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2.3 VÍNCULO DE PARENTESCO

2.5.3 Competências dos pais quanto à pessoa dos filhos menores

O artigo 1.634 do atual Código Civil enumera taxativamente os direitos e deveres relativos ao poder familiar, que devem ser exercidos pelos pais na pessoa dos filhos, conforme passa a expor:

Art. 1.634. Compete a ambos os pais, qualquer que seja a sua situação conjugal, o pleno exercício do poder familiar, que consiste em, quanto aos filhos:

I - dirigir-lhes a criação e a educação;

II - exercer a guarda unilateral ou compartilhada nos termos do art. 1.584; III - conceder-lhes ou negar-lhes consentimento para casarem;

IV - conceder-lhes ou negar-lhes consentimento para viajarem ao exterior;

V - conceder-lhes ou negar-lhes consentimento para mudarem sua residência permanente para outro Município;

VI - nomear-lhes tutor por testamento ou documento autêntico, se o outro dos pais não lhe sobreviver, ou o sobrevivo não puder exercer o poder familiar;

VII - representá-los judicial e extrajudicialmente até os 16 (dezesseis) anos, nos atos da vida civil, e assisti-los, após essa idade, nos atos em que forem partes, suprindo- lhes o consentimento;

VIII - reclamá-los de quem ilegalmente os detenha;

IX - exigir que lhes prestem obediência, respeito e os serviços próprios de sua idade e condição. (BRASIL, 2002).

Nesse ínterim, compete aos pais, em relação à pessoa dos filhos menores:

I – Dirigir-lhes a criação e a educação. Segundo o entendimento da doutrina

dominante, é o mais importante direito dos filhos. Nesse sentido, cabe citar o entendimento de Gonçalves (2012, p. 418) que leciona: “é o mais importante de todos. Incumbe aos pais velar não só pelo sustento dos filhos, como pela sua formação, a fim de torná-los úteis a si, à família e à sociedade”. Assim, pode-se dizer que está associado à preparação dos filhos para a vida, tornando-os úteis à sociedade (COELHO, 2012).

O referido dever possui previsão constitucional, em seu artigo 226 (BRASIL, 1988), que determina in verbis: “os pais têm o dever de assistir, criar e educar os filhos menores, e os filhos maiores têm o dever de ajudar e amparar os pais na velhice, carência ou enfermidade”. Nesse sentido, resta claro que os filhos também possuem o dever assistencial para com a pessoa dos pais, sendo um dever de natureza mútua entre os ascendentes e descendentes.

A gravidade do referido dever encontra respaldo no aspecto de que violado tal dever, a punição dos pais é a perda da titularidade do poder familiar. Nesse aspecto, segundo leciona Diniz (2012), a inobservância ao dever moral e legal de educar e prestar assistência aos filhos acarreta na perda dos pais do poder familiar, conforme dispõe o artigo 1.638, inciso II do Código Civil: “Art. 1.638. Perderá por ato judicial o poder familiar o pai ou a mãe que: [...] II – deixar o filho em abandono; [...]” (BRASIL, 2002).

No mais, sofrerá as sanções impostas pelo Código Penal, previstas no artigo 244,

in verbis:

Art. 244. Deixar, sem justa causa, de prover a subsistência do cônjuge, ou de filho

menor de 18 (dezoito) anos ou inapto para o trabalho, ou de ascendente inválido ou

maior de 60 (sessenta) anos, não lhes proporcionando os recursos necessários ou faltando ao pagamento de pensão alimentícia judicialmente acordada, fixada ou majorada; deixar, sem justa causa, de socorrer descendente ou ascendente, gravemente enfermo:

Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos e multa, de uma a dez vezes o maior salário mínimo vigente no País. (BRASIL, 1940). (grifo nosso)

Incidem, ainda, as penalidades previstas no artigo 246, também do Código Penal, que dispõe: “deixar, sem justa causa, de prover à instrução primária de filho em idade escolar: Pena - detenção, de quinze dias a um mês, ou multa” (BRASIL, 1940).

II – Tê-los em sua companhia e guarda. Conforme preleciona Diniz (2012, p. 607):

[...] direito de guarda é, concomitantemente, um poder-dever dos titulares do poder familiar. Dever porque aos pais, a quem cabe criar, incumbe guardar. Constitui um direito, ou melhor, um poder, porque os pais podem reter os filhos no lar, conservando-os junto a si, regendo seu comportamento em relações com terceiros, proibindo sua convivência com certas pessoas ou sua frequência a determinados lugares, por julgar inconveniente aos interesses dos menores.

Nesse sentido, os pais podem, arbitrariamente, decidir os lugares que seus filhos menores poderão frequentar, se podem ou não viajar sozinho, com quais companhias podem se relacionar, ou seja, possuem competência para dar ordens, objetivando decidir o melhor para o desenvolvimento e educação de sua prole (COELHO, 2012).

Segundo o entendimento de Rodrigues (2002, p. 403), “[...] sendo o pai responsável pelos atos ilícitos praticados pelo filho menor, o direito de guarda é indispensável para que possa, sobre o mesmo, exercer a necessária vigilância”. Assim, já que a responsabilidade sobre os filhos menores atinge a esfera pessoal dos pais, estes devem manter o controle sobre a guarda dos filhos.

