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Nossos resultados mostraram estreita correlação entre o comportamento biomecânico dos tecidos interpúbicos e os aspectos morfológicos do remodelamento, uma vez que é difícil relacionar as contribuições individuais dos componentes biológicos para as propriedades mecânicas em geral. Fibras de colágeno aumentam a resistência, enquanto a elastina, proteoglicanos e água são essenciais para a resiliência (PINHEIRO

et al., 2003, 2005). As moléculas de ácido hialurônico de elevado peso molecular e

versican aumentam a capacidade de distensão e elasticidade na SP, durante a prenhez (ROSA et al., 2012). Essa combinação de estratégias foi adequada e relevante para a obtenção de aspectos qualitativos resolvidos ao MEV e quantitativos no que diz respeito à conformação espacial de fibras colágenas de componente musculoesquelético, capaz de acomodar adequadamente o canal de parto e oferecer suporte aos órgãos pélvicos.

O ensaio biomecânico de força-deslocamento ex-vivo permitiu verificar que, a exemplo do que se observa em vagina e cérvice uterina durante a prenhez, parto e pós- parto, os parâmetros biomecânicos dos tecidos interpúbicos, observados durante as fases de afastamento dos ossos púbicos, relaxamento e reaproximação no pós-parto, são coincidentes morfológica e temporalmente regulados com aqueles descritos para tecidos e órgãos do canal de parto (READ et al., 2007; RAHN et al., 2008; ABRAMOWITCH et al.,

2009; BUHIMSCHI et al., 2009; HOUSE et al., 2009; DA SILVA-FILHO 2010; FEOLA et

al., 2011-2014; VARGIS et al., 2012). No que se refere aos parâmetros biomecânicos dos

tecidos interpúbicos, observados na reaproximação dos ossos púbicos no pós-parto, eles se mostraram maiores que os medidos nos tecidos em remodelação durante a separação dos ossos e menores do que os do grupo controle NP. Esses resultados se aproximam daqueles relatados por Feola et al. (2011-2014) em vagina de ratos, no que diz respeito às respostas biomecânicas e não descartam a influência de lesões no aumento da resistência mecânica em tecidos cicatriciais do canal.

Parâmetros morfométricos indicativos de modificações do formato do esqueleto particularmente da sínfise púbica de camundongos evidenciaram que o suporte do canal de parto sofre por modificações em função do número e tamanho médio de cada recém- nascido na primeira gestação (SCHUTZ et al. 2009). Particularmente no que diz respeito à cepa de camundongos C57BL/6, a ninhada possui de 4 a 9 recém-nascidos que pesam entre 1,1e 1,3 g (READING, 1966).Estes dados são indicativos de que há variação de forças as quais os ossos púbicos são submetidos através da inserção dos músculos da parede do abdome e, consequentemente, da necessidade de afastamento dos ossos, e podem explicar a grande variação dentro dos grupos encontrada no nosso trabalho. Buhimschi et al. (2009) relataram a possível influência da quantidade e do peso dos animais da ninhada em ensaio de propriedades biomecânicas do colo do útero, e, para eliminar essa interferência no remodelamento após o parto.

O comportamento biomecânico no que diz respeito à ruptura dos tecidos interpúbicos também mostrou grande variação dentro dos grupos, apesar dos estímulos bioquímicos serem semelhantes nos animais, o ambiente mecânico pode ter grande variação de acordo com o número de filhotes da ninhada. Em estudo anterior realizado nesse laboratório, o comprimento do Lip obteve resultado semelhante de grande variação intragrupo (CONSONNI et al., 2012a), corroborando para inferir que o peso do útero prenhe localizados lateralmente contribuam para o aumento da distância entre os ossos ser tão variável entre os animais. Na literatura, encontramos relatos de diástase da SP em humanos com gestações gemelares, que têm estímulos mecânicos multiplicados durante a gestação (VILA et al., 2010), mostrando a importância do estudo da contribuição das forças mecânicas nos tecidos biológicos.

Os aspectos evidenciados na conformação da distribuição espacial de fibras colágenas helicoidais entrelaçadas, observadas ao MEV, sujeitas em maior ou menor

grau de dispersões angulares, foram quantificadas pelas medidas dos índices de FFT, e de deslocamento em relação à força aplicada no teste biomecânico durante o afastamento dos ossos púbicos, se mostraram condizentes com a remodelação da MEC dos tecidos interpúbicos no que diz respeito às contribuições da retomada da expressão de elastina, e a deposição de novas fibras elásticas (CONSONNI et al., 2012a) e ao aumento da concentração de HA de alto peso molecular neste período que contribui para retenção de água na MEC e suporte à distensão do Lip (ROSA et al., 2012).

