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Composição salarial

No documento O princípio da proteção do salário (páginas 72-76)

CAPÍTULO III – AS CONCRETIZAÇÕES DO PRINCÍPIO DA PROTEÇÃO

1. A proteção do salário no sistema jurídico brasileiro

1.2. Noção e enquadramento do salário na Consolidação de Leis do Trabalho de 1943

1.2.2. Composição salarial

A composição salarial decorre do Artigo 457 § 1º e 2º da CLT enquanto “importância em dinheiro, utilidade, comissões, percentagens, gratificações, diárias

salário percebido pelo empregado, tal artigo não alude à remuneração, e sim ao salário-base do empregado. Tanto isto é verdade, que o dispositivo legal em questão emprega as palavras "salário" e "remuneração", distinguindo-as claramente, ao dispor, em seu caput, que se compreendem na remuneração do empregado, para todos os efeitos legais, além do salário devido e pago diretamente pelo empregador, como contraprestação do serviço, as gorjetas que receber. Ora, como é cediço, a lei não contém palavras inúteis, e se faz menção ao salário e à remuneração, é óbvio que não confunde os dois conceitos. Destarte, em que pese a redação do § 2º do art. 457 da CLT não ser das mais felizes, ao fazer menção aos "salários" (na realidade, remuneração, ou conjunto dos "salários" do empregado), o que se infere do contexto lógico do artigo em questão é que as diárias que extrapolem 50% do salário-base do empregado integrarão a sua remuneração, presumindo-se sua natureza salarial. Tal presunção não prevalecerá apenas se restar provado que as diárias têm natureza indenizatória”.

204 O art. 458 § 2 dispõe que “Para os efeitos previstos neste artigo, não serão consideradas como salário as seguintes utilidades concedidas pelo empregador: I – vestuários, equipamentos e outros acessórios fornecidos aos empregados e utilizados no local de trabalho, para a prestação do serviço; II – educação, em estabelecimento de ensino próprio ou de terceiros, compreendendo os valores relativos a matrícula, mensalidade, anuidade, livros e material didático; III – transporte destinado ao deslocamento para o trabalho e retorno, em percurso servido ou não por transporte público; IV – assistência médica, hospitalar e odontológica, prestada diretamente ou mediante seguro-saúde; V – seguros de vida e de acidentes pessoais; VI – previdência privada; VIII - o valor correspondente ao vale-cultura”.

O § 5o do referido art. dispões que: “O valor relativo à assistência prestada por serviço médico ou odontológico, próprio ou não, inclusive o reembolso de despesas com medicamentos, óculos, aparelhos ortopédicos, próteses, órteses, despesas médico-hospitalares e outras similares, mesmo quando concedido em diferentes modalidades de planos e coberturas, não integram o salário do empregado para qualquer efeito nem o salário de contribuição”.

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superiores à 50% ao montante salarial, abonos, prêmios e outras possíveis formas de retribuir o trabalhador em decorrência do contrato de trabalho.” A legislação é falha

tanto na construção do conceito salarial como ao determinar sua composição pois, ao invés de criar uma fórmula simples e totalizadora buscou exemplificar diferentes formas que terão ou não natureza salarial. A composição salarial pode ser calculada mediante unidade de tempo, obra ou tarefa, sendo diferenciado o salário-base, que se submete a regra de periodicidade de outras importâncias salariais derivadas da dinâmica empresarial em que é admitido um período alargado para o cumprimento da obrigação como os prêmios, abonos e etc.205

A composição salarial é regida por uma relativa liberdade destinada a livre disposição das partes (negociação coletiva, contrato de trabalho e em algumas atividades pela própria legislação especifica) e por isso ocorre o surgimento de incontáveis tipos salariais derivados da vontade das partes, sendo que a própria CLT reconhece alguns componentes que com o tempo ganharam maior importância. 206 Em função da finalidade do estudo não será desenvolvido todos os componentes salariais derivados da legislação, pelo qual somente será exposto aqueles que possuem maior relevância para o estudo e que são importantes para identificação do conteúdo salarial tutelado pelo sistema jurídico. Neste sentido destaca-se as comissões, gratificações e prêmios, que possuem regulação especifica na CLT bem como a participação nos lucros e resultados.

