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Proclamar o Evangelho não é ficar atrás do altar dizendo apenas que Jesus Cristo salva. Mas é identificar-se com as massas como fez Jesus. Conviver com as massas, andar com elas e dizer que Jesus Cristo quer que elas se transformem não em massas, mas que deixem de ser massa para serem pessoas e, sendo pessoas, tenham direito aos privilégios e ao que as constituições proclamam e a Declaração das Nações Unidas sobre os Direitos Humanos também (grifo

nosso).

Pastor Manoel de Mello (Igreja Pentecostal O Brasil para Cristo, 1973).

No conturbado cenário nacional, em finais dos anos 1970 e inícios dos anos 1980, eclodiam inumeráveis greves de trabalhadores, das mais diversas categorias, em várias cidades do Brasil. Talvez, o contexto mais turbulento tenha sido o que assistiu à mobilização dos trabalhadores das indústrias automobilísticas da região que reúne as cidades de Santo André, São Bernardo do Campo e São Caetano, conhecida como “ABC paulista”. Era um momento histórico no qual boa parcela da sociedade civil acreditava estar se distanciando do período de ditadura, caminhando de volta à democracia. Boa parte dos exilados políticos havia sido “perdoada” pela Lei de Anistia, de Agosto de 1979, retornando ao país e ajudando a fortalecer as esperanças de que em breve os militares “retornariam aos quartéis”. Todavia, a vigilância dos agentes dos órgãos de informação e de segurança não diminuía, como foi dito antes.

Nesse contexto de lutas trabalhistas, são conhecidas as decisivas atuações de certos bispos, padres e leigos católicos em defesa dos trabalhadores grevistas do ABC. Por outro lado, as análises acerca da participação de pastores ou leigos protestantes nesse mesmo contexto são escassas. A mesma escassez é percebida em relação ao ecumenismo. Contudo, aos “olhos” atentos dos responsáveis pelo monitoramento da sociedade, as atividades de cristãos de outras denominações não passaram despercebidas.

Um documento do DGIE, de 08 de maio de 1980, tratava das atividades da “linha progressista” do clero católico, em especial, da “Pastoral Operária de São Paulo”, o qual fora enviado ao ministro da justiça e outros órgãos de informação, tecendo juízos de valor sobre as atividades cristãs, inclusive pentecostais. As informações estão dispostas em um amplo e detalhado relatório que, ao que tudo indica, visava oferecer uma radiografia completa da “ação da Igreja na greve dos metalúrgicos do ABCD”. Demonstrava insatisfação com o apoio dado por Dom Paulo Evaristo Arns, Dom Ivo Lorscheider, bem como por “religiosos não católicos” aos grevistas do ABC, em 1980. De fato, a greve, que durou quarenta e dois dias acirrou os ânimos e colocou à prova a disposição do governo do presidente Figueiredo em levar a cabo a prometida “abertura política” do país. Dom Cláudio Humes, bispo católico da cidade de Santo André e um dos principais incentivadores dos trabalhadores, era da opinião de que “o movimento do ABC desmascarou a abertura política, mostrando até que ponto ela é autêntica e como ela ignora as classes populares.”520

A greve dos metalúrgicos do ABC sofreu forte repressão policial e o sindicato implacável intervenção governamental, tendo vários de seus líderes presos. O mais conhecido deles foi Luís Inácio Lula da Silva atualmente, exercendo o segundo mandato como presidente da República. A matéria de Tempo e Presença identifica algumas lideranças do protestantismo que também apoiaram o movimento grevista:

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Os presidentes das Igrejas Episcopal do Brasil, Bispo Arthur Kratz; Metodista, Bispo Sadi Machado e Pentecostal do Brasil, pastor Olavo Nunes, enviaram telegrama conjunto ao presidente da CNBB, D. Ivo Lorscheider, solidarizando-se com a ação da Igreja Católica nos movimentos dos metalúrgicos paulistas. “Diante das acusações e ameaças de impedimento da continuação da ação pastoral da Igreja Católica na crise do ABC, enviamos nossa solidariedade fraterna, extensiva ao Cardeal Arns e ao Bispo D. Cláudio Hummes. Rogamos a Deus que suas bênçãos iluminem o povo brasileiro” diz o telegrama das Igrejas metodistas e Pentecostais.521

