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Os papéis do pai e da mãe dentro da família

No documento Atendimento Clínico Co-morbidades (páginas 69-73)

recompensa (SCR) e as drogas

Aula 14 Os papéis do pai e da mãe dentro da família

Dando continuidade ao componente familiar das dependências químicas, nesta aula conversaremos sobre os papéis de pai e de mãe, que devem existir dentro de qualquer família, e que não correspondem necessariamente ao pai e à mãe, mas podem ser desempenhados por qualquer pessoa que seja responsável pelos filhos. Também começaremos a relacionar as disfunções que ocor- rem dentro da família com o que foi visto nas aulas sobre a psico- logia do dependente químico.

Vamos entender o “papel” como um conjunto de comportamentos que podem ser desempenhados por qualquer integrante da família, não sendo necessariamente o pai a exercer o papel de pai e nem necessariamente a mãe a exercer o papel de mãe. É importante ter isso claro pelo fato de que, independente da formação da família (mãe solteira, pai solteiro ou apenas os avós), é possível que os papéis de pai e de mãe sejam desempenhados de maneira equilibrada também.

14.1 O equilíbrio dos papéis de pai e de mãe

A figura de autoridade que, segundo Kalina (1991), falta nas famílias que possuem um caso de dependência química corresponde ao papel de pai, figura fundamental para cumprir o objetivo da família de promover indepen- dência e maturidade para os filhos. Essa figura de autoridade, representada pelo papel de pai, impõe limites, dá direcionamento, estimula e exige auto- nomia e independência dos filhos.

O papel de mãe, no entanto, corresponde a comportamentos de cuidado, controle e proteção. O melhor exemplo de papel de mãe é a relação entre uma mãe e o filho recém-nascido – ela “faz tudo por ele”, supre necessi- dades, controla horário e o que está fazendo, cuida para que esteja bem, demonstra todo seu afeto e carinho pelo filho.

O papel de mãe é muito útil no início da vida de qualquer pessoa, pois é através dele que o sujeito vai constituir uma boa base de autoestima e au- tocuidado, sentindo-se amado e valorizado. Enquanto o papel de pai entra conforme o filho vai adquirindo capacidade, justamente para quebrar essa relação de “fazer tudo pelo filho”, estimulando a independência dele, para que aprenda a se virar sozinho.

O papel de pai vai contribuir para que o filho construa, a partir da base de autoestima fornecida pelo papel de mãe, condições de ser independente, lutando pelos seus próprios objetivos.

É o equilíbrio entre os dois papéis que vai contribuir para que o filho desen- volva aquelas características correspondentes à maturidade emocional sobre as quais conversarmos nas aulas anteriores – pensar a longo prazo, adiar satisfação e reconhecer as necessidades dos outros – cumprindo o objetivo da família de tornar os filhos independentes.

14.2 A disfunção do papel de pai

Vamos imaginar a seguinte situação: O pai leva o filho para comprar pão no final da tarde, e o filho pega um chocolate escondido na panificadora. E o pai só se dá conta do que o filho fez quando já estão no carro. Um bom exemplo de papel de pai seria o pai levar o filho novamente à panificadora, dizendo para ele que o que ele fez foi errado, explicando o problema que isso pode gerar para a atendente, fazendo-o devolver o chocolate e pedir desculpas à moça do caixa por ter feito isso.

Por que isso é papel de pai? Porque essa atitude está ensinando ao filho que ele é responsável por suas ações, e deve assumir as consequências do que faz, além de mostrar para ele que existem outras pessoas no mundo e que ele não pode ignorá-las, como fez com a moça do caixa. Está amadurecendo o filho e capacitando-o para a vida.

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Neste caso, o filho, ao invés de aprender que é responsável pelas suas ações e que existem outras pessoas no mundo, ele está aprendendo que é um sem-vergonha, que não tem jeito e incapaz de fazer alguma coisa direito. É uma limitação, e com limitações o filho vai perdendo a esperança em si mesmo.

Figura 14.1: Limitação.

Fonte: Lary Tetz, (2013).

14.3 A disfunção do papel de mãe

No caso do papel de mãe, “fazer tudo pelo filho” é perfeito quando ele é um recém-nascido, incapaz de fazer qualquer coisa por si mesmo. No entan- to, a disfunção do papel vem conforme o filho cresce, e os pais insistem em “fazer tudo pelo filho”, tratando-o como se continuasse incapaz de fazer qualquer coisa por conta própria.

Figura 14.2: A disfunção do papel de mãe.

Fonte: Lary Tetz, (2013).

Quando ocorre isto, o filho, ao invés de construir sua autoestima, que é o objetivo do papel de mãe, ele aprende que continua sendo incapaz de fa- zer as coisas por conta própria e que sempre vai depender de alguém que faça as coisas por ele e para ele. Nessa disfunção entram principalmente os

Assista o vídeo sobre reflexão de relações familiares entre pais e filhos disponível eem: https:// www.youtube.com/watch?v=ig_ i19A-O0A

comportamentos de superproteção ou comportamentos de desvalorização. Mães superprotetoras ou excessivamente críticas assumem esta disfunção do papel de mãe.

As disfunções dos papéis são muito comuns nas famílias que possuem um caso de dependência química, e são completamente compatíveis com as características psicológicas que vimos do dependente químico. Ele é imaturo emocionalmente, dependente emocional e financeiramente de alguém, não sabe lidar com frustrações, entre outras características que são estimuladas pelas mensagens de incompetência e dependência que os papéis disfuncio- nais de mãe e de pai transmitem aos filhos.

Resumo

Nesta aula vimos que o papel de mãe corresponde a comportamentos de cuidado, controle e proteção, e é responsável pela base de autoestima do filho, enquanto que o papel de pai corresponde a comportamentos de limi- te, direcionamento e exigência, e é responsável pela crescente autonomia e independência dos filhos. Vimos também que o equilíbrio desses papéis promove o amadurecimento emocional dos filhos e que a disfunção deles é muito comum nos casos de dependências químicas.

Atividade de aprendizagem

• Segundo Kalina, qual o papel que falta nas famílias que possuem um caso de dependência química? O que este papel representa?

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Aula 15 – Codependência: a

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