O trabalhador pode ser remunerado total ou parcialmente por meio de

comissão como dispõe o Artigo 466 da CLT e a Lei 3.207 de 1957, sendo que o seu

cumprimento tem algumas particularidades em relação ao salário-base. É assegurada a satisfação da comissão mesmo após a rescisão contratual, no caso de o negócio ter siso concluído após a rescisão do contrato de trabalho ou quando o negócio for desfeito por culpa exclusiva do empregador.207 Em oposição à regra de vencimento mensal do salário a comissão pode ser satisfeita em até três meses após a aceitação do negócio e tem-se questionado sobre a constituição da obrigação quando da realização do fator constitutivo (exemplo da comissão atribuída por venda de coisa de um trabalhador lojista) e eventual

205 BARROS, Alice Monteiro de. Curso de direito do trabalho. Página 535

206 Dentre os componentes salariais expressos na legislação destaca-se o adicional de insalubridade (Artigo

7º, XXIII da CF e 189 da CLT), adicional de periculosidade (Artigo 7º, XXIII da CF, Artigo 193 e legislações especificas), adicional de penosidade (Artigo 7º XXIII da CF não regulamentado por legislação), adicional de horas extraordinárias habituais (Artigo 7º, XVI da CF, Súmula 45 do TST), adicional noturno (Artigo 7º, IX da CF e Artigo 73 da CLT), adicional de transferência (Artigo 469, caput da CLT), adicional de sobreaviso (Artigo 244 §2).

74 cancelamento do negócio mesmo após o negócio ter se perfectibilizado por direito de arrependimento do consumidor (prazo de arrependimento do consumidor é de 7 dias conforme Artigo 49 do Código de Defesa do Consumidor). Tem se entendido majoritariamente que após realizado o negócio é devida comissão, salvo na hipótese de inadimplemento do cliente (Artigo 7º da Lei de Comissão), pelo qual ainda que exercido o direito de arrependimento do negócio pelo consumidor, seria devido comissão ao trabalhador em decorrência do risco do negócio assumido pelo empregador e do princípio da proteção do trabalhador.208 Este posicionamento é aparentemente inconcebível se observado a partir da relação causal e sinalagmática do salário, ou mesmo em razão dos princípios gerais do direito civil.

A gratificação pode decorrer de determinação legal como é o caso da

gratificação natalina (prevista no Artigo 7º, VIII, da CRFB usualmente denominada de 13º salário que não se enquadra essencialmente na ideia de gratificação pois é certo e

previamente constituído) ou de forma espontânea em decorrência de circunstância ou fator tido como relevante para o empregador como forma de de liberalidade. Verdade é que a concepção de liberalidade da gratificação foi absolutamente deturpada, inclusive pela legislação, pelo qual por exemplo tipifica na gratificação por exercício de um cargo ou função de confiança denominada de gratificação de função (Artigo 468). Devem ser diferenciadas as gratificações que decorrem de liberalidades do empregador das gratificações decorrentes da própria legislação ou da atividade desenvolvida pelo trabalhador.209

A gratificação que for incerta e decorrer que liberalidade do empregador não será enquadrada como salário, a gratificação que não seja regular ou que seja relacionada à função ou atividade realizada pelo trabalhador, ainda que seja considerada salário, poderá ser suprimida caso haja a reversão da condição que lhe fundamente, não incidindo o princípio da irredutibilidade salarial. Em contrariedade a este entendimento o TST passou a entender que as gratificações que fossem concedidas pelo empregador por mais de dez anos de forma habitual e reiterada se incorporariam de fato ao equilíbrio salarial do trabalhador não sendo possível sua supressão.210 O referido entendimento é

208 CARRION, Valentin. Comentários à Consolidação das Leis do Trabalho, atualizado por Eduardo Carrion. São Paulo: Saraiva. 2017. Página 103. Neste sentido o Ac. Tribunal Rrgional do Trabalho da 2º Região de 28/07/2015, Proc. 0001457-58.2014.5.02.0402 in http://www.trtsp.jus.br acessado em 05/05/2018. Entendeu ser devido o valor da comissão mesmo exercido o direito de arrependimento.