Em São Paulo, no dia 23 de Abril de 1980, várias lideranças de diversas igrejas protestantes divulgaram uma nota em apoio aos operários e às lideranças católicas que se colocaram ao lado dos trabalhadores. O documento é assinado por 46 líderes religiosos. Entre eles, contavam-se bispos, pastores, presbíteros e leigos das Igrejas Metodista, Presbiteriana, Reformada, Congregacional, Presbiteriana Independente, Episcopal e Cristã. Entre outras coisas, a nota enfatizou que “a luta dos metalúrgicos é parte de uma luta mais ampla em que estão envolvidos também outros setores da sociedade na construção de uma sociedade mais justa”. Tais protestantes mostravam-se, assim, “identificados com a luta pela justiça que se manifesta por condições dignas de vida, somos pela participação livre e plena de todos os setores da sociedade nas decisões nacionais e contrários a todos os atos de arbitrariedade e repressão”. Por isso mesmo, assinalavam: “Expressamos nosso protesto contra as prisões e as violências de que foram vítimas líderes sindicais, operários e representantes de diversos setores da sociedade”. Por fim, deixaram claro que sentiam-se “irmanados com as atitudes assumidas pela Igreja Católica, através do testemunho de seus bispos, sacerdotes e leigos que têm-se posicionado publicamente ao lado dos trabalhadores na luta pelos seus legítimos direitos.”522

A atitude dos metodistas não se limitou ao apoio através do discurso. Segundo a matéria de Tempo e Presença:

Os alunos da Faculdade Metodista, incentivados pela Pastoral Universitária e Diretórios Acadêmicos dessa escola, já enviaram uma remessa de 100 Kilos de alimentos ao fundo de greve e continuam com a arrecadação. Os movimentos pastorais metodistas de Sorocaba, além de apoiarem a ação de D. Cláudio estão arrecadando alimentos que serão enviados para S. Bernardo e Santo André. A Igreja Metodista deixou à disposição dos grevistas o templo localizado à rua Dr. Flaquet em São Bernardo onde também está fazendo arrecadação de mantimentos.523

Um inusitado pedido ainda fora feito, em carta assinada por oito lideranças metodistas de Santo André, aos “credores” dos metalúrgicos grevistas com o intuito, ao que tudo indica, de tranqüilizar e animar os trabalhadores que, apesar da repressão e da decisão judicial contrária às suas reivindicações, continuavam a greve:

“O nosso apelo é para que não ameace o seu metalúrgico devedor com cobrança judicial, mas que tenha compreensão, que espere um pouco, tendo para com ele uma atitude humana.” [...] Na carta os religiosos lembram “o drama em que vivem os metalúrgicos do ABC” e dirigem o apelo de “moratória e tolerância a todos os credores dos metalúrgicos – locadores, comerciantes, proprietários de loteamentos e outros”. As autoridades religiosas lembram aos credores que, atendendo ao apelo, eles estarão participando “de alguma forma, para a solução pacífica dos problemas que afligem a comunidade brasileira”.524

521 “Metodistas, Episcopais e Pentecostais gaúchos apóiam D. Paulo”. Tempo e Presença, Rio de Janeiro: CEDI,

n. 158, mar./abr. 1980, p. 18.

522 “Evangélicos apóiam a greve dos metalúrgicos e se solidarizam com a Igreja Católica de São Paulo”. Tempo e

Presença, Rio de Janeiro: CEDI, n. 158, mar./abr. 1980. p. 17.

523 Ibid., p. 18. 524

181 Toda essa movimentação comprova o fato de que, no plano da religião, a Igreja Católica não estava isolada no auxílio ao movimento grevista, tido por “ilegal” pelo Tribunal Regional do Trabalho. Imbuídos da filosofia do “ecumenismo”, da “teologia da libertação” e do ideal da busca da justiça social, diversas igrejas protestantes também apoiaram a greve. O documento da polícia política também não deixou de observar o apoio de “religiosos não católicos” aos bispos católicos e aos trabalhadores metalúrgicos. Havia, pois, um ambiente ecumênico permeando tal contexto de lutas da classe operária paulistana. Como assinalado anteriormente, essa modalidade de luta ecumênica conjunta serviu de pano de fundo para o aprofundamento de relações com esse teor. Da mesma forma que a Tempo e Presença, a polícia política registrou uma lista de pessoas e instituições que apoiaram os prelados católicos favoráveis às greves:

os presidentes das Igrejas Episcopal, Metodista e Pentecostal, respectivamente, os bispos ARTHUR KRATZ, SADI MACHADO e OLAVO NUNES, solidarizaram-se com a ação da Igreja Católica nos movimentos dos metalúrgicos paulistas e apoiaram D. ARNS e D. CLÁUDIO HUMES.525

Com efeito, algumas Igrejas pentecostais já comungavam dos anseios da CEB, desde a implementação das idéias do Setor de Responsabilidade Social, ainda nos anos de 1950. A

