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Componentes da Adequação Didática

No documento Aprendizagem do conceito de limite (páginas 69-73)

2. Fundamentação Teórica

2.3. Perspetiva Ontosemiótica do Ensino e Aprendizagem da Matemática

2.3.2. Componentes da Adequação Didática

Tal como já referi, um dos níveis de análise deste enfoque é a adequação didática, que, segundo Godino (2011), permite elaborar uma teoria sobre a planificação, “para orientar os processos de ensino e aprendizagem da Matemática e de outras áreas curriculares” (p. 3). O autor esclarece que, quando se refere a instrução, refere-se “à articulação entre as atividades de ensino e aprendizagem dirigidas para uns fins educativos específicos, condicionadas por restrições do contexto e apoiadas no uso de determinados meios tecnológicos” (Godino, 2011, p. 3).

Segundo o autor, a adequação didática e suas dimensões foram incluídas no enfoque ontosemiótico, no sentido de se passar de uma “didática descritiva-explicativa para uma didática normativa, isto é, uma didática que se oriente para a intervenção efetiva na aula” (Godino, 2011, p. 5).

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Além disso, Godino (2009) apresenta um guia sobre o conhecimento matemático-didático do professor de Matemática, que pode ser utilizado para “(i) a avaliação de situações introdutórias em processos formativos para o desenvolvimento de competências profissionais, (ii) como “questionário” de autoavaliação e reflexão do professor sobre aspetos relevantes da sua própria prática, e (iii) como instrumento de um avaliador externo para avaliar um processo de estudo implementado” (p. 25). O autor refere que esta estratégia de reflexão e avaliação pode ser importante na formação inicial de professores, no sentido de os fazer refletir acerca da sua prática e os levar a melhorar cada vez mais a adequação didática. Assim, a noção de adequação didática “pode ser o ponto de partida de uma teoria da instrução matemática orientada para a melhoria progressiva do ensino” (Godino, 2011, p. 1).

Apresento, de seguida, mais pormenorizadamente, a noção de adequação didática (representada na figura) e cada uma das suas componentes.

Figura 2.6: Adequação didática (Godino, Batanero & Font, 2008, p. 24)

Atingir uma alta adequação didática é um processo complexo, uma vez que estão envolvidas várias componentes não diretamente observáveis. Deste modo, é necessário haver indicadores de adequação didática.

MEDIACIONAL (Disponibilidade)

55 As várias componentes da adequação didática, segundo Godino (2011), são:

 Adequação epistémica está relacionada com “a medida em que os significados institucionais implementados (ou pretendidos) representam bem um significado de referência” (p. 8). O significado de referência diz respeito ao “nível educativo em que tem lugar o processo de estudo e deverá ser elaborado tendo em conta os diversos tipos de problemas e contextos de uso do conteúdo objeto de ensino, assim como as práticas operativas e discursivas requeridas” (p. 8).

O autor propõe, como forma de atingir uma alta adequação epistémica, a utilização de situações-problema ou tarefas ricas, mas também a uma boa articulação entre as várias formas de representação ou meios de expressão. Por outro lado, estas tarefas devem proporcionar aos alunos várias formas de abordagem, várias formas de representação, devem levá-los a conjeturar, a interpretar, a generalizar e a justificar as soluções. Mas, para além disto, o autor refere ainda as conexões matemáticas.  Adequação cognitiva está relacionada com “o grau em que os significados

pretendidos/implementados estão na zona de desenvolvimento potencial dos alunos, assim como a proximidade dos significados pessoais alcançados aos significados pretendidos/implementados” (p. 5). Para que a adequação cognitiva seja atingida, segundo o mesmo autor, os alunos deverão apropriar-se dos significados institucionais pretendidos, “mediante a participação na comunidade de práticas gerada na aula” (p. 10). Deste modo, deverá haver uma aproximação cada vez maior entre os significados pessoais iniciais dos alunos e os significados institucionais planificados.

 Adequação afetiva está relacionada com o “grau de implicação, interesse e motivação dos alunos” (p. 10). Segundo este autor, a resolução de problemas envolve, para além das “práticas operativas e discursivas”, a mobilização de “crenças, atitudes, emoções ou valores” que condicionam, de certa forma, a resposta cognitiva requerida (p. 11).

 Adequação interacional “é o grau em que os modos de interação permitem identificar e resolver conflitos de significado, favorecem a aprendizagem e o desenvolvimento de competências comunicativas” (p. 11). Assim, os indicadores desta dimensão da adequação didática baseiam-se nas interações professor-aluno e aluno-aluno. O autor, invocando o socioconstrutivismo, valoriza os momentos em

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que os alunos assumem a responsabilidade da aprendizagem, ressaltando a importância do diálogo na sala de aula.

O autor refere ainda que as interações entre os alunos poderão conduzir a momentos de reflexão a partir do que os pares dizem, permitindo assim o alcance de níveis de compreensão mais elevados. “A negociação explícita, a intervenção, a discussão, a cooperação e a avaliação são elementos essenciais num processo de aprendizagem construtivo em que os métodos informais do aluno são usados como uma plataforma para alcançar os métodos formais. Nesta instrução interativa, os alunos são estimulados a explicar, justificar, concordar e discordar, questionar alternativas e refletir (Van den Heuvel-Panhuizen & Wijers, 2005: 290)” (p. 12). Assim, o professor deverá guiar os alunos, mas deixá-los pensar por si próprios e mostrar-lhes que têm um papel determinante no processo de aprendizagem.

 Adequação mediacional é o “grau de disponibilidade e dos recursos materiais e temporais para o desenvolvimento do processo de ensino-aprendizagem” (p. 13). Na ótica de Godino (2011), citando o NCTM (2000), a tecnologia, se for devidamente utilizada, poderá influenciar positivamente o processo de ensino e aprendizagem, ajudando mesmo no desenvolvimento da compreensão dos alunos e na estimulação do seu interesse.

 Adequação ecológica é o “grau em que um plano ou ação formativa para aprender Matemática é adequado dentro do contexto em que se utiliza” (p. 14). No fundo, a adequação ecológica está relacionada com todas as condicionantes externas ao processo de ensino e aprendizagem e que o influenciam.

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