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Em virtude dos rigorosos critérios de avaliação por pares, adotados pelas revistas e editores científicos, a comunicação formal, representada pelos livros,

capítulos de livros e artigos de periódicos, é considerada a mais importante forma de comunicação entre a comunidade científica.

De acordo com Rosa e Gomes (2010, p.17):

[...] o periódico é um dos principais atores da rede, que no desenvolvimento do sistema de comunicação científica ocupou o centro de cálculo uma vez que a publicação de trabalhos científicos nesse veículo concede visibilidade e contribui para o prestígio dos autores [...].

Nessa perspectiva, destacamos:

Os periódicos surgiram na segunda metade do século XVII devido a várias razões. Algumas eram específicas (como a crença de que para fazer novos descobrimentos era preciso que houvesse um debate coletivo). O motivo principal, contudo, encontra-se nessa necessidade de comunicação, do modo mais eficiente possível, com uma clientela crescente interessada em novas realizações. (MEADOWS, 1999, p.7).

Diante da importância dos periódicos na divulgação da ciência e para a legitimação da carreira docente, bibliotecas universitárias e centros de pesquisa sempre investiram muitos esforços e recursos financeiros na manutenção de seus acervos. A qualidade do acervo de periódicos é, até hoje, um dos principais requisitos de qualidade para as universidades como centros de ensino e pesquisa.

Com a crise dos periódicos, iniciada na década de 80, em virtude do aumento no preço das assinaturas e do aumento da oferta de títulos, boa parte das bibliotecas não contava com orçamento suficiente para suprir a demanda cada vez maior por novas assinaturas.

Segundo Mueller e Passos (2000, p.19), “A reação das bibliotecas foi primeiramente a de tentar driblar a situação cortando outros gastos, mas finalmente o corte de alguns títulos foi inevitável. No Brasil, [...] as consequências foram bastante devastadoras”. Tendo como principal função atuar como guardiões de publicações e permitir o acesso de seus usuários ao conhecimento, as bibliotecas e os bibliotecários são os principais atores no processo de seleção e aquisição de material bibliográfico e, consequentemente, os primeiros a absorver os impactos da crise.

Com o recurso das TIC’s, a fim de contornar os efeitos das dificuldades que surgiram com a crise dos periódicos, outras alternativas foram instituídas, no início da década de 90, promovendo como resultado a criação dos portais de periódicos eletrônicos. Além da mudança do formato impresso para o digital, foram percebidas, também, alterações no fluxo da comunicação científica entre o modelo tradicional e o eletrônico. Esse novo paradigma influenciou, também, na distinção entre o que pode ser considerado canal formal e informal de informação.

Estudiosos da área como Meadows (1999), Mueller (1994), Oliveira e Noronha (2005) assumem a mesma sistematização e propõem a divisão dos canais de comunicação científica entre dois grandes grupos: o formal e o informal. Essa classificação é bastante flexível e vem sofrendo grandes transformações com a implementação dos meios eletrônicos, fato que se justifica pelos canais possuírem características formais e informais.

Com o intuito de estabelecer as principais características dos canais formais, informais e eletrônicos de comunicação científica, utilizaremos a sistematização proposta por Targino (2000, p. 19-22), a partir da adaptação da tese de Jack Meadows, expressa no quadro seguinte:

QUADRO 2 - DIFERENÇAS ENTRE OS CANAIS FORMAIS, INFORMAIS E ELETRÔNICOS

Canais formais Canais informais Canais eletrônicos

Público potencialmente grande

Público restrito Público potencialmente grande Informação armazenável

e recuperável

Informação não armazenada e não recuperável

Armazenamento e recuperação complexos

Informação relativamente antiga

Informação recente Informação recente Direção do fluxo

selecionada pelo usuário

Direção do fluxo selecionada pelo produtor

Direção do fluxo selecionada pelo usuário

Redundância moderada Redundância, às vezes significativa.

Redundância, às vezes significativa.

Avaliação prévia Sem avaliação prévia Sem avaliação prévia, em geral. Feedback irrisório para o

autor

Feedback significativo para o autor

Feedback significativo para o autor

Fonte: TARGINO, Maria das Graças (2000).

De acordo com Targino (2000), os meios de comunicação formal e informal têm finalidades específicas de acordo com a dinâmica da pesquisa. São importantes na comunicação da produção científica em estágios diferentes, obedecendo à cronologias distintas. A comunicação informal é utilizada antes da conclusão do projeto de pesquisa, e a formal, por sua vez, demanda maior tempo, no qual é

percorrido um longo caminho até sua divulgação. A comunicação eletrônica é o resultado das transformações proporcionadas pelas TIC’s, um recurso que permite a transmissão de informações científicas através de meios eletrônicos, funcionando, também, como ferramenta de comunicação entre os cientistas.

