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Capítulo 2 – O Cabido: origem, estrutura, organização e membros

2. A composição do cabido do Porto

1.1. O deão

Ao deão, figura cimeira da hierarquia capitular, competia presidir ao cabido, sobretudo em actos internos, acompanhá-lo e representá-lo, nomeadamente na administração económica dos seus bens, convocar as reuniões capitulares, substituir o prelado no governo da diocese durante a ausência do mesmo ou em certas celebrações litúrgicas, administrar as igrejas anexas ao deado e visitar outras na dependência do cabido45. Na Sé do Porto esta dignidade só foi criada em 1185 tendo-lhe sido entregue, “ad honera suportanda”, o arcediagado de Aquilari (Aguiar) que contava com 35 igrejas46. Desde então, até ao final do episcopado de D. Pedro Salvadores (1235-1247), foram apenas dois os deões do Porto: Fernando Rodrigues e Mendo Pais. No acordo alcançado em 1200 definia-se que: “…quod canonici prepositum sive

prebendarium in rebus suis gubernandis mecum instituant”, ou seja, a partir deste momento

passou a ser escolhido em conjunto pelo bispo e cabido e, caso não houvesse consenso entre os cónegos (“...si autem in eligendo preposito sive prebendario inter se canonici dissenserint…”), caberia ao prelado cum maiori et senior parte capituli, escolher o mais indicado sem que fosse questionado (“…illum instituam licet alii contradicant”)47.

44

RODRIGUES, Ana Maria S. A. – “Cabido”, in Dicionário de História Religiosa…, I, p.279; MARQUES, José – A Arquidiocese de Braga…, p.342; COSTA, Avelino de Jesus da – “Cabido”, in Dicionário de História de Portugal, I, p.409-412.

45

Sobre esta dignidade veja-se: COSTA, António Domingues de Sousa – “Deão”, in Dicionário de História de Portugal, II, p.269-270; RODRIGUES, Ana Maria S. A. – “Dignidades Eclesiásticas”, in Dicionário de História Religiosa…, II, p.67-68; MARQUES, José – A Arquidiocese de Braga…, p.328. Alguma documentação respeitante ao Deado, datada entre finais do séc. XVI e meados do século XIX, encontra-se no Cartório do Deado, que por sua vez está anexo Cartório do Cabido no ADP, livros 1689 a 1699.

46

Censual do Cabido…, p.493-494. Veja-se, também, PINTO, António Ferreira – O Cabido da Sé do Pôrto…, p.85-86.

47

Censual do Cabido…, p.499. Sobre os modos de eleição, funções e homens que ocuparam este cargo em outras catedrais portuguesas veja-se, VILAR, Hermínia Vasconcelos – As dimensões de um poder. A diocese de Évora na Idade Média. Lisboa: Editorial Estampa, 1999, p.139-146; CUNHA, Maria Cristina Almeida e – A Chancelaria Arquiepiscopal de Braga…, p.92-97; MORUJÃO, Maria do Rosário Barbosa – A Sé de Coimbra: A

Quadro 1 – Deões da Sé do Porto (1113-1247) Nome 1ª Refª. Última

Refª. Obs. Fontes

Fernando Rodrigues

[1186-1189] 1220 Censual do Cabido…, p.494;

BRANCO, Maria João Violante – Poder Real e Eclesiásticos…, vol. II, p.125-126, n.293.

Mendo Pais 1121.09 1249.07.24 ADP, Cartº Cab., Liv. Originais, 1666(8), fl.18; Censual do Cabido…, p.232-233.

O primeiro deão do Porto, Fernando Rodrigues ocupou o lugar desde 1185 até falecer, em 122048. Aparece como outorgante, juntamente o bispo D. Martinho Pires, logo em 118749, e depois com o seu sucessor, D. Martinho Rodrigues. Terá tido um papel importante nas contendas que o cabido teve precisamente com este último prelado, a propósito da divisão das rendas da diocese de que acima referimos. Entre 1211 e 1214 é outorgante em conjunto com o cabido, em algumas compras, evidenciando as suas funções como administrador dos bens deste

colégio50. Em 1213 selou, em conjunto com o bispo D. Martinho Rodrigues e o chantre Paio

Pais, uma missiva enviada a vários particulares no sentido de os fazer restituir a outros particulares bens que lhes haviam retido. Fê-lo, tal como os restantes, na qualidade de juiz delegado do papa Inocêncio III que os tinha nomeado para resolverem essa questão51.

Sucedeu-lhe, em 1221, Mendo Pais que também permaneceu no cargo até falecer em Dezembro de 124952. Também ele outorgou uma série de documentos com o cabido, sendo um dos mais interessantes, por nele se encontrar um vasto elenco de cónegos e outros membros do clero portuense, aquele em que Domingos Martins desiste do pleito que trazia com o cabido do Porto, em razão de uma propriedade em Negrelos que seu pai havia deixado por seu aniversário53. Marcou também presença constante ao lado quer de D. Martinho Rodrigues quer de D. Pedro Salvadores54. Quanto à sua “biografia”, sabe-se que foi cónego regrante de Grijó e que seu irmão, Domingos Pais, foi igualmente cónego do Porto. De facto, é numa doação feita por este e “per mandato fratris mei bone memorie domni Menendi quondam decani

Portugalensis”, aos sobrinhos Martinho, Lourenço e Rodrigo Martins, clérigos, que podemos

Instituição e a Chancelaria…, p.210-213; SARAIVA, Anísio Miguel de Sousa – A Sé de Lamego na primeira metade do século XIV (1296-1349). Leiria: Magno Edições, 2003, p.116-134.

48

BRANCO, Maria João Violante – Poder Real e Eclesiásticos…, vol. II, p.125.

49

IAN/TT, OSB, S. Pedro de Pedroso, mç.4, nº19, publicado por: COSTA, Avelino de Jesus da – Álbum da Paleografia e Diplomática Portuguesas. Coimbra: Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra – Instituto de Paleografia e Diplomática, 5ª edição muito melhorada, 1990, nº 51.

50

ADP, Cartº Cab., Liv. Originais, 1686(28), fl.4 e 5, e, 1670(12), fl.28.

51

Bulário Português – Inocêncio III…, nº191, p.345.

52

BRANCO, Maria João Violante – Poder Real e Eclesiásticos…, vol. II, p.125.

53

ADP, Cartº Cab., Liv. Originais, 1678(20), fl.14

54

recolher diversos dados sobre bens imóveis que ambos possuíam, nomeadamente vários casais, nos coutos dos mosteiros de Freixeeiro e Pombeiro e em Gondomar, bem como casas na cidade do Porto, nas ruas do Redemoinho e Francisca e na Ribeira55. Num documento refere-se, ainda, que tinha um servo chamado Gonçalo56. Para além de sobrinhos, sabemos que pertenceram à

familia, ou casa episcopal, de D. Mendo o clérigo Pedro Gonçalves, João Vasques, Mendo

Eanes de Telões (servienti decani) e Martinho Freire, todos designados por hominibus

decani57.

À semelhança do seu antecessor, também D. Mendo possuía selo, que sabemos ter usado na confirmação da composição feita entre D. Pedro Salvadores e os frades dominicanos, ambas de [1238-1239]58.