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Capítulo 3 – Tecnologias Assistivas 65

3.3 Terapias Computacionais de Ensino para Crianças Autistas 70

3.3.1 CBI – Computer Based Intervention 74

Considerando que as crianças autistas não apresentam déficits em todas as áreas de desenvolvimento, e que muitas vezes tais limitações existem por breves períodos de tempo, em fases etárias ou em situações específicas (Bosa, 2006), deve-se considerar que as terapias e intervenções devem promover áreas primordiais: (i) estimular o desenvolvimento social e comunicativo; (ii) aprimorar o aprendizado e a capacidade em solucionar problemas; (iii) diminuir comportamentos que interferem no aprendizado e (vi) auxiliar as famílias a lidarem com o autismo.

Neste primeiro tópico, referente à estimulação do desenvolvimento social e comunicativo, surgem os dispositivos de comunicação computadorizados específicos para crianças autistas. Além disso, o desenvolvimento de softwares para crianças autistas está em amplo crescimento, e neste contexto, destaca-se uma proposta de intervenção baseada no uso do computador com crianças autistas de autoria de Valerie Herskowitz, cujo filho autista foi diagnosticado em 1993.

Esta proposta de intervenção – CBI – aposta na tecnologia, pois acredita que ela está presente hoje e estará amanhã com um potencial cada vez maior. Neste sentido, a tecnologia oferece oportunidades infinitas para as pessoas com deficiência. Comungando com esta crença, o presente trabalho utilizou algumas estratégias e fundamentos desta proposta de intervenção. Além disso, também se acredita que um dia haverá a cura para o autismo, mas atualmente o que temos é uma chave que pode permitir que o autista saia do seu mundo, e ela se chama tecnologia.

A CBI consiste em uma prática que envolve programas específicos que foram desenvolvidos para pessoas com necessidades especiais com o objetivo de treinar algumas áreas que se encontram com déficit, nomeadamente: a linguagem, conteúdos escolares,

habilidades sócias e habilidades para a vida diária. E os parentes devem ser peças ativas neste processo.

Este programa de utilização do computador com crianças autistas criado e utilizado por Valerie (Herskowith, 2009) possui quatro etapas: (i) Prescripitive Software Selection – o objetivo desta etapa é identificar quais áreas a criança necessita treinar e em que nível deverá começar; (ii) Selecionar o software adequado para a área a estimular, identificada no primeiro passo; (iii) Financiamento do programa – consiste em definir custos e de onde se obterá verbas para a execução da atividade; (iv) Criação do cronograma do CBI – esta etapa é importante, pois uma rotina planejada é benéfica para as crianças autistas, e o planejamento da atividade em um cronograma proporcionará maior probabilidade de ter sucesso com sua implementação.

Outro aspecto a considerar é que esta intervenção é realizada em casa, o que reduz os custos de terapias externas que algumas famílias podem apresentar. Existem o custo de implementar o programa em casa, usando o computador e necessitando da atenção e disponibilidade de familiares, mas o investimento irá justificar o retorno que se pretende atingir.

Destaca-se que a proposta de intervenção CBI comunga com as técnicas e estratégias utilizadas na prática de trabalho com crianças deficientes, da autora desta pesquisa, (Godinho, Santos, Coutinho, 2004) justificando a explanação das características e estrutura da CBI neste trabalho. Acredita-se que tais estratégias de uso do computador com crianças autistas, reforçando o papel do mediador, podem ser eficazes e devem ser amplamente utilizadas e disseminadas.

3.4 Fatores Positivos e Negativos na Utilização do Computador com

Crianças Autistas

Na literatura encontram-se diversos trabalhos relacionados com a utilização do computador com crianças autistas, que serão destacados a seguir. E constatou-se que nestes artigos são apontados, na sua maioria, aspectos positivos desta utilização, como por exemplo:

O material visual é melhor compreendido e aceito do que o verbal (Bosa, 2006)

– o que significa que o computador, ao possuir muita informação visual atraente, pode ser um recurso interessante para crianças autistas;

Os autistas apresentam enorme afinidade para atividades concretas e

repetitivas (Klin, 2006) – normalmente no computador são apresentados programas e

atividades com estas características. Porém, deve-se ter atenção para que não haja excesso e assim o uso do computador não reforce os comportamentos repetitivos e estereotipados do autismo.

O computador permite reunir canais de atenção com um mínimo desconforto

em relação à criança e o mediador, permitindo driblar algumas dificuldades do

espectro autista (Muray e Lesser, 2001) – o computador constitui uma interface atraente,

lúdica, onde o mediador pode ter um forte papel no estímulo da criança autista;

Além de auxiliar no processo comunicativo, o computador vem sendo utilizado

para aquisição de vocabulário, alfabetização, e na melhoria dos déficits de interação

social em crianças com autismo (Ribeiro, 2004) – neste contexto o computador passa a

ser auxiliar no aprendizado escolar e na interação com os outros.

Diante destes exemplos, presentes na literatura, acrescenta-se que as vantagens da utilização do computador na educação de crianças autistas são várias, entre elas destaca-se

a possibilidade de ter um ambiente estruturado e controlado; a capacidade de controlar as respostas previsíveis e a organização visual dos elementos.

Certas tecnologias fascinam, principalmente as crianças, de tal modo que elas acabam esquecendo a sua finalidade. Por exemplo, um jogo de computador, que para uma criança seria apenas uma brincadeira, pode trazer conceitos educativos intrínsecos que são assimilados de forma natural pela criança. Enquanto ela pensa que está apenas jogando no computador, está sim absorvendo conhecimentos importantes para seu desenvolvimento.

Outro aspecto positivo do uso do computador é o fato de ser raro encontrar uma criança que não fique fascinada com esta tecnologia e com o universo de programas e recursos que ele possui, desde jogos, imagens e sons que estimulam a criança com o uso do lúdico como instrumento de reforço dos conteúdos didáticos.

No processo de aprendizagem, a criança depara-se com o desafio da tentativa, erro e acerto, e o computador permite que esta trilogia esteja presente e seja oferecida sem cansar, de forma repetitiva com vista ao sucesso e reforço à aprendizagem.

O uso do computador com crianças autistas pode estimular diversos aspectos: a habilidade de comunicação; a cognição; além de ajudar nas atividades que envolvem coordenação motora; e auxiliar na inclusão da criança em escolas regulares.

Além disso, o computador auxilia na comunicação da criança autista, pois melhora a aquisição de vocabulário, alfabetização independente da criança ser verbal ou não, e também melhora os déficits de interação social característicos do autismo (Goldsmith & LeBlanc, 2004).

A tecnologia está presente no nosso dia-a-dia e passa a ser parte da rotina a utilização do computador nas casas, nas escolas, no contexto social das pessoas. Esta tecnologia pode ser vista como promotora do avanço, facilitadora no gerenciamento de

atividades, mas existe também a ideia oposta, onde a utilização do computador é visto com cautela.

Nesta ótica há afirmativas de que o computador pode aumentar a obsessão pela tecnologia, pois a utilização em demasia causaria danos e assim o que seria benéfico passa a ser prejudicial.

Após a apresentação dos pontos positivos e negativos da utilização do computador com crianças autistas, segundo a literatura, conclui-se que os computadores são apenas uma parte importante no processo educativo de intervenção em crianças com autismo, e não a solução propriamente dita.

É necessário não esquecer a importância de pensar nesta inserção da tecnologia como uma solução tríade, onde temos a presença de três sujeitos de suma importância: o computador, a criança com autismo e o mediador. Os três interagindo em busca de um objetivo central: o desenvolvimento sóciocomunicacional (Figura 3).