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PARTE II – PROJETOS DESENVOLVIDOS

5. COVID-19 QUE INFORMAÇÃO RETER?

A entrada da nova década veio acoplada de novos desafios e paradigmas. Uma nova realidade incómoda assolou o nosso Mundo e a forma como o vemos e vivemos. Uma doença desconhecida até então, provocada pelo novo coronavírus SARS-CoV-2, gerou uma disseminação a nível mundial levando a OMS, dia 11 de março, a declarar a doença COVID-19 como uma doença pandémica (74,75).

O facto de ser uma nova doença, com uma rapidez e facilidade de disseminação incomuns, provocou um ambiente de confusão e de pouca informação. Uma adaptação por parte dos serviços, principalmente relacionados com a saúde, era necessária. E a vertente de informação e educação teve de sobressair.

Era preciso encontrar novas soluções e adaptações de forma a permitir a convivência social em segurança. Enquanto os órgãos de gestão de saúde e da sociedade tentavam perceber a melhor forma de gerir esta situação e enquanto a informação se ia permutando, quer em abundância quer em qualidade, era necessário informar os cidadãos, tendo em conta as informações disponíveis sobre o que deviam ter em atenção e como deviam proceder.

Neste âmbito e com o objetivo de transmitir informação, até então disponível, para os utentes do LMPQF-SucPorto, considerou-se necessária a organização da informação existente e a construção de materiais para a transmitir. Junto da equipa surgiu a ideia de construir um

cartaz de atuação sobre a COVID-19 (Anexo III) e o panfleto de desmistificação de algumas teorias e afirmações que circulavam por diversas plataformas (Anexo IV).

5.2. MÉTODOS

De forma a transmitir a informação mais fidedigna e segura possível, tomei como fontes as plataformas online da DGS (Direção Geral da Saúde), SNS, CDC (Centers for Disease Control and Prevention) e OMS, que forneciam informação direta no site, relatórios e diversos documentos orientadores. Ocasionalmente consultei artigos científicos, apesar de estes serem muito recentes e pouco fundamentados.

Aliado a isto, realizei dois cursos online disponibilizados pela OMS. Intitulados “Emerging

respiratory viruses, including COVID-19: methods for detection, prevention, response and control” (76) e “Infection Prevention and Control (IPC) for COVID-19 Virus” (77).

O primeiro material a ser idealizado foi a construção de um cartaz objetivo e de fácil perceção, onde incluiu uma descrição da doença COVID-19, transmissão, sintomas, medidas preventivas da propagação e fontes de informação. O segundo material teve como objetivo a desmistificação de notícias e informações falsas circulantes em diversas plataformas.

5.3. ENQUADRAMENTO TEÓRICO 5.3.1. COVID-19

A COVID-19 é uma doença infeciosa do trato respiratório, provocada pelo agente etiológico SARS-CoV-2 (Severe Acute Respiratory Syndrome – Coronavirus – 2) da família

Coronaviridae (74,75). É um vírus ssRNA(+), com 4 proteínas estruturais, proteína Spike, Membrana, Envelope e Nucleocapside (78,79). O ciclo viral é divido em 5 passos: 1) acoplamento no recetor e entrada na célula (por endocitose ou fusão da membrana); 2) transcrição da replicase do RNA; 3) transcrição e replicação genómica; 4) translação das proteínas estruturais; 5) estabelecimento e libertação do virião (partícula viral infeciosa) (78,79).

Atualmente, existe informação que o SARS-CoV-2 utiliza o recetor ECA2 (Enzima conversora da angiotensina tipo 2) para acoplamento (79). Este recetor é expressado por diversos órgãos e tecidos. De notar que a maior expressão, para além do rim, acontece nas células epiteliais do pulmão e do trato gastrointestinal (79,80). Evidências mostram que a proteina spike viral e o recetor CD147 (glicoproteína transmembranar) da célula hospedeira, podem ter um papel importante na infeciosidade (80,81).

