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PARTE II – PROJETOS DESENVOLVIDOS

6. GUIA DE BOLSO GRIPE VS CONSTIPAÇÃO

6.3.3.5. DIARREIA

A diarreia pode ocorrer pontualmente na gripe, tratando-se, de uma diarreia aguda viral. A diarreia aguda é descrita pela frequência anormal de dejeções diárias, pastosas ou aquosas, durante um período inferior a catorze dias, podendo provocar desidratação e desequilíbrio eletrolítico.(43) As infeções do trato respiratório, nomeadamente as infeções virais, podem ter influência no trato gastrointestinal por influenciar a microbiota, através de interações variadas com a mucosa intestinal e, com isso, diminuindo a absorção ou aumentando a secreção de água e eletrólitos pelo intestino (119).

No que concerne à diarreia aguda, vários são os critérios de gravidade que indiciam a necessidade de referenciar a consulta médica. Entre eles destacam-se: febre superior a 38,5ºC; dor abdominal e/ou retal severa; sinais de desidratação; período superior a 48h sem melhorias e/ou número de dejeções por dia superior a 6; trata-se de indivíduo de risco ( viajantes, indivíduos imunocomprometidos); fezes sanguíneas ou escuras (119,120).

Na sua generalidade, a diarreia aguda é autolimitada e, portanto, as medidas passam pela reposição de fluidos e alterações da dieta. O mais importante consiste em assegurar a reposição de fluidos e eletrólitos através da indicação de associações de sais para reidratação

oral.(45) Caso a medida de suporte anterior seja insuficiente, pode-se optar pela indicação concomitante de um obstipante (ex. loperamida) e medicamentos compostos por prebióticos e probióticos de forma a restabelecer a flora intestinal (119,120).

Para a diarreia existe um vasto conjunto de medidas não farmacológicas que o doente pode optar com vista a resolução a curto prazo como também no sentido de prevenção de episódios posteriores. Estas medidas sugerem: manter-se hidratado; optar por bebidas ricas em eletrólitos (bebidas desportivas); evitar laticínios, alimentos ricos em gordura, fibras ou picantes; ingerir alimentos semi-sólidos e pobres em fibras (ex:.sopas) (119,120).

6.3.3.6. CEFALEIA

Cefaleia ou dor de cabeça é um dos sintomas sistémicos relatados em ambas as doenças. Caracteriza-se pela dor ou desconforto de qualquer intensidade e local. Mais comum na gripe, a dor de cabeça é um dos sintomas relatados numa fase precoce. É sintoma bastante inespecífico já que existem diversos tipos e diversas origens de dor de cabeça (97). Neste caso, a dor é teorizada relativamente à libertação de mediadores pró-inflamatórios, como citocinas e bradicininas, pela resposta imunitária à infeção. O mecanismo passa pela vasodilatação (bradicinina) que aumenta a pressão vascular das artérias intracranianas provocando dor e pela ação das citocinas que têm a capacidade de estimulação de nociceptores (94,121).

Pela sua inespecificidade e abrangência, na dor de cabeça existem vários fatores que podem levar a um encaminhamento médico. Dos quais, os principais são a associação a febre alta (superior a 38,5ºC), dor súbita e severa, vertigens, visão dupla ou turva, fraqueza, pescoço rígido, sensibilidade à luz, confusão, convulsões, perda de consciência e lesões (94,121–123).

As medidas farmacológicas no contexto da gripe passam por analgésicos como o paracetamol ou AINEs como o ácido acetilsalicílico (para além de ação analgésica, também diminui a ação inflamatória capaz de provocar dor). A associação de analgésicos com cafeína também é recorrente devido à sua ação vasoconstritora, que contraria a vasodilatação, e pela contribuição no aumento do poder analgésico (94,123).

Como tratamento não farmacológico existem algumas medidas simples que se podem ter em conta. Evitar luz e barulhos intensos, evitar fatores propensos como o tabaco e o álcool, uma correta e intensa hidratação, descanso, ambientes arejados e utilização de compressas frias são algumas medidas que podem aliviam a dor (124).

6.3.3.7. FEBRE

A febre é caraterizada por um aumento igual ou superior a 1ºC da temperatura basal média e está inteiramente relacionada com o local de medição (125). Assim sendo, atendendo ao local de medição, considera-se febre : Temperatura (T) retal ≥ 38 ºC, T oral ≥ 37,6 ºC, T axilar ≥ 37,6 ºC e T timpânica ≥ 37,8 ºC (125). A febre surge como uma manifestação fisiológica de defesa do organismo perante diversas condições patológicas, nomeadamente no decurso de infeções, de uma resposta inflamatória e até mesmo em resposta a certos medicamentos (126,127).

A evidência científica relata que o mecanismo fisiopatológico da febre está intimamente relacionado com a produção de prostaglandinas de tipo E, citocinas pró-inflamatórias (IL-1, IL-6

e TNF-α) e outros mediadores que, em resposta aos pirogénios exógenos, elevam a temperatura de regulação hipotalâmica (94,128,129).

