da chamada competência “de jurisdição” está delimitada na Constituição Federal.

Mas num mesmo tribunal ou mesma comarca, ou seção judiciária, existem divisões internas, ou seja, matérias de competência de determinadas câmaras ou varas. Assim, num tribunal, existem câmaras cíveis e penais, por exemplo. Numa comarca, há varas da Fazenda Pública, de família, de registros públicos etc. Os processos são distribuídos, em razão da sua matéria, para esta ou aquela vara, para tal ou qual câmara. Essa é a chamada competência de juízo. Geralmente, essa espécie de competência é fixada pela lei de organização judiciária ou pelo regimento interno dos tribunais.

Esses três tipos de competência (“de jurisdição”, originária e de juízo), ao lado da competência interna e recursal, atendem ao critério funcional de distribuição de competência, porque dizem respeito às regras que atribuem competência aos diversos órgãos e seus componentes. Nesse caso, diz-se haver competência absoluta dos órgãos, sendo insuscetível sua modificação ou prorrogação.

Além de cada órgão jurisdicional ser responsável por certa matéria, ele exerce a jurisdição em determinado território, seja na comarca ou na seção judiciária respectivas. Os Tribunais de Justiça exercem jurisdição em todo o território do Estado. Os Tribunais Regionais Federais em toda a região que abarcam, composta por vários Estados.

O critério que fixa a competência para exercer a jurisdição depende da relação jurídica, podendo ser o domicílio do réu, o local do dano sofrido, o foro onde se situe o imóvel etc., mas na grande maioria das vezes se refere a um lugar, a um território. Portanto, fixada a competência “de jurisdição”, resta saber em que lugar a demanda deve ser proposta, quer dizer, cuida-se de fixar a chamada competência territorial. Esta, diferentemente da supracitada, permite prorrogações, ou seja, possibilita que outro juiz, que não o territorialmente competente, exerça a atividade jurisdicional caso as partes não se manifestem pela incompetência. Trata-se, pois, de competência relativa. É fixada pelo Código de Processo Civil ou por leis federais específicas, que podem dispor diferentemente do que diz o Código. Mas a capacidade para legislar sobre competência territorial é privativa da União (art. 22, I, da Constituição Federal), pois trata de matéria atinente a Direito Processual.

Assim, é possível deduzir uma operação lógica para saber qual o órgão competente para julgar o litígio, através de perguntas, a serem feitas de forma sucessiva: 1º) qual a “justiça” competente? (competência de “jurisdição”); 2º) compete ao órgão superior ou ao inferior? (competência originária); 3º) qual a comarca, ou seção judiciária, competente? (competência de foro, ou territorial); 4º) qual a vara competente? (competência de juízo); 5º)

qual o juiz competente? (competência interna) e 6º) competente o mesmo órgão ou um superior (competência recursal).

Observados os critérios de fixação de competência, passa-se a analisar como se dá a fixação do órgão competente para processar e julgar as ações civis públicas.

Documentos relacionados