Porque a ECA2 é expressa em quantidade elevada na zona apical das células epiteliais do pulmão no espaço alveolar, o vírus tem um grande poder de destruição nesta zona. (79). A replicação viral e conseguinte libertação de DMAP’s (damage-associated molecular patterns) provocam a piroptose. Este é um tipo de morte celular programada que induz uma resposta inflamatória. A libertação de agentes pro-inflamatórios podem induzir a uma concentração de citocinas extremamente elevada e descontrolada, que provoca danos celulares, vasodilatação, aumento da permeabilidade capilar e hipoxia. Esta última consequência é um dos maiores perigos causados pela infeção, pois pode provocar a falha de múltiplos órgãos (78).

Segundo as fontes oficiais de saúde, a transmissão da doença acontece primariamente pessoa a pessoa (transmissão direta), através de gotículas de pequena dimensão, expelidas pela boca ou nariz quando uma pessoa infetada fala, tosse ou espirra (74,75,82). Já a transmissão indireta também é uma via de transmissão, através do contacto com objetos ou superfícies contaminadas e posterior contacto com a boca, nariz ou olhos (74,75,82). Tendo em conta a transmissão indireta através do contacto com objetos e superfícies contaminadas, existem relatos que o vírus sobrevive em plástico e em aço inoxidável até 72h, cerca de 4h em cobre e até 24h em cartão. Surge a ressalva de que este tipo de transmissão, apesar da presença de RNA viral, não está comprovada a viabilidade e a capacidade infeciosa (78).

Numa perspetiva mais recente, o contacto direto ou indireto das membranas mucosas do nariz, boca ou olhos é uma das vias de transmissão (83). Existem também evidências de uma transmissão fecal-oral (80,83). A possibilidade da transmissão através de aerossóis em ambientes fechados é elevada e levou à adoção de medidas preventivas adicionais, como por exemplo a utilização de máscaras em espaços fechados (83). A transmissão vertical ou pelo leite materno é uma teoria que ainda não está confirmada (83).

5.3.1.2. SINTOMAS

Tendo em conta os casos de infeção observados até março de 2020, os sintomas mais prevalentes associados à doença COVID-19 eram: febre; tosse; espirros; dor de cabeça; dores musculares; dificuldades respiratórias; fadiga (74,75,82).

Após vários meses de observação e estudo consegue-se consolidar algumas informações relativas aos sintomas de forma mais fundamentada. A COVID-19 apresenta uma grande diversidade de sintomas e manifestações. A maior parte dos adultos e das crianças desenvolvem doença leve a moderada (80). Dentro das manifestações mais descritas encontram-se febre, dor muscular, fadiga, tosse, dor de garganta, dispneia que normalmente desaparecem no prazo de uma semana (78,80). Anosmia (perda do olfato) e disgeusia (alteração do paladar) também têm sido bastante reportados (78,80).

As manifestações respiratórias predominam, mas tem havido um aumento da ênfase relativamente aos sintomas gastrointestinais (vómitos, diarreia e náuseas) prevalentes numa fase inicial (80). Por isto têm sido considerados como diagnóstico e prognóstico. A expressão de ECA2 nos enterócitos sugere que o trato digestivo é uma rota potencial da infeção (83). Sintomas menos comuns incluem a produção de expetoração, dor de cabeça, hemoptise e rinorreia (78,80).

Relativamente aos casos de doença severa, existe um padrão de doença progressiva com sintomas persistentes correspondentes aos da doença leve e moderada, e com probabilidade de rápida deterioração (78). O foco na infeção pulmonar devido à ação descontrolada de citocinas, explica o curso clínico mais característico na doença severa ser o desenvolvimento da síndrome de dificuldade respiratória aguda. É uma condição extremamente grave que impede o aporte suficiente de oxigénio dos alvéolos para o sangue (78). Esta condição pode levar à hipoxia e conseguinte falha de outros órgãos. Assim, e como forma de tentar

contrariar a hipoxia, leva à utilização de ventiladores mecânicos de forma a aumentar a quantidade de oxigénio nos pulmões (78).