Calafrios e sensação de frio são, por vezes, o primeiro sinal indicativo de febre. A ação das citocinas no centro termorregulador localizado no hipotálamo anterior, leva à ocorrência de calafrios e à constrição dos vasos sanguíneos da pele, efeitos esses que a nível do córtex cerebral, percecionam a sensação de frio (128,129). A febre é um sintoma que indica que algo não está bem com o nosso organismo. É, portanto, necessária uma avaliação criteriosa da causa da mesma. O tratamento sintomático da febre de forma isolada, sem ter em causa outras particularidades, pode estar a mascarar sinais de alerta que evidenciem complicações mais graves para o doente (130). Posto isto, o doente tem indicação para a avaliação médica sempre que se cumpra, de forma isolada, uma das seguintes condições: pertence a grupo de risco (crianças até 2 anos de idade; gravidez; doentes imunodeprimidos); temperatura superior a 39ºC; sem alívio dos sintomas após 3 dias ou sem resposta à terapêutica (2 ou 3 horas); febre que se agrava ou é recorrente (130,131). Do mesmo modo, febre associada a outras situações ou problemas de saúde sugestivas de doença, requer avaliação clínica, entre as quais figuram vómitos e diarreia; dificuldade respiratória, exantema, petéquia, disúria; confusão mental, rigidez da nuca, desidratação e convulsão (130,131).

Depois de ter sido efetuada uma avaliação criteriosa da causa da febre e a mesma ser, ao que tudo indica, decorrente de uma infeção viral, o tratamento farmacológico passa pela administração de medicamentos antipiréticos, isto é, destinados a reduzir a febre. No mercado, os antipiréticos disponíveis e passíveis de indicação farmacêutica assentam em: AINEs (ácido acetilsalicílico, ibuprofeno) e paracetamol (125,131).

Por forma a proporcionar um aconselhamento farmacêutico completo, as medidas não farmacológicas deverão ser sempre aconselhadas, mesmo em casos de doentes que apresentem critérios para referenciação médica. Estas medidas incluem: banho com água tépida (25/30ºC); utilização de roupa ligeira; ingestão regular de água e outros líquidos não alcoólicos, tais como chá ou sumos de fruta, para prevenir a desidratação; relembrar medidas de higiene e etiqueta respiratória (125,130,131).

6.3.3.8. MIALGIA

As mialgias são bastante comuns nas infeções do trato respiratório. É um sintoma que advém da resposta imunitária devido aos efeitos das citocinas no músculo esquelético. Estes mediadores pró-inflamatórios estimulam a produção de Prostaglandina E2 (PGE2) e estes provocam a degradação proteica (94,114). Em adição, a PGE2 é um mediador da dor e é capaz de estimular os nociceptores (94,114). Como resposta a uma infeção, o corpo precisa de mobilizar toda a energia possível, assim o processo de degradação proteica pode ser considerado benéfico. Os aminoácidos resultantes da proteólise, podem ser convertidos em energia ou em proteínas com ação imunológica (imunoglobulinas) (94,114).

Diversas patologias estão associadas à mialgia. De forma a prevenir efeitos severos, caso exista algum relato infracitado em adição à mialgia, deverá seguir o encaminhamento

médico. Sintomas como: febre alta (superior a 38,5ºC); dificuldade respiratória; erupção cutânea; vermelhidão; fraqueza extrema; inchaço; dor severa (114,132).

No contexto da gripe, o nível farmacológico passa pelo de alívio da dor e da inflamação. Assim é privilegiada a toma de analgésicos como o paracetamol e o de AINEs, como o ácido acetilsalicílico e o ibuprofeno (94,133).

Como medidas não farmacológicas, o descanso é essencial (inclusive evitar exercício físico), já que o tratamento é dependente do tempo e da gestão sintomatológica. Uma correta hidratação e alimentação é uma estratégia que permite aumentar a circulação sanguínea no músculo esquelético, o que aumenta a oxigenação e a remoção dos produtos inflamatórios, como a PGE2. A procura de ambientes quentes, banho quente e panos quentes permitem o relaxamento muscular e consequente alívio da dor (114,133).

6.3.3.9. FADIGA

Ambas as doenças estão associadas ao cansaço e à falta de energia. A dificuldade em realizar movimentos voluntários e diminuição da capacidade física é o que descreve melhor a fadiga (114,134). Não é bem conhecido o mecanismo que leva à fadiga, mas existe a hipótese de ser uma resposta adaptativa com o objetivo de reduzir o consumo energético e direcioná-lo para o combate da infeção (114,134). A focalização da resposta imunitária na infeção leva a que a reparação muscular e de outros tecidos não seja tão rápida nem tão eficaz, o que poderá levar à fadiga (134).

A febre alta (superior a 38,5ºC), uma fadiga persistente e duradoura, arritmias e dificuldades respiratórias são critérios de referenciação médica (116,135).

A diminuição da fadiga passa pela autolimitação da gripe e da constipação. O sintoma é resolvido de forma autolimitada passado alguns dias. É aconselhável, como medidas não farmacológicas, assegurar um descanso suficiente e ingerir uma elevada quantidade de água. Mais especificamente para a fadiga muscular, relaxar os músculos através de banhos quentes, ingerir bebidas ricas em eletrólitos e suplementos ricos em minerais (136). Num foro farmacológico e não farmacológico são utilizados produtos com capacidade excitatória do SNC (como a cafeína), suplementos multivitamínicos (pelo seu papel de catalisador e de substrato de processos metabólicos energéticos) e suplementos ricos em omega-3 (DHA e EPA) (136).

6.4. RESULTADOS E CONCLUSÃO

Após a conclusão do guia de bolso, foram impressos alguns exemplares para distribuir pela equipa do LMPQF-SucPorto, que consideraram o documento bastante apelativo, de fácil consulta e compreensão. Em termos quantitativos, a aplicação do mesmo não conseguiu ser avaliada porque a distribuição foi feita no final do período de estágio. Em termos qualitativos podemos perceber que é um documento que servirá para elucidar alguns pontos destas doenças. Essa informação servirá com certeza de apoio para atingir certas dúvidas dos utentes.

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