• Nenhum resultado encontrado

2.3. COMPONENTES DE SAÚDE: PERFIL ANTROPOMÉTRICO E DESEMPENHO FÍSICO

De acordo com as diretrizes do American College of Sports Medicine (ACSM) um estilo de vida ativo está associado desde a inserção de pequenas atividades lúdicas e jogos que envolvem movimentações até as atividades mais simples da rotina diária, a exemplo do passeio com o cachorro, subir escadas, cuidar do jardim, entre outras, o que pode ser altamente eficaz para modificar o estilo de vida e aumentar a adesão e permanência na prática do exercício (ACMS, 2006). Normalmente se indica atividades de intensidade moderada, na maioria dos dias da semana, com duração de 60 minutos (Gutin et al., 2002; ACSM, 2006). Para crianças e jovens a atividade física regular é de extrema importância, pois auxiliam no crescimento e desenvolvimento dos sistemas músculoesquelético, respiratório, metabólico e cardiovascular. Segundo Rosset (2008), os exercícios aeróbicos têm efeitos diretos e indiretos no sistema circulatório, na tolerância ao esforço, na força muscular, na flexibilidade e na qualidade de vida do indivíduo ativo.

Pesquisar e determinar o perfil antropométrico em crianças é importante por ser um dos principais indicadores para o monitoramento das alterações dos níveis de crescimento, desenvolvimento e maturação (Petroski, 2007; Guedes & Guedes, 1995). O organismo humano é formado de diferentes compartimentos estruturais como, ossos, músculos, gordura, entre outros, onde a quantidade destes elementos exerce papel fundamental nos níveis de saúde e qualidade de vida e no desempenho atlético (Foss & Keteyan, 2000; Gallahue & Ozmun, 2005). Desta forma, um corpo constituído por menor quantidade de gordura corporal é desejável para um bom rendimento na maioria das atividades esportivas, desde que se

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

respeite um limite mínimo de gordura corporal para realização do desempenho atlético com segurança.

Praticantes de exercícios físicos (atletas em especial) um percentual de gordura corporal entre 5% e 13% e considerado ideal para pessoas do sexo masculino, juntamente com uma massa magra equilibrada é de grande importância para um desempenho atlético otimizado, onde tal afirmação não é diferente para jovens praticantes de modalidades esportivas, onde uma quantidade mínima de gordura corporal (em níveis de segurança para saúde) e uma quantidade elevada de massa muscular foram de grande benefício para o desempenho, por meio da aquisição de variáveis físicas como força, resistência, flexibilidade e agilidade (Foss & Keteyian, 2000).

Segundo Tritschler (2003), a maioria dos indivíduos apresenta em média gordura corporal 12% a 22%; os atletas apresentam valores médios de 5% a 13%, sendo que as médias de gordura corporal variam de acordo com a modalidade e com a faixa etária do praticante, onde os atletas devem trabalhar cuidadosamente junto com seus técnicos e professores a quantidade de gordura corporal ideal. De acordo com Glaner (1998) níveis elevados de gordura corporal podem estar relacionados com a hipertensão e doenças cardiovasculares e em níveis reduzidos, esta associação pode ser ligada a anorexia, bulimia e desnutrição.

A avaliação da composição corporal refere-se à observação na distribuição anatômica dos componentes responsáveis pela massa corporal: ossos, músculos, gordura, água, vísceras e outros tecidos (Petroski, 2007; Fernandes Filho, 2003). De acordo com Guedes et al. (2001), a antropometria é uma técnica de medida externa das dimensões corporais, contextualizada na cineantropometria, onde visa mensurar peso, altura, diâmetros, espessura de tecido adiposo e perímetros do corpo humano. Essas mensurações tornam-se métodos potenciais quando utilizadas para o estudo da composição corporal, que avalia a quantificação obtida pelas medidas antropométricas. Desta forma, a análise da composição corporal pode ser avaliada através de diversos métodos: diretos, indiretos e duplamente indiretos (Sousa, 2008; Petroski, 2007).

