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O MPL possui uma comissão de comunicação que tem como função não sobrecarregar em um único membro o gerenciamento dos canais de informação do grupo e que não conta com apoio de pessoas fora do movimento. Quem está na comissão é quem tem mais afinidade com a área ou que tenha conhecimento técnico, por exemplo, com programas para computador que possam ser utilizados nas redes sociais do grupo (LUCCA apud SANTO, 2014).

No entanto, a comissão não tem poder de decidir sobre o conteúdo que irá ser publicado, mas funciona como elo entre o movimento e o público externo (LUCCA apud SANTO, 2014). O movimento possui um site42 que se encarrega de divulgar a sua história, mobilizações em anos anteriores de aumento de passagem, espaço para a promoção de venda de materiais que auxiliem os seus custos, além de notícias e endereços eletrônicos de MPL de outras cidades.

Também conta com um perfil no Facebook43, onde publicam notícias sobre mobilizações. Há uma opção deliberada de não publicizar qualquer evento convocado pelo movimento em perfil pessoal dos seus membros, a fim de evitar alguma visibilidade a esses militantes que possam colocar em risco a sua segurança no tocante à investigação policial, por exemplo. (LUCCA apud SANTO, 2014).

Essa preocupação com a segurança dos membros do movimento leva o MPL a ter dois tipos de comunicação, uma externa e outra interna, sendo essa última praticada com preocupação a fim de preservar a identidade dos seus membros, por exemplo, ao optarem pela utilização de uma lista de e-mails exclusiva entre os militantes e que qualquer pessoa de fora do grupo que eventualmente esteja nessa lista é considerada uma quebra de segurança (LUCCA apud SANTO, 2014).

Há o cuidado em assuntos tratados por meio de ligações telefônicas entre os membros, a fim de não correrem o risco de serem grampeados (LUCCA apud SANTO, 2014). Além disso, eles optam pela uso da plataforma RISEUP que oferece contas de e-mail

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Site MPL São Paulo. Disponível em: <http://saopaulo.mpl.org.br> 43

e listas de discussão sobretudo para movimentos sociais, no sentido de garantir segurança quanto à rastreio.

Já os membros que dão entrevistas em veículos de comunicação são destacados pelo movimento através de um consenso em que se observa a alternância de nomes que irão concedê-las, da mesma forma, também aqueles que irão tratar pautas relativas do movimento com os entes públicos: município, Estado e a União, também visando à segurança dos ativistas (LUCCA apud SANTO, 2014).

Há reuniões do movimento em que se chega à conclusão da necessidade de explicar alguma pauta do movimento por meio de um canal de comunicação, o que é operacionalizado pela comissão (LUCCA apud SANTO, 2014), o que demonstra que não apenas canais do MPL servem para convocação de eventos. Além disso, há o reconhecimento que o volume de mensagens recebidas é muito além da capacidade de resposta por parte dos militantes.

Para o MPL, a internet tem um papel importante como elemento comunicativo, contudo, o movimento busca se pautar pela realidade, no dia-a-dia das pessoas e não, apenas, pela repercussão que alguma notícia por eles publicada possa ter.

Já em relação à mídia tradicional, o MPL entende que ele próprio deve fazer a própria comunicação, pois não acha que suas pautas e mobilizações possam ter espaço em veículos da grande mídia e essa comunicação própria pode ser via internet, eventos, materiais impressos que servem para favorecer o seu lado dentro de uma conjuntura de disputa política (LUCCA apud SANTO, 2014).

No tocante à cobertura, por exemplo, de pautas ligadas a questões sociais, Soares (2009) ressalta que, na mídia tradicional, a questão de classe social é um fator importante a ser observado, pois, em geral, os profissionais responsáveis pela produção e veiculação das notícias, juntamente com uma parcela do público, pertencem às classes sociais mais elevadas, daí o fato de uma relativa ausência de pautas ligadas a direitos sociais, sendo que estes só ganhariam espaço na cobertura jornalística quando em situações específicas e de grande apelo popular. Ao fim destas, o noticiário cobriria outros temas.

Neste capítulo foi possível perceber que na segunda metade do século XX, há um processo mais efetivo de criação de grupos que podem ser entendidos como sendo movimentos sociais pioneiros, sobretudo no âmbito urbano.

Em seguida, foi possível identificar que a pauta da tarifa zero na cidade de São Paulo tem um histórico antes mesmo da criação do MPL com a iniciativa da prefeitura de implementá-la via projeto de lei, o que apesar de ter logrado êxito, hoje é uma realidade em cidades menores do Brasil, o que leva a conclusão de que para o MPL apresenta-se o desafio de pensar como essas experiências existentes em outros municípios podem ou não inspirar a implantação da tarifa zero na capital paulista que tem um porte populacional e financeiro maior que esses outros locais.

Outro ponto relevante foi o fato de as revoltas estudantis pelo transporte registradas no início dos anos 2000, apresentam um forte caráter de contestação da atuação de grupos que reivindicavam a liderança do movimento, o que leva a pensar até que ponto falta a essas entidades um reconhecimento de quão afastados estão de muitos grupos que se propõe a defender e muito mais alinhadas a projetos políticos partidários.

Para o capítulo seguinte objetiva-se analisar a Folha de S. Paulo, sua história, seus posicionamentos em temas relevantes da vida social do país, suas opiniões quanto as manifestações de junho de 2013, a figura do Ombudsman do diário paulistano e o documentário sobre as manifestação elaborado pelo jornal.

3 FOLHA DE S. PAULO: CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICO-POLÍTICA DO SEU