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CAPÍTULO II O ESTUDO COMPARADO COMO INSTRUMENTO DE ANÁLISE

2. Complicações existentes em um estudo comparado e suas limitações 61.

No que tange ao direito público comparado, alguns problemas específicos acabam aparecendo. Tais problemas podem ocorrer na medida em que há a determinação de análises muito amplas de sistemas jurídicos diferentes.

Nesse aspecto, no teor desses estudos pode não ser possível captar as noções próprias e distintas dos diferentes sistemas. Apesar disso e até mesmo de alguns autores considerarem o estudo constitucional comparado desnecessário para a compreensão do sistema jurídico pátrio,154 esse modelo de estudo possibilita uma construção inegável de saber jurídico crítico.

Mesmo no direito público, haja vista que contribui para que a pesquisa científica no direito seja feita não só de uma maneira ampliativa como questionadora.155

O campo do direito constitucional comparado se iniciou da forma como existe hoje com influência da globalização e dissipação da noção de que cada nação embora possua seu espírito jurídico próprio, é necessário compreender as normativas jurídicas diferentes, uma vez que estas podem estar intrinsicamente conectadas. No entanto, relação entre o direito comparado e o direito constitucional é alvo de algumas críticas.

152 SOMMA, Alessandro. Giochi senza frontiere. Diritto comparato e tradizione giuridica. Revista SciELO Analytics.. Boletín mexicano de derecho comparado vol. 37. Nº. 109. 2004. Disponível em: < http://www.scielo.org.mx/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0041-86332004000100006>. Acesso em 22. nov. 2018.

153 CURY, Paula Maria Nasser. Métodos de Direito Comparado: desenvolvimento ao longo do século XX e

perspectivas contemporâneas. Revista de Estudos Constitucionais, Hermenêutica e Teoria do Direito

(RECHTD). São Leopoldo: UNISINOS, v. 6, n. 2, jul.-set. 2014. P. 181.

154 TRIBE, Laurence. American Constitutional Law. 3ed. New York: Foundation Press, 2000. P. 1334.

155 VASCONCELOS, Raphael; TIBURCIO, Carmen e MENEZES, Wagner. Panorama do Direito

Primeiramente, é preciso compreender a influência da história e dos acontecimentos marcantes nela para cada sistema jurídico estudado. A lei em uma sociedade só poderia ser explicada por meio desta história e, portanto, um estudo comparado não poderia ignorar isso. Mas contextualizar e compreender a complexidade da historicidade do texto legal é um dos grandes desafios enfrentados para uma melhor compreensão global das questões jurídicas.156

Além disso, outro desafio a ser considerado é a tendência de confundir o que é ou não norma constitucional, bem como o sentido dessas normas. Além do fato de as constituições serem utilizadas como uma expressão, ou uma forte influência, da identidade nacional de seus povos. Sendo que isso poder constituir um complicador na realização da análise comparativa, especialmente num nível funcional, haja vista que depreende maior engajamento do pesquisador para se aproximar disso a fim de entender claramente o sistema jurídico diferente.

Essas e outras críticas são muito importantes de serem levadas em consideração em uma pesquisa como esta, a fim de esclarecer algumas das limitações existentes. Sendo relevante também para uma visão crítica das informações que serão apresentadas.

Além disso, é de sumo interesse que se apresente aqui o fato de existirem espécies de métodos de pesquisa de direito comparado. Antônio Carlos Gil divide em dois grandes grupos, ou seja, “(...) os que proporcionam as bases lógicas da investigação científica e o dos que esclarecem acerca dos procedimentos técnicos que poderão ser utilizados.”157

No que tange ao primeiro, se incluem os métodos dedutivo, indutivo, hipotético- dedutivo, dialético e fenomenológico.158 Enquanto no segundo se incluem métodos que indicam os meios técnicos da investigação: experimental, observacional, comparativo, estatístico, clínico, monográfico.159 Por meio desses é possível estabelecer teorias que auxiliam na pesquisa.

