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O efeito social no dependente químico

No documento Atendimento Clínico Co-morbidades (páginas 85-89)

comorbidade da família

Aula 18 O efeito social no dependente químico

Depois de vermos conceitos de influência social, a organização do tráfico de drogas e como ele utiliza a influência para promover seu produto, nesta aula vamos encerrar o componente social das dependências químicas entendendo o que acontece na vida social do dependente químico, a partir do momento em que ele começa a usar drogas.

O componente social, de forma mais intensa que os outros componentes, é tão afetado pelo uso de drogas quanto é responsável pelo seu início. Isso quer dizer que, na grande maioria das vezes, os lugares frequentados e as pessoas de convívio diário do sujeito têm papel determinante no início do uso de drogas e, conforme a dependência química se instala, os lugares que frequenta e as pessoas com que convive vão mudando, sempre compatíveis com o nível de adoecimento em que ele se encontra.

18.1 Os primeiros efeitos no componente

social

As primeiras mudanças sociais observadas no início do uso de drogas cor- respondem ao abandono de obrigações e valores – é a perda do chamado vínculo social (ENRIQUEZ, 2001). Por exemplo, o adolescente que começa a usar drogas passa a tirar notas baixas na escola, a faltar nas aulas e a desres- peitar as autoridades escolares, desvalorizando sua relação com a escola en- quanto instituição. O adulto usuário de drogas começa a faltar no trabalho, provoca acidentes, gerando vítimas inocentes, abandona responsabilidades familiares, infringe as leis, entre outros atos que representam a quebra do vínculo social.

A dissolução deste vínculo, provocada pelo uso de drogas, está relaciona- da, em grande parte, às características psicológicas do dependente químico, como a incapacidade de reconhecer as necessidades dos outros (usa as pes- soas e gera vítimas pelo abuso de drogas), a falta de limites (faz qualquer coisa pela droga, abandona escola, família etc.) e a sua relação com a trans- gressão da lei (ignora as normas e regras existentes), como conversamos nas aulas anteriores.

Figura 18.1: A crescente prioridade das drogas para o dependente.

Fonte: Lary Tetz, (2013).

Conforme a dependência química se instala, essas características psicológi- cas vão se desenvolvendo e a droga vai assumindo um posto de cada vez mais prioridade na vida do dependente químico. É como se houvesse uma balança, na qual em um dos lados estão os valores, as normas e as expectati- vas da comunidade a que pertence; e do outro lado da balança está a droga. A dependência química faz com que o lado da droga tenha tanto peso que torna insignificante o peso que os valores e normas possuíam antes do uso de droga para o dependente.

É esse movimento que faz com que os primeiros efeitos sociais ocorram e se agravem progressivamente.

18.2 Os lugares e as companhias

Como conversamos nas primeiras aulas sobre o componente biológico, a droga se relaciona com o sistema de recompensa do cérebro de uma forma mais intensa do que os próprios comportamentos de sobrevivência. Dessa forma, podemos entender por que quando a dependência química se insta- la, a droga passa a assumir cada vez mais prioridade na vida do dependente químico, tornando-se mais importante do que a sua própria sobrevivência.

Um estudo realizado pela Universidade de Pittsburgh nos EUA, com 720 adultos, considerou o consumo moderado do álcool como fortalecedor do vínculo social. Mas, como perceber que estamos ultrapassando esse limite? Para conhecer detalhes desse estudo, acesse http://veja.abril.com. br/noticia/ciencia/consumo- moderado-de-alcool-reforca- vinculos-sociais

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experimentos apresentados anteriormente demonstraram que as pessoas tendem sempre a buscar a conformidade de acordo com o ambiente ou com o grupo em que está.

Acontece que no caso do dependente químico a necessidade da droga é muito forte para que ele abra mão dela, e se mantenha em conformidade com sua família, seus amigos de infância, sua escola ou seu trabalho. Então, ele vai buscar pessoas e lugares que permitam que ele se sinta em conformi- dade, mesmo usando drogas. Vai se juntar a outros usuários de drogas e vai frequentar locais em que a droga esteja disponível e seja “bem vista”. Por isso, o dependente químico se afasta da família, dos amigos de infância que não usam, começa a andar com um pessoal mais “da pesada” segundo os pais, diminui a frequência escolar e/ou no trabalho, começa a frequentar locais considerados apropriados para o uso de drogas, como bares, boates, bailes funks, prostíbulos, matas fechadas e cemitérios que, em atendimen- tos, são relatados como locais ideais para usar drogas (AFORNALI & MES- TRES, 2011).

A partir dos efeitos sociais da dependência química, podemos ver claramen- te como cada um dos componentes está intimamente vinculado com os outros: o biológico, com o psicológico, com o familiar e com o social. Assim podemos ir assimilando de forma mais concreta a importância de contem- plar as comorbidades presentes em cada componente da doença em um programa de reabilitação, pois um componente deixado de lado pode com- prometer todo um tratamento. E assim encerramos o componente social das dependências químicas.

Resumo

Nesta aula vimos que os primeiros efeitos sociais do uso de drogas é a perda do chamado vínculo social, quando o sujeito abre mão das suas obrigações e dos seus valores e começa a colocar a droga cada vez mais como prioridade na sua vida. Vimos também que conforme a dependência química se instala, o dependente vai mudando os lugares e as pessoas do seu convívio, para se manter em conformidade com seu meio social, enquanto usa drogas.

Atividade de aprendizagem

• Liste quais são os locais considerados mais apropriados para o uso de drogas pelos dependentes, segundo o texto.

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Aula 19 – O componente espiritual das

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