Reconhecidamente na preparação para o parto do animal primíparo, inicia-se rápido remodelamento, com o aumento de metaloproteinases (ROSA et al., 2011), responsáveis pelo alinhamento paralelo de fibras colágenas no Lip, no 19d a distensão máxima do arranjo helicoidal de fibras na direção do afastamento dos ossos resultaram tanto no maior índice representativo do maior grau de anisotropia de fibras obtidos por meio da aplicação de FFT quanto a menor força para produzir o maior estiramento durante o ensaio biomecânico de tração uniaxial que é semelhante à exercida pelo afastamento dos ossos púbicos, pelos músculos aí inseridos, além da pressão exercida pelo útero contendo fetos.

Além das alterações na conformação das fibras de colágeno nesse período, há aumento do calibre de fibras elásticas neo-formadas (CONSONNI et al., 2012a), o tecido deslocou-se mais com forças menores, e o valor médio da ETR foi duas vezes maior da medida no animal NP. O rápido remodelamento de fibras colágenas e os índices FFT no período de involução do Lip, após o parto progressivamente se mostram eficientes para resistência à expansão lateral, como foi demonstrado por Nagel e Kelly (2012).

Apesar de os valores absolutos do deslocamento da nossa amostra serem maiores que os apresentados por Storey et al., (1957) 19d (0,86mm), o recurso que ele utilizou para a distensão foi constante (peso de 5g adicionado à força da gravidade durante 1 minuto), enquanto, no ensaio ora realizado, a velocidade foi constante até a ruptura da SP/Lip, e a força necessária para manter a velocidade foi crescente. Dessa forma, ultrapassamos o módulo elástico, quando o material se deforma, sem haver ruptura, no entanto o comportamento da curva foi semelhante ao encontrado por esse autor, que é o único trabalho semelhante, encontrado na literatura para a sínfise púbica.

No tecido interpúbico (SP/Lip), não é possível calcular a resistência por área (mm2), como

morfologia, que no decorrer da prenhez e após o parto apresenta diferentes formas (OXLUND et al.,1980).

Em humanos, a condição de bípede, associada ao envelhecimento, sobrepeso, variações hormonais e forças mecânicas que atuam sobre as estruturas que dão suporte aos órgãos pélvicos femininos são fatores predisponentes para o aparecimento de prolapsos de órgãos pélvicos e/ou incontinências (YIP et al., 2014). Os prolapsos de órgãos pélvicos são resultante de disfunções da cavidade e/ou do assoalho pélvico e ocorrem em maior ou menor grau em cerca de 75% das mulheres, e aproximadamente 11% necessitam de correções cirúrgicas, embora pouco se conheça sobre os mecanismos fisiopatológicos das disfunções (DELANCEY et al., 2008 e 2009). A transposição dos limiares de stress pode levar à perda da estabilidade dos órgãos pélvicos, tão evidentes nos animais geneticamente modificados e de modo semelhante ao

que se observa em mulheres (ABRAMOWITCH et al., 2009).

Em resumo, a diferenciação dos tecidos interpúbicos durante a prenhez e pós- parto no camundongo, evidencia adaptações espaço temporalmente reguladas para responderem às forças capazes de induzir deformações as quais estão sujeitas as estruturas de suporte do canal de parto e de órgãos pélvicos. Essas adaptações estão diretamente correlacionadas tanto às modificações da conformação helicoidal de fibras colágenas, como suas diferentes dispersões angulares em conjunto com modificações espaço-temporalmente reguladas por hormônios que estimulam o metabolismo de agregados moleculares da MEC. O entendimento desses aspectos é relevante para o desenvolvimento de modelos animais e estratégias que podem ser adotadas no reparo de tecidos e estruturas da cavidade pélvica submetida a forças biomecânicas, a exemplo do que foi demonstrado no estudo de ligamentos, tendões e derme (VIDAL e MELLO, 2009; RIBEIRO et al., 2013).

CONCLUSÕES

Os resultados obtidos evidenciaram que os tecidos interpúbicos de camundongos primíparas adaptaram-se rapidamente aos novos ambientes biomecânicos de modo a oferecer suporte ao canal de parto. Cessados os estímulos mecânicos e hormonais, iniciam a involução e, no 10dpp apresentam composição tecidual que se assemelha à da SP de animais NP.

O comportamento biomecânico dos tecidos interpúbicos durante a prenhez e após o parto foi coerente com a histoarquitetura destes e a imunolocalização das proteínas COMP e GAL-3, à medida que o comportamento biomecânico dos tecidos se modifica são indicativos que essas proteínas estão envolvidas no remodelamento de transições osteoligamentosa e fibrocatilaginosas durante a prenhez e após o parto.

O exuberante remodelamento dos tecidos interpúbicos, que proporciona afastamento de ossos púbicos e a rápida remodelação que se inicia pós-parto, permite o suporte ao canal de parto de animais de animais que possuem útero bicorne a exemplo do camundongo, morcego e cobaia.