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Os princípios do direito do trabalho

No documento O princípio da proteção do salário (páginas 48-50)

CAPÍTULO II – O DIREITO DO TRABALHO E OS PRINCÍPIOS SALARIAIS

3. Os princípios do direito do trabalho

Em decorrência do enquadramento da atual perspectiva do subsistema jurídico-laboral enquanto ramo autônomo do direito privado que contempla um conjunto de princípios e regras com a finalidade de reger as relações de trabalho120 subordinado.121 É sobre o contrato de trabalho subordinado, característico da contemporaneidade, regido pela desigualdade fática e jurídica que os princípios do direito do trabalho irão incidir. A designação sobre os princípios do direito do trabalho recebe uma maior importância quando da instabilidade jurídica, porque mantem a unidade, sentido e coerência ao sistema jurídico em tempos em que o processo de modificação legislativa mostra-se cada vez mais acelerado.122

A subordinação jurídica corresponde ao ponto axial da relação laboral, pois nela são desenvolvidas as características elementares do contrato de trabalho, o poder de direção e disciplinar do empregador e o fundamento para que as normas sejam regidas por um princípio unificador do subsistema jurídico, o princípio da proteção do

trabalhador.123 O princípio da proteção do trabalhador surge junto ao direito do trabalho decorrente da questão social, resultado do processo de industrialização da produção em decorrência da necessidade de tutelar a livre disposição do trabalho subordinado enquanto sujeito débil da relação, com o fim de evitar o aviltamento degradante aos trabalhadores e à própria sociedade.124 É afirmado por unanimidade da doutrina que o direito do trabalho surge a partir do princípio da proteção do trabalhador, com o caráter finalístico de proteção do trabalhador enquanto sujeito da relação laboral vulnerável.125 É incontornável negar que os efeitos da supra referida crise do direito do trabalho alteraram os axiomas materiais do ramo jurídico, modificando ou mesmo substituindo os princípios que regem

120 Sobre as diferentes caracterizações da expressão trabalho vide: VEIGA, António Jorge Martins da Motta. Lições de direito do trabalho 8ª edição. Lisboa: Universidade Lusíada. 2000. Páginas 14 – 15. Ao referir

que a expressão trabalho pode gerar imprecisão interpretativa, pois pode significar qualquer atividade ou esforço humano, uma relação de emprego ou mesmo o resultado de uma atividade. Neste sentido a importância de se delimitar o conteúdo da expressão, pelo qual o ramo jurídico do direito do trabalho busca regular o trabalho enquanto atividade humana produtiva, realizada em benefício de outro de forma livre e subordinada. Com isso afasta-se do conceito de trabalho subordinado às atividades que não sejam realizadas por humanos, atividades recreativas ou voluntárias em que não haja uma finalidade econômica, ou ainda uma atividade livre, em que não haja subordinação jurídica.

121 OLEA, Manuel Alonso. BAAMONDE, Maria Emilia Casas. Derecho del trabajo, 20º edicion. Madri:

Civitas. 2001 Página 23

122 RODRIGUES, Américo Plá. Princípios de direito do trabalho. São Paulo: LTr. 1997. Página 20 123 DRAY, Guilherme Machado. O princípio da proteção do trabalhador. Página 201

124 AMADO, João Leal. Contrato de trabalho 2º edição. Coimbra: Almedina. 2018. Página 22 125 DRAY, Guilherme Machado. O princípio da proteção do trabalhador. Página 216

49 à matéria. Para tanto são desenvolvidas soluções com a finalidade de adaptar o regime laboral tradicional as modificações sociais e jurídicas que veem ocorrendo, pelo qual destacamos de forma genérica três possíveis soluções dogmáticas suscitadas.

A primeira solução corresponde ao retorno do direito do trabalho ao ramo jurídico civilístico do qual se “emancipou” passando a ser orientado pelos princípios gerais do direito civil em função deste também estar se adaptando às modificações sociais, respectivamente quanto à ideia de “contraente débil” comumente tutelando por exemplo o direito do consumidor.126 Outra solução propõe a alteração do princípio da proteção do

trabalhador, enquanto princípio reitor do subsistema jurídico, por princípios que se mostrem compatíveis às modificações jurídicas e sociais exigidas em nosso tempo, respectivamente relacionadas ao aumento da competitividade econômica dos meios de produção pela adaptação da legislação aos interesses de gestão do empregador.127

Uma terceira solução sustenta que o princípio da proteção do trabalhador não perdeu de fato sua função “dirigente” da disciplina, mesmo com as modificações jurídicas que diminuem o âmbito de proteção dos trabalhadores, permitindo-se também a defesa de interesse de mercado, uma vez que o dever ser do direito laboral continua o de proteção do trabalhador. Este entendimento parte da concepção de que a atuação do princípio, em função da própria natureza dos princípios, tende a ser dinâmica pelo qual ora se expande garantindo maior proteção aos trabalhadores e ora se comprimi atendendo às exigências e influxos derivados do dever social, da situação econômica e dos índice de empregabilidade conjuntural do Estado.128

A compreensão do caráter mutável dos princípios é fundamental para entender a forma com que os princípios atuam no sistema jurídico, sendo que o princípio da proteção do trabalhador não deixou de orientar os ditames da relação de trabalho pois as alterações jurídicas com finalidade de incremento da economia e salvaguarda dos interesses de gestão, em última análise, também visam a proteção dos interesses do trabalhador, ainda que de forma indireta e coletivo, transcendendo o interesse individual

126Neste sentido: Menezes Cordeiro. Manual de direito do trabalho. Página 95 e Romano Martinez. Direito do trabalho. Página 34

127 RAMALHO, Maria do Rosário Palma. Da autonomia dogmática do direito do trabalho. Páginas 815 –

820. É desenvolvido o entendimento de que o princípio da proteção do trabalhador teria sido absorvido pelo “princípio da compensação da posição debitória complexa das partes no contrato de trabalho” no qual também integraria o princípio da salvaguarda dos interesses de gestão com a finalidade de adequar a dogmatica jurídicas ao novo padrão laboral.

50 com fundamento na manutenção ou aumento de postos de trabalho, pois a tutela do direito do trabalho também se dá à nível coletivo (sociais).129

A superação da crise do direito do trabalho ocorre pela via dogmática com a afirmação, determinação e delimitação dos princípios jurídicos-laborais. A partir desta concepção se busca desenvolver o princípio da proteção do salário, enquanto corolário do princípio da proteção do trabalhador, capaz de proporcionar soluções concretas na interpretação do sistema jurídico em constante colisão. O princípio, por ser princípio, atua em harmonia com outros princípios derivados da autonomia contratual como o princípio da salvaguarda dos interesses de gestão, que no essencial visa garantir a tutela da liberdade de gestão empresarial e a competitividade e sustentabilidade da unidade produtiva.130

No documento O princípio da proteção do salário (páginas 48-50)