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6. SIGILO BANCÁRIO

7.2 NUMERÁRIO DISPONIBILIDADE

Antes de adentrar na discussão do tema propriamente dito, restam imprescindíveis algumas reflexões a respeito da seguinte questão: o numerário vinculado às contas correntes bancárias está disponível ao seu respectivo titular em qualquer uma das agências do banco ou da instituição financeira depositária ou apenas na agência instalada no local onde foi celebrado o contrato de depósito.

Segundo ensina Fran Martins:

[...] por depósito pecuniário, ou simplesmente depósito, a operação bancária segundo a qual uma pessoa entrega ao banco determinada importância em

condições convencionadas. [...] Devendo o modo de devolução do dinheiro recebido pelo banco ser convencionado entre as partes, nascem daí as diversas modalidades de depósitos. Quando, por exemplo, a retirada, por parte do depositante, é livre, podendo esse solicitar a devolução da importância depositada por inteiro ou parceladamente, diz-se que o depósito é em conta corrente. À importância inicialmente depositada poderão acrescer outros depósitos, que naturalmente aumentarão o saldo credor do depositante perante o banco; cada vez que o depositante retira uma importância do banco faz-se a dedução no seu saldo. Para controle das retiradas de numerário, o banco fornece aos depositantes cadernetas

de poupança, por onde se verificará, a cada momento, o estado da conta do

depositante; [...] Em se tratando de contas de intenso movimento, em vez de caderneta o banco costuma fornecer mensalmente um extrato da conta corrente. Em regra, faz-se a retirada das importâncias depositadas mediante a emissão de cheques contra os bancos, fornecendo esses os talões de cheques necessários para a movimentação de suas contas, mediante pagamento módico. Podem, entretanto, os depositantes retirar as importâncias depositadas por meio de recibos ou outras modalidades. Uma simples carta do depositante autorizando o banco a efetuar o pagamento de certa importância a pessoa determinada é documento suficiente para que o pagamento seja efetuado, deduzindo-se a importância autorizada do saldo do cliente. 120

Nos estritos termos da alínea a’, do parágrafo 2o, do artigo 4o, da Lei 7.357/85, “os créditos constantes de conta corrente bancária não subordinados a termo” constituem fundos disponíveis do respectivo titular perante determinado

banco ou instituição financeira.

Repita-se, dada a importância: fundos disponíveis do emitente - assim entendido o sacador, titular da conta corrente bancária - que se encontra em poder do sacado, a saber, o banco ou a instituição financeira responsável pelo pagamento da quantia identificada no respectivo título. Significa dizer, em outras palavras, que os valores ligados às contas correntes bancárias constituem fundos disponíveis que as pessoas físicas e/ou jurídicas detêm perante as respectivas entidades financeiras depositárias, aí compreendidas todas as agências que compõem a sua rede.

É evidente que a relação ora em comento não se estabelece entre o cliente e a agência específica do banco ou da instituição financeira onde foi celebrado o contrato de depósito e aberta a respectiva conta corrente bancária. Dita conclusão resulta de simples exegese do artigo 3o da Lei 7.357/85, que nitidamente preceitua que o cheque é emitido contra banco ou instituição financeira que lhe seja equiparada, e não contra uma específica unidade da sua rede.

120 MARTINS, F. Contratos e Obrigações Comerciais. 15. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2001, p.

Nesse passo, se o vínculo em apreço instaura-se entre o cliente e o sacado, outra saída não resta senão concluir que os fundos de que trata o parágrafo 2o, do artigo 4o, da Lei 7.357/85, estão disponíveis ao titular da conta corrente em qualquer uma das agências do banco ou da instituição financeira depositária, independentemente do local onde foi pactuado o contrato de depósito e aberta a respectiva conta. Tanto que o artigo 11 da Lei 7.357/85 enuncia, com absoluta nitidez, que o cheque pode ser pagável no domicílio do terceiro, quer na localidade em que o sacado tenha domicílio, quer em outra, desde que o terceiro seja banco.

Na mesma linha, prevê o inciso I do artigo 2o da Lei 7.357/85 que, na falta de indicação especial no cheque, é considerado lugar de pagamento o lugar designado junto ao nome do sacado. Por outro lado, se forem designados vários lugares, o cheque é pagável no primeiro deles. Porém, se não existir qualquer indicação, será pagável no lugar de sua emissão.

Diariamente os clientes desfrutam e se beneficiam das crescentes facilidades introduzidas pelas inovações tecnológicas no segmento bancário. Atualmente, nada impede que o titular de uma conta corrente vinculada à agência do Banco do Brasil de Porto Alegre/RS, por exemplo, saque valores ou então pague dívidas retratadas em títulos nas agências ou nos caixas eletrônicos da instituição espalhados por todas as demais cidades do Brasil, inclusive em localidades longínquas, valendo-se, para tanto, do simples operação realizada com seu cartão magnético.

Lembra Fábio Ulhoa Coelho:

Quando se diz que alguém abriu uma conta no banco, em termos técnicos, essa pessoa celebrou contrato de depósito bancário. (...) É o mais comum dos contratos bancários. Na complexa sociedade dos tempos atuais, raras são as pessoas que não precisam manter contrato de depósito com pelo menos um banco. Seja para receber salário, fazer compras parceladas, facilitar o pagamento de serviços essenciais ou simplesmente guardar economias, as pessoas em geral devem contratar com um banco o depósito de dinheiro. A entrega e a restituição dos recursos monetários, bem como a remuneração pelos serviços bancários prestados e o recolhimento de impostos incidentes sobre as operações são registrados em conta corrente, através de lançamentos contábeis de crédito e débito. A devolução ao cliente, ou a entrega a terceiro por ele indicado, do dinheiro depositado à vista deve ser feita de pronto pelo banco, quer dizer, assim que recebe qualquer ordem válida do depositante nesse sentido. O cheque e o cartão de saque são conhecidos instrumentos de solicitação de restituição do dinheiro depositado.

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As alternativas até aqui esmiuçadas por si só evidenciam que os fundos estão disponíveis ao titular em qualquer agência do banco ou da instituição financeira depositária, independentemente da localidade onde foi celebrado o contrato de depósito bancário.

Ultrapassada tal discussão, cumpre indagar se os fundos disponíveis do devedor, conectados a contas correntes bancárias vinculadas a agências instaladas em Comarcas distintas daquela onde tramita a execução, podem ser penhorados nas agências da respectiva instituição financeira que se situam no âmbito da competência territorial do Juízo da execução, independentemente da expedição de carta precatória.