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2. COMPRAS PÚBLICAS: PRINCIPAIS ENFOQUES NA LITERATURA ESPECIALIZADA.

2.1. Compras Públicas: avaliações pelo lado dos custos.

Inicialmente deve-se ter que existe uma diferença conceitual entre despesa, custo e gasto. No âmbito do setor público a despesa é a denominação que se aplica à utilização de recursos do Estado no custeio das atividades como: na manutenção, na prestação de serviços, na realização de investimentos e outros gastos voltados para o desenvolvimento da economia, enquanto o custo mede o consumo de recursos pelas atividades das organizações governamentais (custo da atividade ou de processo). (CABELLO E ALVES, 2017)

O gasto é um sacrifício financeiro com que a entidade arca para obter bens (produtos) ou serviços. São representados pela promessa de entrega de ativos, normalmente dinheiro. Gasto é o termo genérico que pode representar tanto um custo como uma despesa. (FERNANDES E STEFANELLO, 2012)

Para Alonso (1999, apud Cabello e Alves, 2017), às despesas mostram como o governo financia os recursos que usa ou potencialmente poderá utilizar, como: a despesa com pessoal, material de consumo, equipamentos ou material permanente, serviços de terceiros, despesas financeiras etc. Enquanto os custos, mostram como o governo financia seus resultados: custo de uma aula, de uma consulta médica, de um serviço administrativo, custo de uma operação de fiscalização etc.

Entretanto Cabello e Alves (2017) destacam que na prática governamental, as despesas públicas se confundem com os gastos do governo, possivelmente por causa da influência de termos usuais da contabilidade privada, onde, conceitua gastos como algo extremamente amplo e que se aplica a todos os bens e serviços, dando um aspecto de “gênero” aos gastos e “espécies” às despesas e custos. Ou seja, ao se falar em despesas ou custos com um produto ou serviço está se falando, genericamente, também em gasto.

Diferentemente do setor privado, a gestão de custos no governo não está relacionada com a avaliação de estoques ou com a apuração de lucros, mas refere- se a melhoria da qualidade dos serviços públicos prestados.

A compra pública é uma forma de atuação dos governos, por meio do qual podem ser realizadas as prestações de serviços e aquisições de bens para desenvolvimento de diversas atividades, uma boa parcela desse montante é gasto pelos setores de compras dos órgãos e isso demonstra que o volume de dinheiro

público gasto nesses setores é exorbitante.

De acordo com o painel de compras do Ministério da Economia o valor estimado de processos de compras brasileiro divulgados no ano de 2019 foi de mais de R$ 477 Bilhões de reais, o que representa aproximadamente 14,6% do orçamento da receita anual que foi de R$ 3,26 Trilhões de Reais, conforme painel da transparência.

O conceito de compras pode ser definido como uma função administrativa responsável por coordenar um sistema de informação e controle capaz de adquirir externamente, para garantir o fluxo de materiais necessário à missão da organização, bens e serviços na quantidade certa, na qualidade certa, da fonte certa, no exato momento e ao preço certo. (COSTA, 1995).

Entretanto este conceito pode ser demasiado simplório quando se trata de compras públicas, de acordo com Costa e Terra (2019) análises com base somente em aspectos formais podem omitir elementos e componentes que são importantes para entender os sistemas de compras, isto porque a atividade de compras é mais complexa, principalmente no âmbito público, que possui normativos e processos mais rígidos, ao contrário do âmbito privado.

Para definir o termo compras, incluindo as realizadas pelo setor público, todos os elementos que compõem o processo de compra devem ser levados em consideração, visto que estes formam uma estrutura multifacetada que está alinhada aos princípios que regem a organização. Segundo Baily et al. (2000), as compras públicas são procedimentos que englobam desde a definição da demanda, passando pela seleção dos fornecedores, até a finalização da relação e o pagamento.

Na Administração Pública a atividade administrativa de compras deve ser desenvolvida com rigorosa observância aos preceitos legais. A discricionariedade é quase nula, em função, especialmente, dos choques que cada decisão de compra pode ter sobre a economia, tomando-se em consideração o volume de recursos financeiros envolvidos.

No Brasil7 a utilização do Sistema de Custos no setor público é estabelecida pelo Conselho Federal de Contabilidade através da NBC T 16.11 – Sistema de

7 De acordo com o Relatório de Gestão 2012 da UnB o novo sistema de custos foi implantado na

Informação de Custos do Setor Público estabelecida na Resolução CFC nº 1.366/11. Esta Norma estabelece a conceituação, o objeto, os objetivos e as regras básicas para mensuração e evidenciação dos custos no setor público através do Sistema de Informação de Custos do Setor Público - SICSP. (CFC, 2011).

Conforme a Resolução CFC (2011), o SICSP de bens e serviços e outros objetos de custos públicos têm por objetivo: (a) mensurar, registrar e evidenciar os custos dos produtos, serviços, programas, projetos, atividades, ações, órgãos e outros objetos de custos da entidade; (b) apoiar a avaliação de resultados e desempenhos, permitindo a comparação entre os custos da entidade com os custos de outras entidades públicas, estimulando a melhoria do desempenho dessas entidades; (c) apoiar a tomada de decisão em processos, tais como comprar ou alugar, produzir internamente ou terceirizar determinado bem ou serviço; (d) apoiar as funções de planejamento e orçamento, fornecendo informações que permitam projeções mais aderentes à realidade com base em custos incorridos e projetados.

Deve-se lembra que o setor público tem como prioridade, beneficiar a população para que tenha possibilidade de usufruir das disponibilidades existentes, desta forma um sistema de custos torna-se imprescindível para o desempenho das atividades públicas. Esse desafio é estabelecido pelo fato de que as aquisições governamentais possuem múltiplas funções, não podendo ser dessa forma entendidas como um fim em si mesmo (SANTANA, 2015, apud COSTA e TERRA, 2019).

Nesta amplitude do entendimento as compras públicas passam a ser compreendidas como parte do processo de logística da organização deixando de ser consideradas atividades meramente rotineiras e interferindo nas tomadas de decisões estratégicas. De acordo com Baily et al. (2000), a proximidade com o setor estratégico é notada no setor privado, no qual as compras se ajustam aos objetivos institucionais e isto ocorre devido ao valor agregado que geram para a instituição.

Riggs e Robbins (2001), apud Costa e Terra (2019) exaltam a importância de se repensar o processo de compras, passando para um processo mais gerencial e com foco na criação de valor a cada uma das compras realizadas. Percebe-se que a atividade de compras públicas quando visualizada em toda a sua complexidade, acaba se vinculando com as políticas públicas e com objetivos-chave de governo.

É imperioso que as compras sejam observadas pelos setores estratégicos a fim de que estas possam ser mais eficiente ao enfrentar os custos de transação.

Para Brites (2006), a área de compras necessita que suas atividades promovam o aumento da eficiência operacional e a redução dos custos, passando assim a contribuir de forma superior para a criação de valor nas organizações.

Assim as compras públicas devem possuir objetivos estratégicos que vão além de garantir ao governo o suprimento de bens ou a prestação de serviços necessários ao seu funcionamento. Esta importância tem caráter determinante da qualidade do gasto e da eficiência na utilização do recurso público para o êxito da gestão governamental. Nesse sentido, as compras podem servir como mecanismos para melhores serviços e, consequentemente, para a qualidade de vida dos cidadãos (BARBOSA, 2015).