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Regras de local, tempo e forma de pagamento

No documento O princípio da proteção do salário (páginas 111-114)

CAPÍTULO III – AS CONCRETIZAÇÕES DO PRINCÍPIO DA PROTEÇÃO

2. A proteção do salário no sistema jurídico de Espanha

2.5. A proteção do crédito salarial

2.5.1. Regras de local, tempo e forma de pagamento

A obrigação do empregador em adimplir o salário é concretizada pela liquidação e pagamento do mesmo conforme as regras determinadas na negociação coletiva ou em sua ausência no contrato de trabalho. A liquidação do salário corresponde no momento anterior ao efetivo pagamento em que o trabalhado possui o direito de informação sobre o montante que irá perceber.

A legislação sobre o momento, lugar e meio de adimplemento do salário visam estabelecer condições mínimas e pouco complexas ao empregador, para que o salário alcance sua finalidade primordial.

Em relação ao momento do adimplemento, o Artigo 4.2 f. e 29.1 do ET determinam o pagamento pontual do salário, ou seja, na exata data pactuada ou até a legalmente estabelecida. A legislação determina o limite máximo de um mês para o abono da retribuição regular e a remuneração não regular, como a extraordinária por exemplo, tem como limite o adimplemento anual. Com isso não é exigido que a estrutura

112 salarial seja toda determinada com base no pagamento mensal, podendo haver remuneração não regular com pagamento diverso.305

A pós-remuneração é a diretriz predominante quanto ao momento do pagamento do salário, em que primeiro o trabalho é exercido e depois lhe é adimplido. Esta prática faz sentido devido a necessidade do empregador em liquidar a quantia salarial devida ao trabalhador, contudo, a pós-remuneração aumenta a debilidade econômica do trabalhador que já é naturalmente elevada, pois a realidade da grande maioria dos trabalhadores assalariados é de dependência economicamente da remuneração laboral para arcar com seu meio de subsistência.

Devido a vulnerabilidade econômica do trabalhador o atraso no cumprimento da obrigação salarial coloca de imediato o empregador em situação denominada de mora, podendo gerar indenização por danos ou prejuízos pelo atraso e conforme a legislação civil. Para induzir o cumprimento do pagamento pontual do salário a legislação determina que o incumprimento da referida obrigação no prazo estipulado, até o limite legal mensal para salário regular ou anual para quantias não regulares, faz incidir multa de dez por cento do valor devido nos termos do Artigo 29.3 do ET.306

Deve-se ressaltar que o empregador só entra em mora quando há dívidas salariais vencidas, exigíveis e líquidas, não se podendo declarar a mora de valor reconhecido judicialmente se até então não era exigível, ou ainda, quando o salário não se tornou líquido.

Existe também a possibilidade legal do trabalhador requerer o adiantamento da remuneração regular pelo trabalho já realizado, que salvo disposto em negociação coletiva em sentido contrário deve ser excepcional e pode ou não ser concedida pelo empregador, sendo compensada no prazo estipulado para o pagamento do salário conforme dispõe o Artigo 29.1. A figura do adiantamento não se confunde com empréstimos concedidos pelo empregador e não pode haver nenhuma majoração do valor adiantado do valor compensado.

Em relação ao local do adimplemento do salário, o objetivo da norma é trazer segurança jurídica ao ato e evitar que o trabalhador tenha que incorrer em excessivo custo

305 LÓPEZ, Manuel Carlos Palomeque. ROSA, Manuel Álvarez de la Rosa. Derecho del Trabajo. Página

646

306 VALVERDE, Antonio Martín. GUTIÉRREZ, Fermín Rodriguez-Sañudo. MURCIA, Joaquim García. Derecho del trabajo. Página 676

113 de tempo ou mesmo financeiro para exercer seu direito à retribuição. Outro objetivo da regulação era trazer seriedade ao ato e também restringir o adimplemento em locais inadequados onde o trabalhador possa dilapidar inconsequentemente seu patrimônio como casas de jogos, bares e etc.307

Com a adoção de forma predominante da transferência bancária como meio de cumprimento do salário em Espanha e notável inexistência de lide quanto ao tema, as normas relacionadas ao local de pagamento do salário perderam seu sentido e não integram mais o ET. Com isso o Artigo 29.1 determina que o pagamento do salário (quando realizado em espécie) será realizado em local acordado, que usualmente corresponde ao local da execução da atividade.308

Como regra geral a obrigação retributiva deve ser adimplida em dinheiro, admitindo-se também pagamento em espécie, desde que observada algumas diretrizes. Em relação ao pagamento em dinheiro o Artigo 29.4 do ET determina que o valor deverá ser adimplido em moeda de curso legal ou meio equiparável, desde que através de entidade de crédito, como o cheque. O adimplemento do salário exige a comprovação documental do mesmo devendo no documento conter a composição da totalidade salarial de forma discriminada, sendo também o documento válido para comprovar o adimplemento da obrigação. No caso de o empregador eleger a modalidade de transferência bancária, procedimento universalmente eficaz, exige que o empregado crie uma conta em entidade financeira, o que é exigível salvaguardada a hipótese de que haja fundamento suficiente para não realizá-lo.

O adimplemento pode ser realizado em espécie, devendo o empregador respeitar o limite mínimo de trinta por cento do total da remuneração, sendo que a quantia em dinheiro não pode ser inferior ao estipulado no SMI conforme estipulado no Artigo 26.1 do ET. Ainda que não haja disposição expressa no ET se deve observar o referido na Convenção 95 da OIT (Ratificada pela Espanha em 28-8-1959) exigindo que o valor retribuído em espécie seja apropriado e benéfico à pessoa do trabalhador.309

307 MELGAR, Alfredo Montoya. Derecho del trabajo. Página 389

308 LÓPEZ, Manuel Carlos Palomeque. ROSA, Manuel Álvarez de la Rosa. Derecho del Trabajo. Página

646. O autor refere que a antiga Ley de Contrato de Trabalho no Artigo 54 e a Ley de Relações laborais no Artigo 30 proibiam o pagamento em locais de recreação, lojas ou bares.

309 LÓPEZ, Manuel Carlos Palomeque. ROSA, Manuel Álvarez de la Rosa. Derecho del Trabajo. 2017.

Página 649. A utilização da retribuição em espécie pode parecer insignificante e inexistente generalidade dos contratos de trabalho de Espanha, pelo qual o autor refere que esta forma de adimplemento é mais usual na remuneração de trabalhadores de altos cargos, onde além da remuneração estrita é assumido outras obrigações como veículo, moradia, viagens etc, com a intenção de ocultação de rendimentos. A Lei 35/2006

114 Ainda que a legislação determine o limite de trinta por cento da quantia salarial em espécie não há uma solução para o caso de o empregador superar este limite. A partir disso se podem formular três soluções hipotéticas para caso venha a ocorrer, a primeira se traduz no direito do trabalhador requerer o incremento do valor em dinheiro até o limite legal, a segunda equivale a redução do valor em espécie com o complementado em dinheiro, e a terceira reside na simples redução do valor em espécie. A solução mais adequada parece ser a segunda, ainda que não se possa sustentá-la para generalidade dos casos.310

Com a proteção da forma de pagamento do salário o ordenamento jurídico proíbe de forma indireta a figura denominada de truck system, em virtude de que o empregador não pode adimplir a retribuição em forma de vale ou similar, para forçar o trabalhador a comprar bens em determinados comércios, pois contrário à livre concorrência e a liberdade empresarial.

No documento O princípio da proteção do salário (páginas 111-114)