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Componente espiritual: encontrando um sentido

No documento Atendimento Clínico Co-morbidades (páginas 93-97)

comorbidade da família

Aula 20 Componente espiritual: encontrando um sentido

Dando continuidade ao componente espiritual das dependências químicas, nesta aula conversaremos sobre como uma pessoa en- contra um sentido na vida, visto que é esse sentido que, quando encontrado, motiva o dependente químico a se comprometer de forma duradoura com a sua reabilitação.

“Quem tem por que viver suporta quase todo como” Nietzsche

“Há muita sabedoria nas palavras de Nietzsche [...] Nestas palavras eu vejo um lema válido para qualquer psicoterapia. Nos campos de concentração nazistas poder-se-ia ter testemunhado que aqueles que sabiam que havia uma tarefa esperando por eles, tinham as maiores chances de sobreviver” (FRANKL,1991). Para este autor, podemos descobrir um sentido na vida de três diferentes formas:

através de um trabalho;

através do amor; ou

pela atitude que tomamos frente a um sofrimento inevitável.

Figura 20.1: Formas de encontrar um sentido.

20.1 Através de um trabalho

Quando Frankl fala sobre encontrar um sentido através de um trabalho, está falando sobre encontrar uma vocação. A vocação é encontrada quando uma pessoa acha uma atividade que ela adora fazer, independente das recom- pensas que terá por essa atividade. Segundo Seligman (2009), “a vocação é a forma mais satisfatória de trabalho porque, gerando gratificação, é exerci- da pela atividade em si, não pelos benefícios materiais que acarreta”.

A vocação tem a ver com os valores de uma pessoa, pois qualquer tarefa pode se tornar uma vocação, desde que esteja satisfazendo os valores mais profundos de quem a realiza. De acordo com Seligman (2009), um coletor de lixo que veja seu trabalho como a missão de fazer do mundo um lugar mais limpo e mais saudável para se viver tem uma vocação, enquanto que um médico que trabalhe simplesmente para ganhar dinheiro não tem uma vocação.

Na vocação, existe uma conexão emocional com o trabalho realizado e a sensação de que se está contribuindo para um bem maior. É o caso de de- pendentes químicos que já passaram por um processo de reabilitação, que sentem o dever de ajudar outras pessoas que estão passando pelo mesmo que eles passaram; então encontram sua vocação se capacitando em depen- dências químicas e trabalhando em uma clínica ou comunidade terapêutica. Normalmente a vocação é encontrada a partir de alguma necessidade que a pessoa vê no mundo e que a toca emocionalmente, seja porque já sofreu por aquela necessidade, porque sempre se sentiu atraído por aquele tema ou por qualquer outro motivo que gere uma reação emocional nela.

20.2 Através do amor

O amor é a emoção que torna alguém insubstituível, que demonstra a ca- pacidade que o ser humano tem de se comprometer, de uma forma que ultrapassa a pergunta “o que você fez por mim ultimamente?” (SELIGMAN, 2009).

O artigo publicado em 2012 por Shirlei Maria de Oliveira e Mauro Fraga Paiva descreve a busca do sentido da vida por dependentes de crack numa leitura logoterapêutica. Acesse o link: http://artigos.psicologado. com/abordagens/logoterapia/ os-usuarios-de-crack-e-a- busca-de-sentido-uma-leitura- logoterapeutica-da-dependencia e-Tec Brasil Aula 20 - Componente espiritual: encontrando um sentido

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Nesse item entram os casos de dependentes químicos que tiveram força para passar as etapas mais difíceis da sua recuperação, porque encontraram um grande amor com quem queriam construir uma vida juntos, ou aqueles que tiveram um filho durante sua jornada rumo à abstinência e o amor pelo filho deu a eles forças para seguirem em frente.

20.3 Pela atitude que tomamos frente a um

sofrimento inevitável

Existem sofrimentos inevitáveis na vida, como a perda de um ente querido ou a vivência de uma doença incurável. Podemos pensar em um diabetes ou até mesmo na dependência química. Quando não somos capazes de mudar uma situação como essas, somos desafiados a mudar a nós mesmos (FRANKL, 1991).

Isso significa que uma pessoa, já que não consegue mudar a situação vivida, pode mudar a lente através da qual enxerga o sofrimento pelo qual está passando. Duas anedotas ilustram esse conceito:

Certa vez foi ao consultório do Dr. Frankl um senhor com uma depressão profunda, pois não conseguia superar a morte de sua mulher, a quem havia amado acima de tudo. Ao que Dr. Frankl lhe perguntou: “o que aconteceria se o senhor tivesse falecido primeiro e a sua esposa ficasse viúva?”. “Ah”, disse ele, “isso teria sido terrível para ela; ela teria sofrido muito.” Ao que Dr. Frankl retrucou: “Veja bem, ela foi poupada desse sofrimento, e foi o senhor que a poupou dele; mas agora o senhor precisa pagar por isso sobrevivendo a ela e chorando a sua morte.” Ele não disse uma palavra, apertou a mão do doutor e saiu calmamente do consultório.

Outra história conta que um estudante perguntou a Thomas Edison (o in- ventor da lâmpada) como ele se sentia por ter falhado 1.000 vezes na sua tentativa de criar a lâmpada. Ao que ele respondeu: “eu não falhei nenhuma vez; inventei a lâmpada incandescente, só que foi em um processo de mil etapas.”

Isso representa o sentido advindo da atitude que tomamos frente a um so- frimento inevitável.

Gostaríamos de fechar esta aula com uma máxima da logoterapia:

“Viva como se já estivesse vivendo pela segunda vez, e como se na primeira vez você tivesse agido tão errado como está prestes a agir agora”.

Resumo

Nesta aula estudamos as três diferentes formas que Viktor Frankl, fundador da logoterapia, diz que podemos usar para descobrir um sentido na vida: através de um trabalho, através do amor ou pela atitude que tomamos fren- te a um sofrimento inevitável.

Atividades de aprendizagem

1. O que é logoterapia?

2. Para o indivíduo dependente químico encontrar o sentido da vida não é tarefa fácil, mas ele poderá procurar através de três formas. Quais são elas?

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Aula 21 – A porta de entrada para o

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