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3. MATERIAIS E MÉTODOS

4.4 Padrões ultraestruturais e avaliação quantitativa da organização de fibras colágenas

As observações de tecidos interpúbicos, macerados ao MEV, permitiram tanto o reconhecimento de aspectos qualitativos de fases que se sobrepõem durante remodelamento da MEC quanto a partir destes a obtenção de parâmetros que dizem respeito à organização supramolecular do colágeno de regiões centrais de tecidos interpúbicos durante as modificações espaço-temporalmente reguladas. Estas modificações contribuem para o afastamento dos ossos púbicos, iniciado no 12d da

prenhez, o relaxamento do ligamento interpúbico para acomodação do canal de parto e o retorno dos ossos no pós-parto.

Nas SP de animais NP, a região central do disco fibrocartilaginoso exibiu arranjo frouxo de fibras colágenas finas e íntegras que não apresentavam sequências múltiplas helicoidais ou crimps e mostravam-se orientadas aleatoriamente, em todas as direções do espaço (Figura 8A.1). Essa conformação de fibras colágenas correspondeu à imagem bidimensional FFT de pontos distribuídos em uma figura geométrica de menor excentricidade (Figura 8A.2) e índice FFT equivalente a uma distribuição isotrópica das fibras colágenas finas observadas ao MEV.

A exploração das características morfológicas da região central dos tecidos interpúbicos durante as modificações espaço-temporalmente reguladas, associadas ao afastamento dos ossos púbicos, permitiu distinguir, no 12d, fibras helicoidais; que apresentam crimp e se mostram paralelamente alinhadas a outras aleatoriamente dispersas e que ocupam espaços entre aquelas paralelamente orientadas (Figura 8B.1). Os parâmetros referentes às características helicoidais, particularmente o crimp, de fibras da região central dos tecidos interpúbicos, verificadas entre o 12d e 18d, são estatisticamente significativos durante o progressivo aumento do comprimento de crimps e às respectivas reduções de seus ângulos (Tabelas 1, 2 e Figura 9).

No que diz respeito à dispersão na organização das fibras, na análise FFT bidimensional permitiu a obtenção de elipses de excentricidades maiores e que resultaram em índices FFT estatisticamente significativos, se comparadas aos de menores excentricidades mediadas na SP de animais NP (Figura 8). No entanto não há diferenças estaticamente significativas que dizem respeito aos índices FFT entre 12d e 18d (Tabela 3), o que é indicativo da progressão gradual na orientação de fibras em relação à direção do afastamento dos ossos púbicos.

As características ultraestruturais da região central do Lip relaxado no 19d mostraram arranjo no qual se destaca não só a ausência de crimp nas fibras colágenas finas e de aspecto fragmentado bem como o contraste entre o paralelismo dessas fibras colágenas e a dispersão aleatória de fibras que ocupam os espaços entre aquelas paralelamente orientadas (Figura 8C.1). No que diz respeito à dispersão na organização das fibras, a análise FFT bidimensional permitiu a obtenção de elipses de excentricidades maiores e que resultaram em índices FFT estatisticamente significativos, se comparadas aos valores obtidos nas elipses de menores excentricidades, mediadas nos tecidos

interpúbicos tanto no que diz respeito às fases de afastamento quanto no de retorno dos ossos púbicos nos períodos 12-18d e 1-5dpp, respectivamente (Figura 10, Tabela 4). Essas diferenças estatisticamente significantes traduzem, adequadamente, as avaliações qualitativas das drásticas alterações morfofisiológicas, que correspondem ao relaxamento dos tecidos interpúbicos para a acomodação do canal de parto.

Em relação aos aspectos morfológicos observados na região central de tecidos interpúbicos no pós-parto, é marcante o remodelamento da MEC. Desde o primeiro dia pós-parto ficou evidente o rápido rearranjo helicoidal das fibras ou crimp e da arquitetura das fibras colágenas (Figura 8D.1), o qual pode ser associado à reaproximação dos ossos púbicos. Os parâmetros referentes às características helicoidais, particularmente o crimp, de fibras da região central dos tecidos interpúbicos, verificadas entre o 1dpp e 5dpp, são estatisticamente significativos no que diz respeito à progressiva diminuição do comprimento de crimps e respectivo incremento de seus ângulos (Tabelas 1, 2 e Figura 9) e que vão no sentido contrário do que se observou durante o afastamento dos ossos púbicos. As variações espaço-temporalmente reguladas destes parâmetros morfométricos proporcionam quantificação de modificações dos tecidos interpúbicos com emprego de analise de imagem, ferramenta eficiente para quantificação in loco de aspectos cumulativos decorrentes da prenhez.