156 CAMPOS, Deo. O Potencial Crítico do Direito Comparado. 2015. P. 397-409. Disponível em: <https://www.researchgate.net/publication/313888112_O_Potencial_Critico_do_Direito_Comparado> . Acesso em 01 out. 2018.

157 GIL, Antônio Carlos. Métodos e técnicas de pesquisa social. São Paulo: Atlas, 1999. P. 26-27.

158 HEINEN, Juliano. Método de direito comparado: desenvolvimento e perspectivas contemporâneas. Disponível em: <https://portalseer.ufba.br/index.php/rppgd/article/download/25147/15329> . Acesso em 22. nov 2018.

De maneira específica, Deo Campos Dutra apresenta seis diferentes espécies de estudo comparado: o funcional, o analítico, o estrutural, o histórico, o contextualizado (law in

context) e o método do núcleo comum (common core).160 A primeira objetiva identificar

respostas ou distinções comuns em sistemas jurídicos diferentes, ou seja, comparar como esses sistemas enfrentam determinada situação de conflito, o foco então é nos efeitos das normas e na formulação de soluções jurídicas para determinada disfunção social.161

A esse método comparativo funcional existem críticas baseadas na presunção de similitudes. Isso no sentido de que essa presunção é assumida em termos puramente teoréticos, sem comprovação empírica, o que conduziria a uma espécie de universalização idealizadora: todos ou ao menos alguns ordenamentos jurídicos devem conter semelhanças entre si; caso contrário, o método não teria qualquer objeto possível.162

Quanto aos outros métodos apontados, cumpre, em síntese, expor que o analítico considera e compara conceitos e definições comuns, presentes nos vários sistemas de direito, a fim de produzir soluções compartilhadas, ou mesmo produzir transplantes de um sistema a outro.163 O estrutural, por sua vez, pretende comparar toda a estrutura de dois ou mais sistemas jurídicos, sendo, portanto, bastante amplo, bem como o histórico, pois destina seu foco ao confronto da formação de institutos jurídicos ou do sistema, comparando a evolução de ambos. 164

Por fim, o contextualizado (law in context), que geralmente não é aplicado de maneira isolada, mas atrelado a outro método, uma vez que ele estabelece a necessidade de contextualização para uma eficaz análise comparativa e o Núcleo comum (common core) que tem por objetivo identificar pontos comuns entre dois sistemas jurídicos. Isso de forma a

160 DUTRA, Deo Campos. Método(s) em direito comparado. Revista da Faculdade de Direito – UFPR. Curitiba, v. 61, n. 3, set.-dez. 2016, p. 197-198.

161 HEINEN, Juliano. Método de direito comparado: desenvolvimento e perspectivas contemporâneas. Disponível em: <https://portalseer.ufba.br/index.php/rppgd/article/download/25147/15329> . Acesso em 22. nov. 2018.

162 DE CONINCK, Julie. The Functional Method of Comparative Law: Quo vadis? Rabels Zeitschrift für

ausländisches und internationales Privatrecht. 2010. p. 323. Disponível em: <

https://www.jstor.org/stable/27878873>. Acesso em 22 nov. 2018.

163 HEINEN, Juliano. Método de direito comparado: desenvolvimento e perspectivas contemporâneas. Disponível em: <https://portalseer.ufba.br/index.php/rppgd/article/download/25147/15329> . Acesso em 22. nov. 2018.

demonstrar pontos que são compartilhados por dois ou mais sistemas jurídicos, para se poder, por exemplo, estabelecer um processo de harmonização entre eles.

Cabe destacar ainda que outro método considerado por alguns autores é o da “dimensão cultural do direito comparado”.165 A partir de uma percepção que observa a

realidade atual, de modo que a diversidade cultural não pode ser desconhecida, mas ponto de partida,166para então se perfazer a comparação entre os sistemas jurídicos. Logo, todas essas espécies de métodos de pesquisa comparativa podem ser associados e aplicados conjuntamente.

3. O Direito Comparado no presente estudo da efetivação do Direito à Moradia por