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2. COMPRAS PÚBLICAS: PRINCIPAIS ENFOQUES NA LITERATURA ESPECIALIZADA.

2.3. Diferentes Modelos de Compras Públicas.

2.3.2. Compras União Europeia (UE):

A União Europeia (UE) é composta por 28 Estados-Membros e possui um caráter singular visto que, apesar de serem todos estados soberanos e independentes, estes países congregaram parte da sua soberania a fim de trabalhar em conjunto. De acordo com a Comissão Europeia (2018) congregar soberania significa, na prática, que os Estados-Membros delegam alguns dos seus poderes de decisão nas instituições comuns que criaram, de modo a assegurar que as decisões sobre assuntos do interesse comum possam ser tomadas democraticamente a nível europeu. A tomada de decisões da União Europeia envolve várias instituições, a saber: (1) o Parlamento Europeu, diretamente eleito, que representa os cidadãos da UE; (2) o Conselho Europeu, constituído pelos chefes de Estado e de Governo dos Estados-Membros da UE; (3) o Conselho, que representa os governos dos Estados- Membros da UE; e (4) a Comissão Europeia, que representa os interesses da União no seu conjunto. (CE, 2018).

A UE tem como um de seus objetivos ajudar as empresas europeias a tornarem-se mais inteligentes, mais inovadoras e mais sustentáveis com intenção de

ajudar as empresas e a indústria a serem competitivas e a gerar crescimento e novos empregos. Para isso a Comissão Europeia desenvolveu planos de ação e legislação específicos para apoiar vários setores industriais, considerados por eles chave, por exemplo: as indústrias de produtos químicos, automóvel, produtos alimentares, cuidados de saúde, biotecnologia e aeronáutica. A Comissão também é responsável por setores com implicações geoestratégicas e um elevado grau de intervenção pública, como a defesa, a segurança e o espaço. (CE, 2018)

Para viabilizar recursos para investimento na Europa, existe o Plano de Investimento para Europa (Investment Plan for Europe), neste plano, foi criado o European Fund for Strategic for Investments. O fundo concede garantias em apoio a projetos financiados pelo Banco Europeu de Investimento, centrados nas infraestruturas, na inovação e nas pequenas empresas. Em 2017, o fundo já tinha angariado mais de € 236.1 bilhões de euros em investimentos aprovados segundo a Comissão Europeia (2018).

Dado o papel fundamental dos contratos públicos, os instrumentos e métodos existentes foram modernizados de modo a acompanhar a evolução do contexto político, social e econômico. O Livro Verde é a geração atual de diretivas sobre contratos públicos na UE, a regulamentação prevê procedimentos para que os processos de aquisição do setor público sejam conduzidos da forma mais racional, transparente e equitativa possível. Assim, a regulamentação europeia em matéria de contratação pública aplica-se a todos os contratos públicos com potencial interesse para os operadores que exercem a sua atividade no mercado interno garantindo a igualdade de acesso e uma concorrência equitativa em matéria de processos públicos no mercado europeu. (CE, 2011).

Com políticas voltadas para o crescimento do comércio e indústria, a UE entende que os contratos públicos, são um dos instrumentos de mercado a ser utilizado para crescimento inteligente e sustentável, geração de empregos e maiores investimentos em inovação e desenvolvimento. A UE propõe utilizar os contratos públicos para: melhorar as condições para a inovação empresarial, utilizando plenamente as políticas de estímulo à procura; apoiar a transição para uma economia hipocarbónica - em que todos os setores apresentem baixas emissões de carbono e que utiliza eficazmente os recursos, promovendo um maior recurso aos contratos públicos ecológicos; e melhorar o ambiente empresarial, especialmente para as micro e pequenas empresas inovadoras.(CE, 2011).

Outro objetivo, denominado complementar pela Comissão Europeia (2011), é permitir que os órgãos públicos utilizem melhor os contratos públicos para apoiar propósitos sociais comuns como: a proteção do meio ambiente, busca por maior eficiência do uso de recursos energéticos, a luta contra as alterações climáticas, a promoção da inovação e da integração social e entre outros.

A exemplo dos EUA a União Europeia possui uma política de fomento a pequena e média empresa. Em 2008, o Conselho Europeu aprovou a Small Business Act (SBA) for Europe, com o objetivo de tornar as políticas mais favoráveis às pequenas empresas, buscando reforçar o crescimento e a competitividade das PME (SBA, 2008).

De acordo com a Small Business Act for Europe (2011), a economia europeia está dependente do êxito das pequenas e médias empresas em realizarem o seu potencial, uma vez que na UE, cerca de 23 milhões de pequenas e médias empresas empregam 67 % da mão-de-obra do setor privado. O Small Business Act (SBA) é o quadro de ações da UE que tem por finalidade reforçar as empresas através de redução de encargos administrativos, financiamentos e apoio ao acesso de novos mercados de modo que as mesmas possam crescer e gerar emprego.

O SBA Europeu (2008) tem dez princípios que se propõem em orientar a concepção e a aplicação de políticas públicas na União Europeia, sendo eles:

I – propiciar um ambiente em que os empresários e as pequenas empresas possam prosperar, recompensando o empreendedorismo;

II – garantir condições de retornarem à atividade empresarial de forma ágil aos empresários honestos que falirem;

III - aplicar o princípio do Think Small First nas regulamentações;

IV - tornar as administrações públicas aptas a responder às necessidades das pequenas e médias empresas;

V - adaptar os instrumentos das políticas públicas às necessidades das pequenas e médias empresas, facilitando a participação delas no mercado por meio de contratos públicos com melhor utilização de auxílios estatais em seu favor;

VI - facilitar o acesso das pequenas e médias empresas ao financiamento e criar um ambiente jurídico e empresarial favorável à pontualidade dos pagamentos nas transações comerciais;

O SBA para a Europa propõe uma parceria política entre a União Europeia e Estados-Membros, reconhecendo o importante papel das empresas de pequeno e médio porte na economia, e se baseando no princípio denominado Think Small First, que implica que os formuladores de políticas considerem ações voltadas para estas empresas desde o início do processo de elaboração de políticas (SBA, 2008 apud CHAVES, 2016).

Com a política de incentivo na União Europeia, observou-se que 56% das contratações públicas foram realizadas por pequenas e médias empresas, sendo que 29% das contratações foram provenientes do mercado único entre os Estados- Membros. Estas empresas foram responsáveis por 85% dos novos empregos gerados (CHAVES, 2016).

Destaca-se que a política de compra pública da União Europeia se baseia em princípios a serem adotados pelos Estados-Membros sendo mais extensivas com as definições conforme destacou Chaves (2016) ao comparar a política adotada nos Estados Unidos e na União Europeia. De acordo com o autor o modelo americano apresenta regras bem definidas com estipulação de meta mínima de contratação e sistemas de controle para acompanhamento da execução da política. Já o modelo europeu apresenta vários princípios a serem adotados, contudo a regulamentação se baseia em termos mais genéricos, sem distinção entre os diferentes segmentos de empresas.