No mais, devem os pais considerarem a idoneidade do indivíduo cuja guarda do menor será entregue, sob pena de incidir o previsto no artigo 245 do Código Penal, in verbis: “entregar filho menor de 18 (dezoito) anos a pessoa em cuja companhia saiba ou deva saber que o menor fica moral ou materialmente em perigo” (BRASIL, 1940).

III – Conceder-lhes ou negar-lhes consentimento para casarem. Está previsto no

artigo 1.517 do Código Civil que é necessário consentimento dos pais ao casamento dos filhos com idade entre dezesseis e dezoito anos, conforme segue: “o homem e a mulher com dezesseis anos podem casar, exigindo-se autorização de ambos os pais, ou de seus representantes legais, enquanto não atingida a maioridade civil” (BRASIL, 2002).

Nesse aspecto, porém, segundo preleciona Rodrigues (2002, p. 404), “essa prerrogativa conferida aos pais, [...], não tem, no direito brasileiro, uma importância transcendental, porque o consentimento paterno pode ser suprido judicialmente”. A argumentação doutrinária encontra respaldo no artigo 1.519 do Código Civil, in verbis: “a denegação do consentimento, quando injusta, pode ser suprida pelo juiz” (BRASIL, 2002).

IV – Nomear-lhes tutor, por testamento ou documento autêntico, se o outro dos pais não lhe sobrevier, ou sobrevivo, não puder exercer o poder familiar pela incapacidade.

Esse poder só pode ser exercido se um dos cônjuges vier a falecer ou, por motivo de incapacidade, não puder exercer o poder familiar (RODRIGUES, 2002). Os pais podem, na falta deles próprios, nomear tutor aos filhos, transmitindo a responsabilidade pela criação dos menores. Nesse sentido, cumpre mencionar o entendimento de Diniz (2012, p. 608), no sentindo de que: “[...] ninguém melhor do que o genitor para escolher a pessoa a quem confiar a tutela dos filhos menores.

V – Representá-los, até os dezesseis anos, nos atos da vida civil, e assisti-los, após essa idade, nos atos em que forem partes, suprindo-lhes o consentimento. O Código Civil, em

seu artigo 1.690, regula a participação dos pais quanto à representação ou assistência, no sentido de que: “compete aos pais, e na falta de um deles ao outro, com exclusividade, representar os filhos menores de dezesseis anos, bem como assisti-los até completarem a maioridade ou serem emancipados” (BRASIL, 2002).

VI – Reclamá-los de quem ilegalmente os detenha. É permitido aos genitores

reclamar a devolução dos filhos caso alguém os detenha ilegalmente. Esse direito é concedido, inclusive, para um dos pais quando o outro desrespeitar seus direitos no tocante à companhia e guarda (COELHO, 2012).

VII – Exigir que lhes prestem obediência, respeito e os serviços próprios de sua idade e condição. A formação social do indivíduo está diretamente ligada aos valores que

aprende em casa, cumpre citar o respeito aos pais e demais familiares. Assim, parte dessa prerrogativa é que os pais possam exigir dos filhos menores o devido respeito e obediência, constituindo esse, um meio de educá-los para que possam conviver melhor em sociedade (RODRIGUES, 2002).

No tocante aos serviços próprios de sua idade e condição, insta salientar o entendimento de Coelho (2012, p. 208), no sentido de que:

Como qualquer outra manifestação do poder familiar, o direito de exigir a prestação de serviços próprios de sua idade e condição só existe se destinado à adequada preparação do filho para a vida adulta. Quer dizer, os pais não têm o direito de exigir que os filhos trabalhem fora para contribuir com a renda familiar, por mais

necessitados que sejam ou estejam. Podem, é certo, estimulá-los a tais atitudes, que são sadias e contribuem para a formação do caráter.

No mais, a Consolidação das Leis do Trabalho, em seu artigo 403, veda o trabalho do menor de dezoito anos, no sentido de que: “é proibido qualquer trabalho a menores de dezesseis anos de idade, salvo na condição de aprendiz, a partir dos quatorze anos” (BRASIL, 1943). Assim, ao menor de dezesseis anos, só é permitido o trabalho, a partir dos quatorze anos, na condição de aprendiz.

Segundo o entendimento de Coelho (2012, p. 210):

Quando a lei menciona a exigência de prestação de serviços como direito associado ao poder familiar, ela está se referindo unicamente aos que podem contribuir para a preparação do filho para a vida adulta. Isto é, à ajuda que todos os membros da família devem dar para as tarefas cotidianas. Os pais podem exigir dos filhos, por exemplo, que enxuguem a louça do jantar, ponham a mesa, levem o cão ao passeio, reguem o jardim ou outros afazeres semelhantes. Não é, aliás, despropositado que os pais remunerem modicamente tais serviços domésticos, sempre que o objetivo for de contribuir para a formação de um adulto ciente de suas responsabilidades (e não o de economizar dinheiro com empregados ou trabalhadores autônomos).

Nesse sentido, os pais podem considerar importante a introdução do menor ao mercado de trabalho, com o intuito de prepará-los para a vida adulta. De igual modo, podem incentivar o menor a realizar pequenos serviços domésticos, podendo esses serem ou não remunerados. O propósito é claro: inserir da maneira mais dinâmica possível o menor nos afazeres da vida doméstica e social, que terá de ser enfrentada na vida adulta. Assim, a preparação começa desde cedo e o filho, ao atingir a maioridade, terá alcançado maior independência e estará devidamente preparado para as responsabilidades da vida adulta.

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