• Nenhum resultado encontrado

3.3 A S COMUNIDADES NO MUNDO VIRTUAL

3.3.1 Comunicação mediada por computador

O ambiente comunicacional criado pelo computador, enquanto meio de comunicação, é algo diferente do gerado pelos outros modos de comunicação (Silva, 2002; Wood e Smith, 2001). A comunicação mediada por computador é um processo através do qual os humanos criam, mantêm e transformam intencionalmente informação pela interação como utilizadores de sistemas de comunicação computorizados (Lindlof e Taylor, 2002). Esta definição e outras como a de Lawely (1994) e sustentada por Mann e Stewart (2000) têm o seu enfoque na mediação tecnológica que permite ou facilita o processo de comunicação. Contudo, outros autores salientam mais os aspetos sociais da comunicação. É o caso de Rheingold (1993) e de Romiszowski e Mason (2004). Estes últimos focam a sua investigação nos aspetos sociais e organizacionais da CMC e associam a CMC à maior facilidade com que as redes de computadores permitem a existência de sofisticadas interações, tanto síncronas como assíncronas. Citando Jones (1995), Romiszowski e Mason (2004) afirmam que a CMC

não é só uma ferramenta. É simultaneamente tecnologia, médium e motor de relações sociais. Não só estrutura as relações sociais mas também é o espaço no qual as relações ocorrem e os instrumentos que os indivíduos utilizam para aceder a esse espaço. É um espaço produzido socialmente. (p. 398)

64 Segundo Vilela (1997) existem dois tipos principais de CMC:

- assíncrona - os espaços temporais entre emissor e recetor não são o mesmo.

- síncrona – os indivíduos encontram-se online. É a real time communication. Ocorre em tempo real e permite que os indivíduos envolvidos interajam em simultâneo.

Neste contexto situam-se ainda Wood e Smith (2001) ao definirem a CMC conforme “o estudo de como os comportamentos humanos se mantêm ou alteram pela partilha de informação através das máquinas” (p. 4).

A CMC surge de complexos processos de interação entre os participantes. Sendo o meio de comunicação e partilha mais frequente, o e-mail caracteriza-se por troca de mensagens, geralmente textuais, que podem ser lidas, guardadas ou imprimidas. Pode estar também associado a listas de distribuição (mailing lists), quando as mensagens são difundidas por um operador central para uma lista de usuários previamente inscritos. Sendo uma forma de interação relativamente assíncrona, um meio híbrido que combina a informalidade e espontaneidade da oralidade com a abstração e linearidade da escrita (Wood e Smith, 2001), o e-mail permite aos seus utilizadores o tempo necessário para assimilar, refletir e decidir sobre o conteúdo da mensagem recebida e enviada. Para Romiszowski e Mason (2004) este desfasamento no tempo, associado também ao texto escrito, possibilita um maior grau de reflexão, do que no caso da comunicação oral, com implicação nos níveis de aprendizagem.

O fórum permite que as pessoas interajam umas com as outras através de mensagens (post) tendo como base um tópico de discussão (thread), que poderá também estar subdividido. Útil para se poder visualizar e ter em conta as diferentes abordagens dos intervenientes, requer particular cuidado para que a cadeia de mensagens de cada tópico ou subtópico, não se alongue tornando a leitura e análise dos assuntos confusa (figura 3.2).

Figura 3.2: Estrutura típica de um fórum (em http://www.odisseia1.univ- ab.pt/cursos/odisseiaini/index.aspx).

Apesar de assíncronos os blogues (no original Weblogs) são páginas pessoais bastante interativas, podendo os visitantes comentar os conteúdos, bem como os comentários colocados por outros visitantes, formando-se, por vezes, verdadeiras "conversas" entre dois ou mais intervenientes. Além disto os blogrolls – links para outros blogues com alguma afinidade com o proprietário do blogue inicial – demonstram também o caráter social deste software.

As páginas web, apesar de apresentarem, em si, menos recursos de comunicação, incorporam a possibilidade de comunicar via e-mail com o administrador da mesma ou com outros intervenientes que dela façam parte.

Os wiki – páginas web que podem ser editadas pelos seus visitantes – apresentam também um caráter comunicacional e social. Os blogues e wikis, dado o seu grau de interatividade e proximidade, fazem parte de uma web mais personalizada e socializada que se denomina Web 2.0 (Cardoso, 2007).

Como exemplo de comunicação síncrona, encontra-se o chat. Baseia-se, na sua forma tradicional, especialmente em texto. Neste caso, para que a comunicação decorra com fluidez, é necessária uma grande rapidez no teclado, o que levou a desenvolver uma linguagem simbólica adequada (Vilela, 1997), por exemplo, as abreviaturas e/ou a expressão de sentimentos através dos emoticons. Criou-se assim, uma paralinguística assumida também pela comunicação via e-mail e até pela comunicação escrita não virtual. Estes sistemas multiutilizadores têm, hodiernamente, incorporados a voz (sintetizada ou não) e a imagem (por exemplo através de uma webcam).

Seja qual for a forma utilizada, das descritas anteriormente ou outra, a capacidade de enviar e receber mensagens de e para qualquer parte do mundo apenas em segundos ou minutos, de poder trocar, armazenar, editar, divulgar e copiar qualquer documento escrito, consultar, analisar e criar documentos em conjunto, partilhar fotografias e vídeos, dialogar por escrito ou com recurso a voz, ou realizar conferências online, torna a CMC uma componente chave na tecnologia emergente das redes de computadores. Segundo Romiszowski e Mason (2004) a rápida inovação tecnológica das ferramentas e programas associados à CMC, bem como a velocidade de transmissão das mensagens, tem vindo a influenciar, desde há muitos anos, o uso da CMC. Simultaneamente, este aspeto fomenta também, nos utilizadores, crescentes oportunidades para adquirir a informação necessária e oportuna, para desfrutar de programas de entretenimento, para manter relações e para participar em assuntos comunitários (Lindlof e Taylor, 2002).

Assim, a CMC vai realizando a sua função de “motor de relações sociais” (Jones, como citado em Romiszowski e Mason, 2004).

À semelhança dos contactos reais, os contactos virtuais e os diálogos que estabelecemos por e-mail, em fóruns e listas de discussão, em chats, blogues e wiki‘s, por vezes em 3D, podem ser fortuitos ou de caráter mais regular, ou ainda mais intensos e partilhando objetivos comuns … até, no limite, constituírem uma comunidade virtual. (Cardoso, 2007, p. 65)

Documentos relacionados