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6. SIGILO BANCÁRIO

7.3 COMPETÊNCIA TERRITORIAL

Prescreve o artigo 200 do CPC que “os atos processuais serão cumpridos por ordem judicial ou requisitados por carta, conforme hajam de realizar-se dentro ou fora dos limites territoriais da comarca”. Por sua vez, estabelece o artigo 658 do CPC que “se o devedor não tiver bens no foro da causa, far-se-á a execução por carta, penhorando-se, avaliando-se e alienando-se os bens no foro da situação (art. 747)”. No primeiro momento, pois, dúvidas surgiram quanto a existência de competência do juiz para determinar o bloqueio de ativos do devedor no sistema bancário à disposição instituições financeiras localizadas fora da sede da comarca onde tramita a execução.

As alterações implementadas pela Lei 11.382/2006 vieram a sanar e esclarecer tais impasses. A redação do artigo 659, parágrafo primeiro do CPC passou a determinar que “efetuar-se-á a penhora onde quer que se encontrem os bens, ainda que sob a posse, detenção ou guarda de terceiros”, bem como o parágrafo sexto do mesmo dispositivo legal estabelece que “Obedecidas as normas de segurança que forem instituídas, sob critérios uniformes, pelos Tribunais, a penhora de numerário e as averbações de penhoras de bens imóveis e móveis podem ser realizadas por meios eletrônicos”.

De fato e de regra geral, quando o devedor não tem bens disponíveis no âmbito da competência territorial do Juízo onde tramita a execução, outra saída não resta senão expedir de carta precatória dedicada à penhora, avaliação e alienação dos bens no foro da situação.

Contudo – e aqui reside celeuma na questão -, disto não se pode cogitar no caso da penhora incidente sobre valores bloqueados por meio eletrônico. Sucede que, diante do inegável avanço tecnológico havido no segmento bancário nos últimos anos, atualmente os correntistas detêm a faculdade de retirar os fundos disponíveis nas contas de sua titularidade em qualquer agência da respectiva instituição financeira depositária, ainda que localizada no exterior, mediante simples operação pelo sistema on line, ou, em último caso, emissão de cheques.

Logo, se o bem fungível (dinheiro) está disponível ao titular da conta bancária para saque em qualquer estabelecimento da instituição, nada impede que a sua constrição judicial seja materializada em agência distinta daquela onde foi celebrado o contrato de depósito bancário, independentemente da expedição de carta precatória, desde que efetivada, por óbvio, em agência localizada no âmbito da competência territorial da autoridade judicial responsável pelo processamento da execução e pela emissão da ordem de apreensão.

Acontece que, nessa hipótese específica, o ato constritivo indiscutivelmente consuma-se nos limites territoriais da Comarca onde se desenrola o processo executivo, na medida em que o objeto da penhora – dinheiro do devedor – está disponível ao titular da conta bancária em qualquer agência da instituição depositária.

Lembre-se que a penhora deve ser materializada onde quer que se encontrem os bens (CPC, art. 659, parágrafo primeiro), observando-se, para tanto, a gradação legal estabelecida no artigo 655 do CPC, em cujo ápice notoriamente figura o dinheiro, em espécie, ou disponível em contas bancárias de titularidade do devedor.

A propósito, é importante alertar que eventual interpretação em sentido oposto não se harmoniza com a norma incrustada no inciso XXXV do artigo 5º da Constituição Federal, porquanto inviabiliza a imediata concretização do direito fundamental à tutela jurisdicional efetiva.

O Tribunal Superior do Trabalho assim se manifestou sobre a questão:

EMENTA: AGRAVO DE INSTRUMENTO. RECURSO DE REVISTA. EXECUÇÃO. PENHORA “ON LINE”. A penhora “on line”, através do sistema BACENJUD, ainda que feita em agência localizada em outra comarca, não ofende o princípio constitucional da competência territorial,

porquanto o contrato de depósito é celebrado entre o Banco e o correntista e não entre este e a agência. Agravo de instrumento improvido. 122

Do corpo do acórdão destaca-se:

O tema respeitante à possibilidade da penhora de crédito em conta corrente, através do Sistema BACENJUD via “on line”) tem completo apoio nos arts. 339, 341, 399, 591, 649 E 671 do CPC, que a permitem, não havendo falar-se em ilegalidade nem em ofensa aos dispositivos constitucionais invocados. Tais dispositivos legais dispõem que o devedor, para cumprimento de suas obrigações, responde com todos os seus bens, presentes e futuros, salvo as exceções legais, apontam quais os bens são absolutamente impenhoráveis, entre os quais não se encontra o ora em questão e deixam clara a possibilidade de a penhora recair em crédito do devedor.