Os procedimentos diretos são aqueles em que o avaliador obtém informações in vitro dos diferentes tecidos corporais mediante dissecação de cadáveres ou extração lipídica (Malina & Bouchad, 2002; Sousa, 2008; Petroski, 2007). Nos procedimentos indiretos as informações são obtidas sobre as variáveis de domínio físico e químico, e posteriormente, lança-se mão dos pressupostos biológicos e desenvolvem-se estimativas dos componentes de

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

28

gordura e massa isenta de gordura. Já os métodos duplamente indiretos são os que envolvem equações de regressão a fim de predizer variáveis associadas aos procedimentos indiretos (Sousa, 2008; Petroski, 2007; Fernandes Filho, 2003; Malina & Bouchad, 2002).

Técnicas que utilizam recursos laboratoriais como (tomografia computadorizada, pesagem hidrostática, ressonância magnética, impedância bioelétrica, etc.), mesmo apresentando alta precisão em seus resultados, oferecem, também, uma utilização bastante limitada em razão da dificuldade de incluir os avaliados nas testagens e principalmente pelo seu alto custo. Desta forma, torna-se viável a utilização de medidas antropométricas que, por serem menos sofisticadas, são menos onerosas e apresentam uma correlação bastante significativa com os métodos laboratoriais (Farinatti & Monteiro, 1992).

Fatores como crescimento e desenvolvimento, status nutricional e nível de atividade física se mantêm em constante alteração, ocorrendo uma dinamicidade dos componentes estruturais do corpo humano durante todo o ciclo da vida e o processo de crescimento. A idade e o estado de desenvolvimento se relacionam fortemente com a gordura corporal (Reilly, 2002). O excesso de tecido adiposo em crianças e adolescentes está associado a altas concentrações de lipídeos e insulina (Freedman et al., 1999).

Segundo Almeida (2007), a avaliação da composição corporal em crianças e adolescentes por meio de dados antropométricos é um problema, pois nesta fase o corpo sofre diversas alterações que resultam do processo de crescimento, desenvolvimento e maturação, cujas características dinâmicas tornam difícil o diagnóstico do excesso de peso e da obesidade. Sobre esse assunto Malina e Bouchard (2002), discorrem que sua aplicabilidade para crianças em crescimento pode resultar em estimativas abaixo ou acima do que seja real para a composição corporal, já que muitos dos procedimentos utilizados são baseados principalmente em dados obtidos de jovens adultos. Petroski (2007) e Sousa (2008) relatam que existem várias equações antropométricas para a estimativa da composição corporal em adultos. Contudo, poucos procedimentos são destinados para crianças e jovens. Dentre os procedimentos para esta faixa etária podemos citar: Boileau et al. (1985), Deurenberg et al. (1990) e Yonamine e Pires-Neto (2000), esses procedimentos são bastante utilizados em estudos com crianças e adolescentes brasileiros devido a sua fácil aplicabilidade (Gagliardi, Uezu & Villar, 2006).

Tendo em vista o aspecto transitório das características de crescimento e composição corporal em função do processo de desenvolvimento humano, Ré (2011), disserta que a

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

predição do desempenho de futuros atletas com base em medidas de crescimento e composição corporal não parece ser confiável. A diferença no desempenho entre o feminino com maturidade precoce e tardia também tendem ser mais visíveis no final desse período. As meninas com maturidade tardia geralmente são melhores nas habilidades motoras. Machado (2007) explica que crianças e adolescentes quando comparadas com adultos, apresentam diferenças nas respostas ao exercício físico e passa-se a compreender, de fato, que crianças não são adultos em miniatura necessitando de atenção especial no que diz respeito à condução e prescrição da prática de exercícios físicos. Existem aspectos morfológicos, fisiológicos, bioquímicos, psicológicos que fazem das crianças e adolescentes uma clientela totalmente diferente dos adultos.

Aspectos relacionados à quantidade de secreção hormonal têm grande importância no desempenho de crianças e adolescentes em exercícios, especialmente aqueles que necessitam de maior potencial de força muscular para serem realizados. O hormônio caracteristicamente masculino, a testosterona, tem seus níveis de secreção expressivamente aumentados durante a puberdade, momento em que as maiores alterações relacionadas aos processos de crescimento, desenvolvimento e maturação estão ocorrendo de forma mais sensível (Guedes & Guedes, 1995). Grandes estímulos externos destinados ao aumento da força muscular, especialmente, podem não trazer resultados satisfatórios se o organismo por si só não estiver pronto para secretar a quantidade de hormônio necessária a contribuir com esta alteração.