Os casos graves ou mortais revelam um perfil comum. Condições como asma, doença crónica pulmonar, doenças cardiovasculares, fumadores e hemoglobinopatias aumentam a probabilidade de desenvolver doença severa ou morte(80). A obesidade e a idade também são fatores muito relevantes no que toca ao risco de severidade (80). Este conjunto de condicionantes perfazem o perfil dos grupos de risco.

5.3.1.3. PREVENÇÃO

As organizações de saúde nacionais e mundiais, até março de 2020, recomendavam (74,75,82):

o Lavagem frequente e eficiente das mãos com sabão ou solução alcoólica;

o Evitar aglomerados e espaços fechados com um número considerável de pessoas;

o Evitar tocar no nariz, olhos e boca;

o Manter uma distância mínima de 1m de pessoas com qualquer sintoma respiratório;

o Em caso de tosse ou espirros tapar o nariz e a boca com o cotovelo ou um lenço (neste caso deve eliminá-lo prontamente e proceder à lavagem das mãos).

Após a um período de intensa disseminação, diversas adaptações foram efetivadas. As medidas de etiqueta respiratória e sanitária mantiveram-se / foram reforçadas e outras recomendações foram incluídas de forma a manter uma vida social e económica funcional sem comprometer a saúde pública. Entre elas: o distanciamento social passou a abranger qualquer pessoa e não apenas pessoas com sintomas respiratórios; o uso de máscara em espaços fechados passou a ser obrigatório; adaptações dos diversos serviços em relação à capacidade, disposição e funcionamento; a criação de uma aplicação móvel de rastreio (84,85).

5.3.2. FALSAS INFORMAÇÕES COVID-19

A desmistificação de notícias e informações falsas circulantes em diversas plataformas eram e continuam a ser um dos grandes perigos e impulsionadores da disseminação da doença, da desconfiança relativamente às medidas preventivas e ao rumo tomado pelas organizações. A materialização na forma de panfleto, o documento construído contém algumas afirmações/perguntas circulantes e conseguinte justificação (86).

“Só as pessoas mais idosas é que são infetadas”;

Através da consulta dos dados em Portugal, em março de 2020, demonstrava-se que qualquer pessoa, em qualquer contexto, podia contrair a infeção pelo vírus SARS-CoV-2 (80). No entanto, no que toca ao número de óbitos existia uma larga discrepância (80). Ambas as premissas continuam a verificar-se em outubro de 2020 (80).

“O consumo de vitamina C protege a infeção”;

Em fevereiro de 2020 a OMS afirmava que não havia evidência da ação da vitamina C quanto à proteção da infeção por SARS-CoV-2. No entanto, em setembro de 2020, a premissa foi alterada e afirmam que que o consumo de vitamina C não funciona como terapêutica (86). Porém no que toca à proteção e principalmente prevenção de doença severa pode haver influência e existem estudos nesse sentido. O ácido ascórbico influencia diversas funções do

sistema imunitário (87). Inclusive, existem estudos em animais que concluem que tem ação de prevenção e de minoração de infeções. Estes efeitos são muito prováveis de transladar para humanos, apesar de não existirem estudos a confirmar efetivamente o seu papel preventivo de infeções em humanos, muito menos relativo à COVID-19 (88). Há ainda afirmações que a vitamina C funciona como barreira no epitélio respiratório contra patogénicos (89).

“Posso ser infetado pelo meu animal de estimação”;

Até março de 2020 a OMS afirmava não existirem evidências de fontes de infeção de qualquer animal, incluindo de estimação, cativeiro ou selvagem. Mesmo sem evidências e porque os animais podem ser hospedeiros de vários agentes patogénicos, recomendava as regras gerais de higiene, em caso de contacto com animais e a respetiva comida ou dejetos (86). Porém, após novos dados, vários animais domésticos testaram positivo para a COVID-19, depois de um contacto com humanos infetados e até por contactos da mesma espécie. Apesar disto, a contração da infeção por um humano após contacto com um animal, ainda não foi verificada. Assim, a OMS recomenda o afastamento dos animais perante um caso de infeção e reforça as medidas de higiene perante os animais (90).

