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3. O MTST E A OCUPAÇÃO URBANA QUE COMUNICA

3.5 COMUNICAÇÃO

O desafio de organizar a comunicação de um movimento social é muito mais difícil quando não se apresenta uma estrutura financeira voltada para esta atividade, que é baseada nos objetivos do movimento e sem fins lucrativos. Contudo, mesmo sem profissionalização, o MTST apresenta um grande alcance com a utilização de seus instrumentos de comunicação para a mobilização tanto de sua base social, os trabalhadores sem teto, quanto de outros setores que defendem as bandeiras do movimento.

O MTST tem como deliberação interna que toda a comunicação tem que ser expressão coletiva das posições do movimento, não se limitando à pauta da moradia, mas estendendo-se às pautas que tenham a ver com os direitos da classe trabalhadora. Por falta de financiamento exclusivo para este setor, não existe um plano de comunicação formalmente construído, nem sequer um profissional da comunicação voltado exclusivamente para essa tarefa. Por essas questões materiais, o MTST tem uma comunicação popular constante apenas através das redes sociais executadas pela coordenação nacional.

O movimento possui uma página do Facebook ―MTST- Movimento dos Trabalhadores Sem Teto‖ com 95.636 curtidas em março de 2017. Em Agosto de 2016, apresentava 76 mil curtidas. A página é utilizada para divulgar as ações do MTST, criar ―eventos‖ para convocar as manifestações públicas e publicitar posições acerca dos ataques aos direitos da classe trabalhadora.

Nós ainda não conseguimos pensar a comunicação e executar as ações por falta de pernas e condições financeiras mesmo. Geralmente sou eu que alimento a página nacional e o site, isso, quando me sobra tempo entre as atividades ou quando algum parceiro como a Mídia Ninja ou o Leon, um militante do audiovisual, produz algo mais profissional. Mas sempre que sai algo do MTST na mídia da casa grande, nós também compartilhamos fazendo breves comentários sobre a notícia sem nenhuma espécie de constrangimento. (informação verbal)19

Cada ocupação cria sua página própria alimentada pelas informações, que os acampados passam aos militantes do MTST, procurando alimentar e divulgar as atividades de assembleia interna ou quando realiza outras atividades. Cada Estado onde existe o movimento tem uma página estadual – menos de São Paulo, já que a página já existia com o mesmo nome quando o movimento se nacionalizou.

A relação do MTST com as indústrias culturais do jornalismo se dá através dos jornalistas. O movimento estabelece uma relação direta com este. Procura saber qual a pauta

que o jornalista busca cobrir mas dá total liberdade para que a reportagem seja feita. A coordenação do movimento avalia posteriormente as reportagens para saber quais os jornalistas que cumpriram o acordo e de que forma foi sua abordagem

Nós somos sinceros, papo reto! Nossa relação é com os jornalistas, tentamos furar o bloqueio da mídia hegemônica estabelecendo uma relação transparente com o trabalhador, diferenciando-o da empresa jornalística e entre os trabalhadores que seguem a linha do jornal e aqueles com mais sensibilidade social. Damos total liberdade para ele desde que respeite os acordos com o movimento, como por exemplo, não expor nenhum ocupante que não queira, porque sabemos que muitos veículos desrespeitam os direitos dos cidadãos, mas também existem bons jornalistas em diversas redações com as quais já temos uma relação histórica. Inclusive de vez em quando, nos bairros que estamos, como os jornais não garantem a proteção de seus trabalhadores, alguns ligam para algum de nós acompanhar eles nos bairros que estamos inseridos ou sugerir alguma fonte para outras pautas que não sejam diretamente o MTST (informação verbal)20

Os impressos do movimento não seguem uma periodicidade por causa da questão financeira, sendo seus textos escritos pelos militantes ou por colaboradores. O movimento apresenta um jornal que atualmente chama-se ―O formigueiro‖ distribuído para os acampados e moradores da periferia. Os textos são em uma linguagem simples e de fácil compreensão, mas não deixam de tocar nos pontos mais profundos da análise sobre como o movimento vê a realidade, as perspectivas para o ano, com apresenta críticas às políticas governamentais de moradia. Divulga as redes de resistência e as conquistas importantes, além de fazer um balanço sobre a atuação e organização do movimento.

Outra ferramenta de comunicação externa é a revista Territórios Transversais, endereçada principalmente ao público universitário. Tem mais de trinta páginas, todas coloridas, com uma tiragem de mil até dois mil exemplares e é produzida em conjunto com um grupo de intelectuais. A revista apresenta textos densos de análise de conjuntura internacional e nacional, abordando principalmente a questão da cidade e das principais agendas de debate da esquerda brasileira.

O movimento publicou ainda o livro ―Por que ocupamos: uma introdução à luta dos sem-teto‖ (2015), do seu coordenador nacional e principal figura pública, o filósofo e psicanalista Guilherme Boulos, que também foi colunista semanal convidado pelo portal UOL e atualmente escreve para a revista Carta Capital. O livro divide-se em cinco capítulos, que abordam o problema da moradia no Brasil, que tipo de cidade segregada é formada pelos capitalistas, como as ocupações urbanas são um modo de resistência, quem são os sem-teto e

a importância da organização coletiva e do poder popular na luta por uma vida sem desigualdades.

Na comunicação interna, além das reuniões ordinárias dos grupos, setores e instâncias de coordenação para informes e decisões, listas de e-mail para os militantes são criadas para compartilhar textos e informações sobre demandas específicas de cada grupo e circulares da coordenação com análise de conjuntura e informes importantes. No campo das redes sociais, como uma forma de comunicação mais instantânea para informes rápidos, os dirigentes do movimento utilizam o aplicativo Telegram, por acharem mais seguro diante da espionagem estatal.

Na relação entre os acampados, o movimento utiliza o aplicativo Whatsapp, já que é mais difundido e usualmente utilizado pelos trabalhadores periféricos. Todos os setores e grupos do movimento utilizam essa ferramenta comunicacional para passar informes. Nas ocupações cada grupo de acampados tem um grupo de Whatsapp onde há convocações que podem acontecer por este meio para reuniões, assembleias ou manifestações extraordinárias e urgentes.