209 BARROS, Alice Monteiro de. Curso de direito do trabalho. Página 506

210 Este entendimento decorre da Súmula 372 do TST que proíbe a supressão de gratificações percebidas

75 questionado a partir da reforma trabalhista211 que modificou substancialmente o Artigo 468 § 1º e § 2º da CLT no sentido de expor manifestamente o caráter não consolidável das gratificações decorrentes de função. É questionável o entendimento do TST sobre a consolidação das gratificações ao salário do trabalhador pois estão presentes no sistema jurídico justamente para atribuir uma melhoria salarial em decorrência de uma situação ou evento incerto.

Os prêmios usualmente denominados de bônus consistem em atribuições realizadas pelo empregado em decorrência de evento ou circunstância tido como relevante normalmente vinculada à conduta individual ou coletiva dos trabalhadores mediante prévia estipulação. Uma vez pactuado o prêmio e constituído o seu fato gerador o prêmio devido e seu cancelamento implicaria alteração contratual lesiva.212

Em sentido diverso das prestações salariais apresentadas a participação nos

lucros e resultados possui previsão no Artigo 7º, XI da CRFB em que é expressamente

excluída sua natureza salarial. No plano infraconstitucional a participação nos lucros é regulada pela Lei 10.101/2000, sendo que que compete à negociação coletiva ou à comissão de trabalhadores da empresa sua estipulação.

Em sentido semelhante surgem também as stock options213, ainda que não

possuam regulação específica sobre a compra de ações aos trabalhadores, seu efeito prático é muito reduzido no sistema jurídico brasileiro, não se enquadrando no conceito de salário.214

Ainda que a gorjeta não possua natureza salarial ela pode integrar a remuneração do trabalhador a luz do Artigo 457 da CLT desde que seja em razão da

211 Reforma trabalhista é a denominação atribuída à alteração legislativa da CLT operada pela Lei nº 13.467. 212 BARROS, Alice Monteiro de. Curso de direito do trabalho. Página 510. Neste sentido o SFT editou a

Súmula 209

213 De forma vazia a única disposição sobre as stock options surge no o Artigo 168 da Lei n. 6.404/76 ao

afirmar que “O estatuto pode prever que a companhia, dentro do limite de capital autorizado, e de acordo

com plano aprovado pela assembleia geral, outorgue opção de compra de ações a seus administradores ou empregados, ou a pessoas naturais que prestem serviços à companhia ou à sociedade sob seu controle”

sem nenhuma disposição sobre a natureza deste rendimento. Neste sentido o Ac. Tribunal Superior do Trabalho de 11/04/2012, Proc. 108640-60.2007.5.05.0011, in http://www.tst.jus.br, acessado em 04/04/2018. A decisão refere que “Com relação à adesão do trabalhador ao plano "stock options", importa

observar a sua natureza mercantil, desde quando diz respeito a aquisição pelo empregado de ações de modo oneroso, embora tal compra seja subsidiada pela empresa em forma de desconto, afastando, assim, qualquer vestígio de natureza salarial, desde quando as ações não adquiridas a título gratuito, ficando o empregado beneficiário dos lucros porventura obtidos pela empresa, com a alternativa de livremente negociar no mercado de ações, enquanto a empresa se beneficia com o estímulo dos seus empregados no desenvolvimento de suas atividades, como acionista”.

76 atividade laboral, habituais ou compulsoriamente cobrada pelo serviço prestado pelos trabalhadores, conforme entendimento da Súmula 354 do TST.

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