Para Barreto (1998, p. 124-5), o fluxo de informação tradicional, utilizado no documento escrito, possui características marcantes e antiquadas expressas com alguns aspectos, a saber:

1. Unidirecionamento: o receptor da informação tem acesso a um estoque de informação a cada interação, ou a cada tempo de interação o receptor tem acesso a um acervo físico por vez, seja na biblioteca, no arquivo ou no museu;

2. A estrutura de informação possui a mesma característica em sua totalidade: ou é uma estrutura textual com figuras, mas de estrutura linear, ou um objeto, som ou imagem;

3. Existe sempre a mediação de um profissional de interface para o receptor interagir com o fluxo de informação, ou em sua questão inicial, ou na avaliação do produto final;

4. Encadeamento interno dos eventos é povoado por rituais de ocultamento da informação. [...];

5. O julgamento da relevância da informação recebida é feita pelo receptor sempre em uma condição ex-post após a sua interação com o fluxo de informação.

Em relação ao fluxo da comunicação eletrônica, Barreto (1998, p.125-126), destaca que as principais características que a diferem do modelo tradicional são:

1. A interação do receptor com a informação: o receptor da informação deixa a sua posição de distanciamento alienante em relação ao fluxo de informação e passa a participar de sua fluidez como se estivesse posicionado em seu interior [..];

2. Tempo de interação: o receptor conectado on-line está desenhando a sua própria interação com o fluxo de informação em tempo real, isto é, comum a velocidade que reduz o tempo de contato ao entorno de zero [...];

3. A estrutura da mensagem: em um mesmo documento, o receptor pode elaborar a informação em diversas linguagens, combinando texto, imagem e som [...];

4. A facilidade de ir e vir: a dimensão de seu espaço de comunicação é ampliada por uma conexão em rede, o receptor passeia por diferentes memórias ou estoques de informação no momento de sua vontade.

Apesar de ser um dos meios formais mais aceitos entre os pesquisadores, os periódicos científicos, impressos em seu formato tradicional, apresentam

problemas que se agravam cada dia mais diante dos avanços tecnológicos. De acordo com Campello (2007, p. 76-7), entre os problemas apontados pelos pesquisadores estão:

1. Demora na publicação do artigo que, às vezes, chega a ser de um ano após o recebimento do original pelo editor;

2. Custos altos de aquisição e manutenção de coleções atualizadas; 3. Rigidez do formato impresso em papel, quando se compara com a versatilidade dos formatos eletrônicos;

4. Dificuldade, para o pesquisador, em saber, o que de seu interesse está sendo publicado [...];

5. Dificuldade, para o pesquisador, em ter acesso a artigos que lhe interessam [...].

Na comunicação informal, como já foi descrito por Targino (2000), o meio eletrônico vem facilitando o contato entre pesquisadores, promovendo de forma mais rápida e eficiente o intercâmbio de informações. Entre as manifestações de comunicação informal, os autores destacam as conversas entre pesquisadores, encontros científicos, reuniões, seminários e colégios invisíveis. No panorama apresentado por Meadows (1999), as primeiras reuniões informais foram realizadas pelos gregos para debater questões filosóficas. Com relação à expressão “colégio invisível”, Mueller (1994, p.310) destaca que:

Não se refere a grupos formais, bem definidos e identificados, mas simplesmente a um grupo de pesquisadores que está, em um dado momento, trabalhando em torno de um mesmo problema ou área de pesquisa e se comunica sobre o andamento das pesquisas.

No cenário de inserção das TIC’s na comunicação científica, entre as alternativas adotadas pelo governo brasileiro, com o objetivo de centralizar e aperfeiçoar a aquisição dos periódicos científicos, destacamos a criação, no ano 2000, do Portal de Periódicos Eletrônicos da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). O portal proporcionou uma nova forma de acesso, permitindo a consulta simultânea de vários usuários a um mesmo documento, de forma rápida, sem a necessidade do deslocamento do pesquisador para a biblioteca.

De acordo com informações obtidas no site da CAPES13, o acervo em formato digital oferece, ainda, a vantagem de uma nova forma de arquivamento, possibilitando a aquisição de acervos mais diversificados, sem a necessidade de preocupação com o espaço físico. Com a finalidade de reduzir as desigualdades regionais no acesso à ciência, o Portal disponibiliza periódicos científicos que publicam os avanços e discussões realizadas no meio acadêmico nas diferentes áreas do conhecimento.

Em suas reflexões sobre as características da comunicação formal, Mueller (2007, p.76-77) destaca que os periódicos, além da divulgação de resultados de pesquisa, possuem funções de relevância como a comunicação formal dos resultados da pesquisa original para a comunidade científica, a preservação do conhecimento registrado, o estabelecimento da propriedade intelectual e a manutenção do padrão da qualidade na ciência.

Entre os autores pesquisados, muitos acreditam que os periódicos eletrônicos permanecerão por algum tempo como complemento do formato impresso, uma vez que boa parte dos periódicos mais prestigiados na comunidade científica permanece sendo publicados no fluxo tradicional de informação.

13Portal de Periódicos da Capes: missão e objetivos. Disponível em: <http://www.periodicos.capes.gov.br/?option=com_pcontent&view=pcontent&alias=missao-