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PARTE II – PROJETOS DESENVOLVIDOS

4. COMUNICAÇÃO DE RISCO NO CONTEXTO DE CRISE

As farmácias comunitárias são frequentemente o primeiro ponto de contacto com o sistema de saúde para, segundo a FIP (Federation Internationale Pharmaceutique), “quem tem

preocupações relacionadas com a saúde ou simplesmente necessita de informação e aconselhamento fiável” (67). A confiança é uma base muito importante para que a informação seja transmitida de forma efetiva. Os farmacêuticos são considerados um dos profissionais mais confiáveis pela população portuguesa (67).

O início da segunda década do século XXI revelou-se um verdadeiro desafio sem precedentes, devido à pandemia causada pela COVID-19. A imposição de novos contextos e barreiras levantaram diversas oportunidades, assim como fragilidades. Os espaços de saúde, e consequentemente os profissionais de saúde, viram-se obrigados a adaptarem-se e a enfrentar todas as dificuldades inerentes ao estado, que se revelou de “Emergência”. Estes tiveram de se assumir como a linha da frente ao combate a uma situação de stresse comunitário. Face a cenários de crise, as pessoas podem sentir necessidade de informação, percecionando os diversos eventos como uma ameaça ou vivenciando-a como uma situação de desafio.

Uma comunicação entre os profissionais de saúde e o utente é uma ligação que facilita a integração e a preparação de respostas a situações de crise, ou noutro cenário, contribui para a prevenção de doenças (68). É sem dúvida uma relação de confiança necessária e uma oportunidade para promover a literacia em saúde (ex. etiqueta respiratória).

As farmácias comunitárias formam a maior, mais próxima e mais dispersa rede de cuidados de saúde do país. Prestam um serviço público essencial a toda a população através do fornecimento de medicamentos, serviços e cuidados farmacêuticos (67).

4.2. OBJETIVOS E MÉTODOS

O funcionamento interno do LMPQF inclui a distribuição de normas e orientações que condicionam o modo de atuação da equipa. Assim, surgiu a ideia de formalizar orientações capazes de incentivar e instruir a equipa do LMPQF para uma comunicação de risco pró-ativa, o qual deve ser exigido a todos os profissionais de saúde. (Anexo II)

Existem documentos e orientações (69), relativas à comunicação e gestão de risco, elaboradas pelas organizações gestoras da saúde a nível nacional e mundial. Estas orientações normalmente são direcionadas a organizações governamentais de forma a serem aplicadas na comunidade através da comunicação social, por exemplo. Direcionadas à farmácia comunitária,

não existem orientações objetivas que possam ser aplicadas, pelo que uma consciencialização para uma comunicação de risco em contexto de crise deve ser formalizada.

A elaboração do documento teve como base muitas destas orientações, que após adaptação, podem ser utilizadas no contexto das farmácias comunitárias (67,68).

4.3. ENQUADRAMENTO TEÓRICO

Existem diferentes visões para a definição de uma crise, no entanto, existem características consensuais. Segundo o Ministério da Saúde, “é um evento inesperado, definido como uma ameaça, com um potencial elevado de consequências negativas para indivíduos e/ou organizações e com sentido de urgência, exigindo respostas rápidas e cuidadas da sociedade” (68).

A comunicação passa pela transmissão de uma mensagem, de forma verbal ou não verbal. Engloba um emissor, um recetor e uma via de comunicação (70).

Comunicação de Risco é uma comunicação bilateral e multidirecional com o objetivo de influenciar o público-alvo a tomar decisões informadas e a mudar para comportamentos positivos de forma a orientar a população para tomar medidas de proteção pessoal, interpessoal, social e comunitária. Segundo a OMS, “exige uma abrangente capacidade de comunicação durante a preparação, resposta e recuperação de toda a fase de crise, independentemente da origem (e.g. pandemia)” (70). A finalidade é partilhar a informação de forma a proteger a saúde, minimizar os riscos para a própria pessoa e de quem os rodeia, mudar crenças e mudar comportamentos (70).

É essencial construir e manter relações de confiança com a população de forma honesta, onde o objetivo deve ser responder a perguntas frequentes e desconstruir informação errada (69). Deve ser aplicada através de pessoal qualificado, por instituições e profissionais confiáveis.

4.3.1. QUAL A NECESSIDADE DE UMA COMUNICAÇÃO DE RISCO?

A referência à gestão do risco e inerente comunicação é feita em relatórios de análise de duas das maiores catástrofes nucleares recentes da história humana: Chernobil e Fukushima. De enaltecer está o facto de ambas referirem que uma eficiente comunicação de risco não foi feita ou acabou por ser mal realizada, que era necessária e que poderia prevenir vários problemas (71,72). Os erros na comunicação levaram à desconfiança e irritação, que aumentou os níveis de stresse e receio. Ambas as análises referem que estes erros podem ter causado mais danos da saúde que a própria radiação. Referem ainda que “o perigo de como as pessoas percebem o risco, é tão real quanto o perigo físico” (71,72).

O tempo investido numa comunicação adequada é tempo ganho na adesão e no cumprimento das medidas recomendadas (73). Uma situação de crise é um período com características desconhecidas, o que leva as pessoas a sentir incerteza face à situação e às medidas a tomar. Sendo os níveis de confiança nos profissionais de saúde muito elevados em Portugal, a informação por estes veiculada será igualmente vista como de confiança (73).

Como consequência de uma comunicação de risco pró-ativa realizada por profissionais, existe o aumento da perceção de disponibilidade de recursos e, principalmente quando informamos e precavemos os utentes, estamos a capacitá-los para lidar com o risco presente.

Desta forma reduzem-se comportamentos errados, incitando uma cascata positiva na comunidade, contribuindo assim para o controlo e mitigação da crise. A informação real e confiável é das armas mais importantes na resolução de problemas.

É necessária uma eficiente comunicação entre o farmacêutico e o utente de forma a contribuir para o aumento da literacia em saúde, promover a adesão às medidas preventivas e combater as informações erradas de fontes não oficiais. Deve ser uma responsabilidade de quem tem o privilégio de conseguir contactar de perto com as pessoas e de quem tem o poder de as influenciar de forma positiva (73). Positivismo gera positivismo, saúde gera saúde.

4.4. RESULTADOS E CONCLUSÃO

O documento foi bem-recebido pela equipa, que revelou bastante abertura perante o mesmo. Em termos práticos, o aconselhamento depende muito da apetência pessoal e é difícil qualificar em termos quantitativos o impacto do projeto. Em termos qualitativos o apelo a uma comunicação pró-ativa e fundamentada contribui (mesmo que possa ser mínima) para uma consciencialização dos profissionais aquando do momento do aconselhamento.

Em suma, a importância de uma comunicação de risco revela-se bastante elevada. É essencial construir e manter relações de confiança com a população, com uma comunicação honesta onde o objetivo passa por responder a perguntas frequentes e desconstruir informação errada. (69). A construção deste documento foi um passo, que apesar de pequeno, poderá influenciar e ajudar a equipa do LMPQF-SucPorto a ajudar e educar os seus utentes.

5. COVID-19 - QUE INFORMAÇÃO RETER?

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