“Existem antibióticos eficazes na prevenção e no tratamento da COVID-19”;

Antibióticos são uma classe terapêutica efetiva contra bactérias. A COVID-19 é uma doença provocada por um vírus, por isso não têm ação sobre ele. Existe, porém, o caso de a doença provocar complicações e facilitar infeções bacterianas. Neste caso em específico faz sentido a utilização de antibióticos. Atualmente, em outubro de 2020, não existe medicação terapêutica ou profilática especifica para a COVID-19. Existe apenas a gestão dos sintomas associados e a utilização de terapêutica inespecífica para casos excecionais (86).

“O COVID-19 pode ser transmitido através de alimentos, incluindo os refrigerados e congelados?”;

A OMS afirma que não existe evidência neste sentido (86). Porém podemos perceber que os alimentos podem ser tratados como qualquer objeto e assim serem uma via de transmissão. Deve ser feita uma correta lavagem dos mesmos, principalmente os que não serão cozinhados.

“É seguro receber uma encomenda de países onde a COVID-19 foi reportada?”; A OMS, em fevereiro de 2020, afirmava que probabilidade de uma pessoa contaminada infetar os materiais encomendados era baixa. O fómite seria exposto a diferentes condições, temperaturas e o espaço temporal entre a preparação da encomenda e entrega da mesma fazia com que a probabilidade fosse muito baixa(86). Atualmente (outubro de 2020), esta premissa fica sem efeito pois o vírus já se disseminou por praticamente todo o Mundo. Apesar disso, os serviços foram adaptados de forma a reduzir a transmissão através de objetos. Ainda assim é uma hipótese e, portanto, após a entrega, deve ser feita uma higienização dos produtos.

“Tomar banho de água quente pode prevenir a doença?”;

Independentemente da temperatura da água, a temperatura corporal manter-se-á normal através de mecanismos de homeostasia, pelo que não terá qualquer efeito. Aliás, água a temperaturas demasiado altas poderá provocar danos corporais (86). Exteriormente, a utilização de sabão será eficaz na inativação do vírus. Apenas tendo como referência a temperatura, de

forma a ter ação viricida, as recomendações são (91): 3 minutos acima de 75°C; 5 minutos acima de 65°C; 20 minutos acima de 60°C.

“O clima quente vai parar o surto de COVID-19?”;

Em março de 2020, a OMS afirmava que não existia informação que fizesse prever alguma sazonalidade na transmissão do vírus e no seu comportamento perante diferentes climas (86). Atualmente é uma questão bastante controversa pois ainda existem poucos dados transparentes para se perceber. A própria OMS não revela nenhum padrão, afirmando apenas que se pode propagar. Apesar disso, existem estudos que afirmam que o clima tem um papel inegável na transmissão (92). Porém ainda são muito limitados.

“O consumo de alho ajuda a prevenir a infeção por SARS-CoV-2?”.

O alho (Allium sativum L.) é associado a várias tradições profiláticas e a terapêuticas alternativas medicinais (93). Existem estudos que afirmam que alguns dos diferentes componentes presentes no alho podem ter ação na redução de doença cardiovascular, anti- tumoral e anti-microbiana (93). Porém, no que toca à prevenção da infeção, não existe informação que justifique a afirmação (86).

5.4. RESULTADOS E CONCLUSÃO

É importante reter que a informação disponível aquando da realização destes materiais era escassa e em constante alteração, pelo que teve de ser um material bastante conservador. O panfleto não chegou a ser distribuído pelos utentes, mas revelou-se útil para a equipa do LMPQF- SucPorto poder aconselhar melhor sobre a doença.

Este projeto sobre a doença COVID-19 permitiu construir um material fundamentado, em linha com as orientações nacionais e internacionais. Acabou por se desviar um pouco dos objetivos já que teve um maior papel em instruir e retirar algumas dúvidas da equipa do LMPQF- SucPorto, do que passar a informação diretamente aos utentes.

6. GUIA DE BOLSO - GRIPE VS CONSTIPAÇÃO

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