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3 FOLHA DE S PAULO: CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICO-POLÍTICA

4.1 Matérias sobre o MPL publicadas nos cadernos Cotidiano e Poder

4.4.3 Unidade de Significação: Caracterização

A terceira unidade de significação, Caracterização, reúne seis matérias que se propõem a descrever o movimento, desde a sua história, suas pautas e suas táticas de atuação. Dentre os principais pontos em comum, nas matérias, a permanente tentativa de associação do MPL a partidos políticos de esquerda é a mais notória.

A primeira matéria, Grupo reúne ala radical de partidos e estudantes, de 07 de junho de 2013, um dia após o primeiro protesto convocado pelo MPL, é uma nota sobre a composição do movimento que teria entre seus membros indivíduos de setores que o jornal considera como radicais, de partidos como o Partido Socialismo e Liberdade (PSOL) e o

Partido Socialista dos Trabalhadores Unificados (PSTU), sem, no entanto, explicitar que setores seriam esses e o que defendem.

Além disso, relata que o movimento defende a tarifa zero e que já havia se manifestado anteriormente contra o reajuste anterior, no ano de 2011. O referido ato havia sido convocado dias antes pelo movimento, através de cartazes e panfletos, que traziam frases defendendo a revogação do aumento.

A segunda matéria, Grupo Passe Livre foi apoiado por petistas em 2011, de 08 de junho de 2013, divide-se em dois eixos. O primeiro é uma tentativa de associação do MPL com parlamentares municipais do PT, quando estes eram oposição à administração Gilberto Kassab.

O jornal explora que os vereadores paulistanos petistas à época, Antônio Donato e José Américo, posicionavam-se a favor da tarifa zero e contra o aumento dos preços das passagens em 2011. Posição, que segundo a Folha, alterou-se desde que ambos passaram a ser governo com a administração de Fernando Haddad.

A Folha, ainda, caracteriza o MPL como o responsável pela manifestação de

maior violência registrada na administração Fernando Haddad, devido a uma medida da prefeitura. Ou seja, o jornal optou por imputar diretamente ao movimento as consequências do protesto e não em abordar que havia muito mais manifestantes presentes do que somente militantes do MPL.

O segundo eixo é quando a Folha abre espaço para situar o movimento como sendo formado por militantes ligados ao movimento estudantil, membros punks e filiados a partidos de esquerda.

Além disso, cita como fonte a página do Facebook do MPL, para ressaltar a horizontalidade do movimento. Por outro lado, dá a entender que existe uma suposta contradição, pois o movimento reivindica o caráter apartidário, quando, segundo a Folha, três partidos políticos, dos quais nenhum é citado na matéria, estariam ligados ao MPL. Dessa forma, repete o discurso da matéria anterior de associação do movimento a partidos.

O terceiro texto, Petista justifica apoio ao ‘Passe Livre’ em 2011, de 10 de junho de 2013, é, na verdade, uma nota presente na matéria Haddad defende ação da PM para tirar protestos de vias.

Na nota, o secretário municipal de governo e vereador licenciado, Antônio Donato, expõe a posição da bancada do PT na Câmara municipal paulista em relação ao aumento de tarifa na gestão Kassab em 2011 e na gestão Haddad em 2013, quando, no primeiro caso, o reajuste teria sido acima da inflação e, dois anos depois, teria ocorrido o inverso, o reajuste ficara abaixo da inflação.

A quarta matéria, No MPL ‘não pode ter cara de playboy’, diz estudante, de 16 de junho de 2013, descreve o MPL pela quantidade de membros, princípios defendidos como horizontalidade, que a Folha ressalta como sendo um item problemático para a polícia, quando os atos não se encontravam mais sob controle, segundo a militante Érica de Oliveira, ouvida na matéria “...Também não pode ter muita cara de playboy, senão a gente desconfia ser policial infiltrado” (OLIVEIRA apud FOLHA DE S. PAULO, 16 jun. 2013, p. C3)

A matéria aponta, ainda, características da forma de organização do MPL e traz, como fonte, as falas de dois militantes do movimento que dizem como se deu a aproximação e filiação ao MPL, além de descrever brevemente o dia-a-dia de ambos. Além do texto, há, ainda, um quadro com o nome de integrantes do MPL, meios de locomoção, suas visões do movimento e a defesa e todos quanto à tarifa zero.

A quinta matéria, Passe Livre prega ‘expropriação’ do transporte coletivo, de 21 junho de 2013, é, na verdade, um apanhado sobre o movimento, como já ocorreu em matérias anteriores.

O texto discorre sobre os antecedentes do movimento, no caso, a Revolta da Catraca, o surgimento do MPL no FSM, em 2005; participação em protestos contra o aumento da tarifa na administração passada; cita a carta de princípios como fonte para apresentar alguns princípios do movimento; e traz, ainda, a fala de pessoas ligadas ao movimento que explicitam a atuação do grupo.

De hierarquia “horizontal”, o MPL evita lideranças individuais. Os documentos aprovados são assinados apenas pelo movimento. Outra orientação é ser “cauteloso” com a “mídia corporativa”, pois é ligada “às oligarquias do transporte e do poder público”. (FOLHA DE S. PAULO, 21 jun. 2013, p. C8).

Também há, no texto, a discussão sobre MPL e partidos políticos, onde o movimento afirma não proibir a presença de filiados nos quadros do grupo, algo presente desde as primeiras matérias aqui analisadas. Já no fim, afirma que o movimento ainda tem ligações com outros grupos que atuam no âmbito da moradia e comunicação popular.

A sexta matéria, DNA trotskista, de 27 de junho de 2013, reconta os primórdios do MPL antes mesmo da sua fundação em São Paulo. A matéria inicialmente trata da luta pelo passe livre estudantil no começo dos anos 2000. O texto cita, além disso, a Revolta do Buzu em Salvador e que, hoje, o MPL se encontra em outras cidades além de São Paulo.

Na matéria, há informações de que o surgimento da MPL se deu com a participação de militantes do PT adeptos a corrente política do trotskismo, que estariam em desacordo com os rumos do partido, além de movimentos antiglobalização. O texto reconhece que as manifestações de Florianópolis tiveram uma atuação repressiva da polícia e que uma das táticas do MPL nas cidades em que ocorreram manifestações é o bloqueio de ruas e “ataques” a terminais de ônibus.