A decisão tem também alicerce no Provimento da Corregedoria Geral deste C. TST, de nº 01/2003, não havendo falar-se em extrapolação dos limites da competência territorial. É certo que, em geral, a constrição judicial deve ser procedida mediante carta precatória quando o bem se encontra fora da jurisdição do juízo da execução, como, por exemplo, nos casos em que a penhora deva incidir em bens imóveis localizados em outra comarca. Diferente, no entanto, é a hipótese em que a penhora deva recair sobre dinheiro do devedor, o qual se encontra depositado em agência bancária localizada em outra comarca. Neste caso, a penhora “on line” é perfeitamente possível, sem que se possa falar em falta de competência. Isto porque o contrato de depósito é celebrado entre o Banco e o correntista, sendo o primeiro mero depositário. Ou seja, o contrato não é celebrado entre o depositante e a agência bancária. O Banco pode ter agências localizadas em variadas comarcas. Aqui, repita-se, o liame estabelece-se entre o Banco e o correntista ou depositante. Assim, a ordem de bloqueio da conta fora dos limites da jurisdição do juízo da execução, não fere o princípio da competência territorial, mas, antes, adequa-se perfeitamente aos princípios informadores do processo do trabalho, notadamente o da celeridade, circunstâncias que, em boa hora, conduziram a Corregedoria Geral da Justiça do Trabalho a editar o Provimento mencionado.

Em suma, o depósito feito na Agência de Barueri, na cidade de São Paulo, deve ser reputado sob a jurisdição do Juízo da Vara do Trabalho de Belo Horizonte-MG, por ser a referida agência mero departamento da instituição bancário-financeira que, por sua vez, tem filial no Juízo de origem, do que decorre que a penhora podia e pode mesmo ser feita por simples ofício dirigido ao Banco Central ou por mero comando eletrônico, como autoriza o convênio BACENJUD, sem que com isso fique sacrificada a defesa da executada.

Desta opinião partilha Marcos Neves Fava:

Determinada ordem judicial em execução que estabeleça o bloqueio de contas correntes, ou a penhora de direito ali depositado, para alcançar eficácia, é preciso ser cumprida imediatamente, não se podendo tolerar a necessidade, por exemplo, de expedição de tantas cartas precatórias

122 BRASIL. Tribunal Superior do Trabalho. Recurso de Revista n. 314/2001-111-03-40. 2a Turma.

Relator Juiz Convocado Horácio Senna Pires. DJ. 09 set. 2005. Disponível em <http://www.tst.gov.br>. Acesso em 14 jan. 2008.

quantas forem as agências do Banco depositário em todo território nacional. Conclusão dessa natureza feriria de morte o processo, em nome da honra ao formalismo exacerbado. O juiz de São Paulo pode, porque dentro de sua jurisdição, ordenar a qualquer banco que aqui tenha sede ou filial, que promova o imediato bloqueio dos valores do correntista devedor, mesmo que sua conta não esteja cadastrada na agência desta capital, mas na de outra cidade. Cuida-se, com isto, de tratar com eficácia a ordem, sem permitir o descumprimento do comando sentencial, ou a movimentação – o escoamento – dos valores depositados em contas dos devedores. Conceber cabível a proibição de bloqueio on line e com a amplitude nacional é dar ao juiz um burrico e uma pequena vara, para que ele tente perseguir os rebanhos de dinheiro que flutuam velozmente pelas estradas da Internet. Mais do que isto, a conseqüência da proibição em análise identifica-se com a anulação de um dos instrumentos mais eficazes no cumprimento das sentenças continentes de obrigação de pagar. 123

Em suma, à luz do direito fundamental à tutela jurisdicional efetiva, cristalizado no inciso XXXV do artigo 5º da Constituição Federal, outra saída não resta senão concluir que os fundos do devedor disponíveis em contas correntes bancárias de sua titularidade, vinculadas a quaisquer das agências estabelecidas no território nacional, estão sujeitos à penhora pelo Juízo da execução independentemente da expedição de carta precatória.