Crianças e adolescentes apresentam diferenças bioquímicas em relação aos adultos, como: menor concentração de lactato sanguíneo e muscular; menor atividade e concentração das enzimas glicolíticas, especialmente da fosfofrutoquinase (PFK), contrapondo-se a uma maior capacidade oxidativa de produção de energia, conferindo às crianças e adolescentes uma maior e melhor aptidão e desempenho em atividades que exijam uma boa participação do metabolismo aeróbio, predispondo esta clientela a uma melhor performance em atividades de média a baixa intensidade e longa duração (Guedes et al., 2001). Meninos dos 10 aos 13 anos de idade têm baixos níveis da enzima fosfofrutokinase, enzima que regula a glicólise anaeróbia.

A capacidade da criança a trabalhos de curta duração e alta intensidade é baixa e a cinética do oxigênio da criança difere da do adulto, enquanto que a criança atinge o equilíbrio aeróbio dentro de 1 minuto, o adulto demora até 2 a 3 minutos para atingir seu VO2máx. (Mahon et al., 1997, Robergs et al., 2002). Cureton e Warren (1990) estabelecem que os

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

30

padrões de referência do VO2máx na população com idade entre 5 e 17 anos variam em torno de 42 mLO2/Kg/min no sexo masculino e de 35 a 40 mLO2/Kg/min no sexo feminino. McArdle (1998) relata que, nos meninos, o VO2máx mantém-se estável em aproximadamente 52 mLO2/Kg/min dos 6 aos 16 anos de idade, e nas meninas, a linha se inclina para baixo com a idade, alcançando cerca de 40 mLO2/Kg/min aos 16 anos, sendo tal diferença entre os sexos atribuída ao maior acúmulo de gordura corporal nas meninas.

Araujo et al. (2008), objetivando investigar e comparar a predominância motivacional entre crianças do sexo masculino e feminino nas aulas de Educação Física, acredita que a mesma é um fator psicológico que está relacionado à atividade física, seja no aspecto da aprendizagem ou do desempenho físico, não obstante, as teorias motivacionais, oferecem bons subsídios para analisar alguns aspectos psicológicos inerentes a uma aula de Educação Física. Os autores encontraram que os masculinos apresentaram uma motivação extrínseca estatisticamente significativa maior que as femininas e concluíram que os profissionais de educação física podem se utilizar desta ferramenta desde o ensino básico até o alto rendimento na perspectiva de identificar predominância de fatores externos que, poderão afetar no desempenho do aluno e/ou atleta.

As diferenças culturais também são bem marcantes entre os jovens de diversos países. Ao contrário dos costumes no Brasil, os jovens estrangeiros são conhecidos pela sua independência emocional e financeira da família, muito precocemente. Gallahue e Ozmun (2005), afirmam que o início precoce da puberdade (início da maturação sexual), somado a um período mais longo de dependência da família, amplia a visão da adolescência para uma perspectiva muito mais ampla. A idade de início, duração e intensidade deste estirão de crescimento, que é um período de aumento acelerado na massa corporal e na estatura, porém, é determinada geneticamente e varia consideravelmente de pessoa para pessoa. Isso ocorre porque o genótipo estabelece os limites do crescimento individual, mas o fenótipo individual (condições do meio ambiente) tem uma influência marcante sobre este fator.

Segundo Morrow Jr. et al. (2000), Docherty (1996) e Safrit (1995), foram criadas diversas baterias de testes, voltados à promoção da saúde em crianças e adolescentes, que obtiveram grande aceitação entre os profissionais da área. Quanto aos testes referentes à aferição das características de saúde, Docherty (1996), coloca que os mesmos com estas características necessitam de cuidadosa consideração no sentido de promover além do desempenho, atitudes positivas em direção à melhora da qualidade de vida da criança. De

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

acordo com Morrow Jr. et al. (2000), não há consenso universal sobre os baixos níveis de condicionamento em jovens. Desta forma, eles propõem que, de acordo com as necessidades locais, o avaliador fique atento para uma bateria de testes que esteja mais próxima da mesma, sendo necessário seguir os seguintes passos para aumentar a confiança e reduzir o erro de medida: ter adequado conhecimento sobre a descrição e realização do teste; dar informações/instruções claras aos avaliados, demonstrando quando necessário; treinar auxiliares minuciosamente na prática dos testes; ter uma conduta confiável.