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Assim como a informação e o conhecimento passaram a ser fundamentais para o desenvolvimento econômico e social na sociedade contemporânea, a ciência

e a tecnologia exercem papel estratégico nesse novo cenário proporcionado pelas TIC’s.

“O surgimento das novas tecnologias da informação e comunicação tem causado uma revolução nas ciências, possibilitando maior rapidez no desenvolvimento das pesquisas e maior troca de informações, colocando em contato pesquisadores localizados em diferentes partes do mundo”. (OLIVEIRA; NORONHA, 2005, p. 76).

Nessa perspectiva de mudanças, grandes transformações vêm ocorrendo na forma de comunicar e preservar o conhecimento. Segundo Meadows (1999), não é possível determinar quando foi iniciada a pesquisa científica e a comunicação dos resultados obtidos. O autor relata, em sua obra “A comunicação científica”, que as primeiras manifestações orais, como também os primeiros registros na forma escrita do conhecimento, foram iniciados pelos gregos nos séculos V e VI a.C.

Observa-se, ainda, que a “transição da forma manuscrita para a forma impressa não se deu instantaneamente” Meadows (1999, p.5). A circulação de livros manuscritos e cartas se configurava como a forma padrão de comunicação entre pequenos grupos até o século XVIII. Com o desenvolvimento do método científico, entre os séculos XVI e XVII, e a necessidade de disseminação da informação para grupos maiores, surgem então as primeiras revistas científicas.

A introdução da imprensa no século XV facilitou sobremaneira a comunicação científica, por meio de maior oferta e disponibilidade de textos impressos. Nessa época, evidentemente, nem todos os livros difundiam resultados de pesquisa, mas não havia dúvida quanto à sua importância para a difusão dos resultados de pesquisa. (KURAMOTO, 2008, p. 862-3).

O papel, inventado por Cai Lun em 105 d. C., difundiu-se para o Ocidente por meio de mercadores árabes, passando por Bagdá, Damasco e Cairo e de lá seguindo para a Europa pelo Mediterrâneo. Destaca-se, nesse contexto, que “a invenção do papel representou uma inovação técnica tão importante como o da imprensa. Ambos são invenções da China”. Jaguaribe (1999, p. 24).

Ziman (1979), em sua obra “Conhecimento público”, destaca a importância de uma publicação com periodicidade regular na divulgação rápida e eficiente dos resultados de um grande número de pesquisas, as quais, segundo o autor, caso fossem divulgadas de forma individual, não teriam grande impacto. Ziman esclarece

ainda, que as pesquisas “[...] ao se concatenarem umas com as outras estimulam novos trabalhos, formando o grosso das pequenas e minuciosas observações sobre as quais se alicerçam os grandes avanços tecnológicos”. Ziman (1979, p. 118).

A comunicação científica apesar de se iniciar de maneira informal, através de conversas entre pesquisadores, e da divulgação de seus primeiros resultados em reuniões e seminários, estabelece-se pela publicação dos resultados nos canais formais, principalmente nos periódicos, considerados como o principal meio de comunicação e divulgação do conhecimento científico. (OLIVEIRA, 2005, p.78)

De acordo com Le Coadic (2004), a produção do conhecimento científico acontece por meio do desenvolvimento de atividades científicas e técnicas responsáveis pela transformação desse conhecimento em informação científica. É por meio da disseminação da informação que a ciência se desenvolve e, consequentemente, a comunicação científica.

Corroborando com Le Coadic (2004), Oliveira e Noronha (2005), consideram que a comunicação é parte essencial do desenvolvimento da ciência. “O conhecimento científico para se legitimar deve ser divulgado, verificado e comprovado ou não pelos cientistas e esse processo só é possível através da comunicação”. Oliveira e Noronha (2005, p.76-7).

O debate coletivo proporcionado pela divulgação dos resultados da produção científica de uma determinada área do conhecimento traduzido em artigos científicos é a forma de divulgação mais utilizada pela comunidade científica. De acordo com Kuhn (2006, p.222), uma “comunidade científica é formada pelos praticantes de uma especialidade científica”, trata-se, portanto, de uma comunidade que compartilha um mesmo paradigma.

Para Targino (2000, p.10), o termo comunidade científica designa “tanto a totalidade dos indivíduos que se dedicam à pesquisa científica e tecnológica como grupos específicos de cientistas, segmentados em função das especialidades, e até mesmo de línguas, nações e ideologias políticas”. A disseminação do conhecimento produzido por essa comunidade é fundamental para que novos paradigmas sejam revelados. Para Le Coadic (2004), a noção de comunidade científica é muito confusa e se veste de uma espécie de mito surgido no século XIX:

Trata-se do mito da “república das ideias”, da Cidade do saber, onde cientistas exclusivamente teóricos, desvinculados de sua condição social e material e ligados entre si pela preocupação com a verdade, se encontram para trocar idéias abstratas. (LE COADIC, 2004, p.28- 29).

Nessa discussão, Le Coadic (2004) idealiza que as comunidades científicas reais, que se formam em universidades e centros de pesquisas, seguem os mesmos rituais das comunidades primitivas. O cientista compartilha seus conhecimentos na comunidade a que pertence sem esperar nenhuma compensação financeira. O que se espera dessa comunidade é o reconhecimento do pesquisador como cientista, este, por sua vez, fará por merecer essa titulação, retribuindo-a com um volume intenso de publicações originais.

Além do desenvolvimento do método científico citado por Meadows (1999) como sendo um dos fatores que favoreceram a expansão e acumulação do conhecimento, Weitzel (2006) acrescenta mais três “circunstâncias especiais” do trabalho científico:

a) a laicização do conhecimento com o fim do monopólio do saber controlado pela igreja católica bem como o domínio da tecnologia da imprensa e do papel;

b) o surgimento das sociedades científicas, notadamente a Royal Society (1662) e Académie Royale des Sciences (1666), como instituições organizadoras do saber;

b) o surgimento da primeira revista científica, Philosophical Transactions (1665) precursora do modelo atual de comunicação científica. (WEITZEL, 2006, p.83).

Segundo Weitzel (2006), a inserção e o crescente uso das redes eletrônicas, a partir da década de 80, vêm permitindo que os antigos problemas presentes no modelo de fazer ciência sejam discutidos sobre uma nova perspectiva tecnológica. O autor destaca, ainda, que, no ambiente virtual, as principais questões discutidas são a mudança estrutural do fluxo da comunicação científica e a fragilidade na distinção entre os canais formais e informais.