No que diz respeito à dispersão na organização das fibras, a análise FFT bidimensional permitiu a obtenção de elipses de excentricidades maiores e que resultaram em índices FFT estatisticamente significativos, se comparadas aos de maiores excentricidades medidas no Lip durante o relaxamento (Figura 10). No entanto não há diferenças estatisticamente significativas nos índices FFT obtidos nos períodos 3-5dpp e 12-18d (Tabela 4). A comparação desses índices oferece elementos indicativos quanto a necessidade de manutenção de histoarquitetura, responsável pelas respostas às demandas biomecânicas do pós-parto.

Figura 8: Eletromicrografias obtidas ao MEV e respectivas frequências espaciais ou imagens bidimensionais geradas pela FFT cujas maiores densidades de pontos foram contornadas em vermelho. As imagens pareadas são ilustrativas da dispersão na orientação de fibras que apresentam disposição helicoidal ou crimp na MEC, presentes tanto nas regiões centrais de fibrocartilagem da SP de camundongos NP (A) quanto de tecidos interpúbicos durante as modificações espaço-temporalmente reguladas, que contribuem para afastamento dos ossos púbicos, iniciado no 12d da prenhez (B), relaxamento do espaço interpúbico, no 19d da prenhez (C) e retorno dos ossos no pós-parto, caracterizado no 5dpp (D). Os maiores espaços entre fibras colágenas correspondem aos nichos ocupados por células. Barras: A, B e C: 10µm; D 200µm.

Tabela 1. Médias e desvios-padrões de medidas de comprimento (µm) e ângulo do crimp (graus) presente em fibras colágenas de regiões centrais de tecidos interpúbicos (SP e Lip) de camundongos em diferentes dias da prenhez, parto e pós-parto.

Dias de prenhez

Comprimento do

crimp (µm) Ângulo α do crimp (graus)

NP no no 12d 8,3 ± 2,1 43,8 ± 8,3 15d 11,5 ± 2,5 44,7 ± 5,0 18d 15,5 ± 4,9 37,4 ± 7,6 19d no no 1dpp 19,0 ± 5,0 25,6 ± 6,0 3dpp 20,0 ± 4,3 25,2 ± 5,2 5dpp 9,7 ± 2,8 33,4 ± 8,0

Figura 9.A Comprimento

Figura 9.B Ângulo

Figura 9: Distribuições de valores medianos de comprimento (µm) (Fig 9.A) e ângulo (graus) (Fig. 9.B) presente em crimps de fibras colágenas de regiões centrais dos tecidos interpúbicos em diferentes dias da prenhez e pós-parto. As barras de erro representam os valores máximos e mínimos das distribuições em 3 animais.

Crimps não foram observados na SP de animais NP e Lip, no 19d. As significâncias estatísticas desses índices

são mostradas nas Tabelas 2 e 3.

Nota: NP=não prenhe; d= dia de prenhez; dpp= dia pós parto; no= não observado

Tabelas 2 e 3. Significâncias estatísticas dos valores de Comprimento (µm) (Tabela 2) e de Ângulo α (graus) do Crimp (Tabela 3), medidos em fibras colágenas presentes em eletromicrografias obtidas ao MEV (***p < 0.001; **p < 0.01).

Tabela 2 Comprimento

Tabela 3 Ângulo

Figura 10: Valores medianos dos ÍndicesFFT do Lip. Os valores aumentam discretamente, durante a fase de afastamento dos ossos púbicos (12d-18d), se comparados ao da SP de animais NP. Depois, aumentaram acentuadamente, durante o relaxamento do Lip (19d); de modo semelhante, reduziram até o 3dpp. No 5dpp,os índices se mantiveram semelhantes aos da fase de afastamento dos ossos. As barras de erro representam os valores máximos e mínimos das distribuições em 3 animais. A significância estatística desses índices é mostrada na Tabela 4.

4.5 Modificações de parâmetros biomecânicos de tecidos interpúbicos durante a