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Tendo em vista que a execução trabalhista constitui um conjunto de atos que visam a realização prática do conteúdo obrigacional contido no título executivo judicial ou extrajudicial, permitindo a constrição e a expropriação dos bens do devedor, necessário se faz, mesmo que sinteticamente, apontar os princípios que norteiam o processo de execução, para o que adotaremos a doutrina de Manoel Antônio Teixeira Filho na espécie. 53

4.2.1 Princípio da Igualdade de Tratamento das Partes

O principio encontra fundamento no artigo 5º, caput da Constituição Federal que estabelece a igualdade todos perante a lei. Nesse sentido, observamos o comentário de Carlos Henrique Bezerra Leite:

É claro que no processo do trabalho o juiz deve sempre levar em conta a desigualdade substancial que, via de regra, existe entre os sujeitos da lide, mesmo porque o credor é o empregado economicamente mais fraco que necessita da satisfação de seus créditos, que invariavelmente têm natureza alimentícia, enquanto o devedor é, em linhas gerais, o economicamente forte. 54

4.2.2 Princípio da Natureza Real da Execução

Ultrapassado o tempo em que o comprometimento da integridade física ou liberdade do devedor era elemento integrante da execução que se dava em caráter pessoal, como o exemplo da Lei das XII Tábuas citado por Manoel Teixeira Filho na obra já referida. A Convenção Americana sobre Direitos Humanos, ratificada pelo Brasil através do Decreto nº 678 de 1992, constitui vedação a prisão por dívida, matéria também tratada na Constituição Federal Brasileira dentre os direitos fundamentais de primeira geração (artigo 5º, inciso LXVII).

A execução por dívida deixou de recair sobre a pessoa do individuo para recair sobre seu patrimônio conforme bem estatuído pelos artigos 591 e 646 do CPC, detendo, portanto, natureza patrimonial ou, ainda, real.

4.2.3 Princípio da Limitação Expropriatória

Determina a lei que o devedor responde com todos os seus bens presentes e futuros para o cumprimento das suas obrigações. Tal preceito sofre limitação enquanto que somente a quantidade de bens necessárias ao cumprimento da obrigação deverá ser objeto de constrição e expropriação, tal como se vê das limitações contidas nos artigos 615-A § 2º, 659 e 692 do CPC. Realizada a penhora que fica limitada aos bens suficientes para garantia da dívida deverá ser determinado o cancelamento da averbação da execução sobre os bens

remanescentes, bem como, obtido na expropriação de tais bens, valores suficientes ao cumprimento da obrigação, a arrematação dos demais bens penhorados deverá ser suspensa.

4.2.4 Princípio da Utilidade para o credor

A execução deve ser útil ao credor, evitando-se, assim, os atos que possam comprometer tal utilidade, princípio que repousa nos termos do artigo 659, §§ 2º e 3º, do CPC, bem como no artigo 40, § 3º, da Lei 6.830/80. A penhora não será levada a efeito quando evidente que o produto da execução dos bens encontrados será totalmente absorvido pelo pagamento das custas da execução. Em não sendo encontrados bens passíveis de penhora, serão somente relacionados aqueles que guarnecem a residência do devedor de modo que se verifique da utilidade de penhora de tal patrimônio.

4.2.5 Principio da Não-Prejudicialidade ao Devedor

Quando por vários meios o credor puder promover a execução, o juiz mandará que se faça pelo meio menos gravoso para o devedor conforme dispõe o artigo 620 do CPC, tema ao qual dedicamos breve estudo na seção 3.2 da presente dissertação, não sendo por demais lembrar a lição de Carlos Henrique Bezerra Leite em se tratando de direito processual do trabalho:

Na verdade essa norma contém um substrato ético inspirado em princípios de justiça e eqüidade. Todavia, é preciso levar em conta que, no processo do trabalho, é o credor – empregado – que normalmente se vê em situação humilhante, vexatória, desempregado, e, não raro, faminto.

Afinal, o processo civil foi modelado para regular relações civis entre pessoas presumivelmente iguais. Já o processo do trabalho deve amoldar- se à realidade social em que incide, e, nesse contexto, podemos inverter a regra do artigo 620 do CPC para construir uma nova base própria e específica do processo laboral: a execução deve ser processada de

maneira menos gravosa ao credor.

