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Princípio da suficiência salarial, salário mínimo e piso salarial

No documento O princípio da proteção do salário (páginas 76-78)

CAPÍTULO III – AS CONCRETIZAÇÕES DO PRINCÍPIO DA PROTEÇÃO

1. A proteção do salário no sistema jurídico brasileiro

1.3. Princípio da suficiência salarial, salário mínimo e piso salarial

Como referido supra, a noção de suficiência salarial e de salário justo suscitam à limitação à livre disposição dos salários tendo como sua maior concretização a criação de mínimos salariais que garantam (deveriam garantir) a capacidade de subsistência ao trabalhador e à justa retribuição compatível com sua atividade. Como expresso no plano internacional, a determinação do salário mínimo decorre da concepção básica de intervenção do Estado nas relações laborais com objetivo de tutelar um valor mínimo civilizatório, capaz de garantir as necessidades elementares do trabalhador. Ressalta-se que o Brasil ratificou pelo Decreto Legislativo n.º 24 de 1956 as Convenções da OIT n.º 26 e 95 sobre a fixação de salários mínimos se comprometendo à criar meios de proteção quanto aos salários.

A fixação de valores salariais mínimos surge no sistema jurídico brasileiro pela Constituição de 1934, outrora denominados de piso nacional de salários, sendo realizadas diferentes modificações em função dos diferentes espectros políticos. A atual concepção constitucional reconhece o salário mínimo no Artigo 7º, IV atribuindo ao legislativo o dever de fixar o valor, sendo ele unificado em todo o país a todos os trabalhadores subordinados, devendo corresponder as necessidades básicas dos trabalhadores, sendo irrenunciável e indisponível por negociação coletiva ou contrato de trabalho. Ainda que a norma constitucional tenha disposto que “o salário mínimo deve

ser capaz de atender às necessidades vitais básicas do trabalhador e ás de sua família tal como moradia, alimentação, educação, saúde, lazer, vestuário, higiene, transporte e previdência social” a jurisprudência e a doutrina não criam uma vinculação direta entre

o valor estipulado e sua suficiência para suportar as exigências constitucionais, sendo entendido como uma norma de caráter programático, com eficácia limitada ao máximo possível. A partir do reconhecimento constitucional do salário mínimo enquanto direito fundamental, no plano infraconstitucional, a evolução215 da determinação salarial não

215 As medidas de interferência Estatal na estipulação dos salários após a promulgação do texto

constitucional e a indexação dos reajustes aos índices da inflação ou mesmo ao valor do salário mínimo contribuíram, entre outros fatores, para o descontrole monetário da moeda brasileira ocasionando um ciclo vicioso de que quanto maior ocorriam as correções salariais, com o intuito de acompanhar a subida dos preços dos bens de consumo, maior ocorria a desvalorização da moeda em função da relação inseparável

77 ocorreu de forma linear tendo adquirido a atual forma a partir da consagração do plano

real concretizado em 1994.216

O atual valor do salário mínimo nacional é regulado pela Lei n.º 13.152 de 29 de Junho de 2015 que abandonou a até então dominante subjetividade na estipulação do valor do salário mínimo vinculando seu cálculo até o ano de 2019 aos índices do Produto Interno Bruto e da inflação. Com isso, a partir da fixação dos referidos critérios o poder executivo lança o decreto determinando os valores concretizados, sendo que para o ano de 2018 o salário mínimo foi determinado pelo Decreto n.º 9.255 de 29 de dezembro de 2017 correspondendo ao valor mensal de R$ 954,00 mês, ao valor diário de R$ 31,80 e ao valor de R$ 4,34 por hora.217

A determinação do valor do salário mínimo cria uma obrigação intransponível ao próprio poder público no âmbito dos Estados Federais na determinação do piso salarial, ao empregador e aos representantes dos trabalhadores na negociação coletiva e ao próprio trabalhador na estipulação do contrato de trabalho, pois o salário mínimo é norma imperativa de caráter público que concretiza o direito fundamental suscitado no texto constitucional atribuindo valor mínimo devido ao trabalho subordinado.

O piso salarial previsto no Artigo 7º, inciso V da CRFB também é uma concretização do princípio da suficiência salarial, sendo regulado pela Lei Complementar 103/2000. Este instrumento leva em consideração a noção de que o Salário Mínimo não seria capaz de regular as desigualdades econômicas e sociais de cada Estado Federação, enquanto instrumento jurídico que autoriza os Estados Federais a criar mínimo salarial superior ao estipulado pelo salário mínimo aos trabalhadores que não sejam regulados por convenção ou acordo coletivo. Observa-se que em verdade o instrumento não mostra-se eficaz, pois a grande maioria dos trabalhadores é regido por negociação coletiva, o que exclui a aplicação do Piso Salarial.

do salário ao custo da produção. Para conter o descontrole econômico foi lançado o Programa de

Estabilização Econômica criado pela Lei n. 8.880/1994 que proibiu a vinculação da estipulação do Salário

Mínimo para qualquer fim, eliminando do sistema jurídico o meio da proteção da quantia salarial denominado de correção salarial automática que visava preservar o valor real do salário em função do acréscimo inflacionário, passando a fixar a denominada data base anual para realização de reajuste ou aumento salarial mediante negociação coletiva.

Diminuiu-se a interferência do Estado na fixação dos salários, fazendo com que as categorias de trabalhadores tenham que se utilizar da negociação coletiva ou na sua ausência do contrato de trabalho para auferir reajustes ou aumentos reais de salários, sendo que em hipótese alguma se pode pactuar salários abaixo dos mínimos legais.

216 NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Curso de direito do trabalho. Página 830 217 MARTINS, Sergio Pinto. Direito do trabalho. Página 248

78 Outro preceito constitucional que vise tutelar o princípio de suficiência salarial decorre do Artigo 7º Inciso VII pelo qual garante ao trabalhador que perceba remuneração variável composto por produção, tarefa ou comissão a garantia do adimplemento do salário mínimo mensal, ou seja, ainda que pelo seu trabalho não alcance valor correspondente ao salário mínimo o empregador deve garantir este sem qualquer compensação futura. Neste sentido é possível afirmar que em qualquer atividade o salário mínimo deve ser garantido mensalmente, ainda que o salário seja calculado mediante remuneração variável.

No documento O princípio da proteção do salário (páginas 76-78)