Com isso, em caso de conflito entre o principio da não-prejudicialidade e o princípio da utilidade ao credor, o juiz do trabalho deve dar preferência para este último, quando o credor for o empregado. 55

4.2.6 Principio da Especificidade

Nas execuções das obrigações para entrega de coisa, de fazer ou não fazer, conforme contemplado nos artigos 627 e 633 do CPC, o credor tem direito de receber o bem de vida objeto da obrigação sob pena de conversão em pecúnia e perdas e danos. A longa data a aplicação do princípio em questão não comporta divergências na doutrina e jurisprudência em tais espécies de execução. Outrossim, cumpre a sua aplicação também às execuções por quantia certa, eis que nesta o credor tem direito a receber o bem de vida almejado, preferencialmente, qual seja, o dinheiro em espécie.

4.2.7 Princípio da responsabilidade pelas despesas processuais

As despesas processuais da execução correm por conta do devedor, mesmo em caso de remição (artigo 651 do CPC e 789-A da CLT). Segundo Carlos Henrique Bezerra Leite:

Sabe-se que as despesas processuais constituem gênero que tem como espécie as custas, os emolumentos, as despesas com publicação de editais, os honorários advocatícios e os honorários periciais. Quanto a estes últimos, é possível que eles surjam posteriormente à sentença, caso em que por eles responderá, a princípio, o devedor. 56

4.2.8 Princípio do Não-Aviltamento do Devedor

Esse princípio é o corolário do principio fundamental da dignidade da pessoa humana, consagrado no artigo 1º, inciso III, da CF. Na legislação infraconstitucional o principio se mostra presente no artigo 649 do CPC e na Lei 8.009/90 que dispõem sobre a impenhorabilidade de certo bens, como por exemplo, a moradia do devedor ou de sua família.

4.2.9 Princípio da Livre Disponibilidade do Processo pelo Credor

Segundo Carlos Henrique Bezerra Leite esse princípio se desdobra em outros subprincípios:

a) possibilidade da execução trabalhista ser iniciada pelo próprio juiz de ofício (CLT, art. 878);

b) riscos da execução provisória (CPC, art. 587, parte final, e 588, I); c) respeito a coisa julgada (CLT, art. 879, § 1º);

d) direito de prelação do credor (CPC, art. 612), isto é, o credor tem direito de preferência sobre os bens penhorados:

e) existência da execução apenas sobRe os bens penhoráveis ou alienáveis, ressalvando-se a existência de bens absolutamente impenhoráveis (CPC, art. 649; Lei 8.009/90) e bens relativamente penhoráveis (CPC, art. 650);

f) indicação, pelo credor, do tipo de execução, sendo esse subprincípio de duvidosa aplicação no DPT, tendo em vista a possibilidade da execução ex-

officio;

g) necessidade de intimação do cônjuge, desde que a penhora incida sobre bem imóvel (Lei 6.830/80, art. 12, § 2º; CPC, art. 699) – (Observamos aqui a revogação do artigo 669 do CPC pela Lei 11.382/2006, passando a matéria a ser tratada no artigo 655, § 2º do CPC por força da referida alteração legislativa).

h) alienação antecipada de bens (deterioráveis, avariados, alto custo de sua guarda ou conservação, ou semoventes), de acordo com os arts. 670, II, 1.113, caput e parágrafos, do CPC);

i) competência da execução, em princípio, dos órgãos de primeiro grau (CLT, arts. 877, 877-A e 878). 57

Araken de Assis citado por Cleber Lúcio de Almeida faz alusão aos seguintes princípios:

[...] princípios do título (a ação executiva “sempre se baseará em título executivo”), da responsabilidade (de ordinário, a execução recairá sobre os bens do executado, que respondem pelo cumprimento de suas obrigações (art. 591), do resultado (“a execução se realiza no interesse do credor. Toda execução deve ser específica. É bem sucedida , de fato, quando entrega ao credor, exatamente, o objeto da prestação inadimplida e seus consectários”), e da adequação (“a relação entre o meio executório e o bem, objeto da prestação, se governa pelo princípio da adequação. Em síntese, aplicar-se-á, na execução, a via executiva idônea para atingir o bem, quando por mais de um modo pode ser efetuada”). 58

Desta feita, passaremos a analisar o tema do presente estudo sob a luz dos regramentos e princípios que regem o processo de execução no âmbito dos créditos trabalhistas.

57 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de Direito Processual do Trabalho. 3a ed. São Paulo:

LTr, 2005. p. 691.