Igreja Pentecostal O Brasil para Cristo presidida, em 1980, pelo pastor Olavo Nunes, citado

acima no documento da polícia, já havia se tornado membro efetivo do Conselho Mundial de Igrejas, desde 1969.526 Seu líder, na época o pastor Manoel de Mello, havia pedido formalmente a adesão ao CMI, ainda em 1969, obtendo resposta positiva alguns meses depois.527 Uma das motivações que o levou a pedir filiação ao CMI foi, segundo ele, a busca por “orientação social”, já que no plano religioso considerava que o CMI estava “aquém” de onde já havia chegado sua igreja. Dizia ele, numa entrevista concedida ao periódico oficial da Igreja Metodista, Expositor Cristão, em 1968:

[...] Enquanto nós convertemos um milhão, o Diabo converte 10 milhões através da fome, da miséria, do militarismo, da ditadura, e as igrejas continuam acomodadas. O ateísmo cresce devido às situações de injustiça, de miséria em que o povo vive. Os pregadores estão pregando sobre um futuro longínquo e se esquecem que Jesus deu valor e atenção ao momento em que o povo vivia. O CMI se preocupa com o tempo atual do povo. “O Brasil para Cristo” vai ingressar no CMI por causa da sua missão social no mundo presente. Mas, há outra razão; temos que acabar com a mente tacanha que divide os homens em denominações. O Conselho Mundial está fazendo isso. O ecumenismo é outra coisa boa do Conselho Mundial para nós.528

A preocupação, expressa nas palavras do pastor Manoel de Mello, com a realização da “obra social” foi um dos principais fatores que levaram sua denominação a apoiar variados movimentos sociais ao longo da ditadura. O apoio dessa Igreja Pentecostal aos prelados católicos não era novidade. Havia já algum tempo que o fundador da Igreja, o mesmo pastor Manoel de Mello, nutria relações amigáveis e ecumênicas com D. Paulo Evaristo Arns. Uma matéria relatando a inauguração do templo sede de O Brasil para Cristo que, na época, foi considerado “o maior templo evangélico do mundo”529

, foi publicada no Jornal católico O São

Paulo. O texto nos dá uma pequena mostra da dimensão ecumênica envolvendo, entre outros

525 Fundo das Polícias Políticas. Arquivo Público do Estado do Rio de Janeiro. Setor DGIE, pasta 247-B, folhas

198, 08 mai. 1980.

526 REILY, Duncan A. A história documental do Protestantismo no Brasil. São Paulo: Aste, 1993. pp. 376/379. 527 Ibid., p. 377.

528 O Expositor Cristão, 1/10/1968, p. 11. Apud. REILY, Duncan A. Op. cit., p. 377. 529

182 líderes, D. Paulo Evaristo Arns, Reverendo Philip Potter, do CMI, o Bispo presidente da Igreja Metodista, Rev. Sady Machado da Silva e o Pastor Manoel de Mello:

Nos momentos que antecederam a chegada de d. Paulo à celebração, Manoel de Mello havia anunciado essa expectativa, levando o povo a bradar em alta voz, por três vezes consecutivas: “Eu amo meu irmão católico!” Foi de fato, muito emocionante ouvir d. Paulo dirigir breves palavras àquele auditório constituído de gente que, ao contrário de muitas congregações evangélicas, havia aprendido não só a admirar como também a amar o cardeal de São Paulo...

Dados os pronunciamentos proféticos de Manoel de Mello ao longo [do] período de repressão, o seu apoio às freqüentes denúncias e declarações dos bispos brasileiros, não é de se admirar que o dr. Potter tenha aceito convite de um dos membros brasileiros do Comitê Central do CMI para visitar o Brasil...ocasião em que teria oportunidade de conhecer e entrar em contato com líderes das igrejas nacionais. Além de reuniões com lideranças luteranas e metodistas, dr. Philip Potter teve longos encontros com d. Paulo e com d. Ivo Lorscheiter, presidente da CNBB. Os encontros com d. Paulo e d. Ivo foram realizados na Igreja Evangélica Pentecostal o Brasil para Cristo, ocasiões em que ambos puderam constatar as dimensões gigantescas do grande templo [...] ...D. Paulo serviu de intérprete (em francês) durante a entrevista realizada pela TV Globo, no interior do templo, com dr. Philip Potter.

Acompanhado de representantes das igrejas brasileiras que compõe a CESE e o CMI (inclusive representantes da CNBB), dr. Philip Potter fez breve visita de cortesia ao presidente João Figueiredo. Nessa ocasião dr. Philip Potter manifestou ao chefe da nação a esperança de que a abertura política em favor da anistia, dos direitos humanos, do direito dos índios à terra seja considerada apenas como “um começo”.530

A Igreja Metodista, por meio de setores da hierarquia e de muitos de seus leigos, também se envolveu ativamente nas atividades de movimentos sociais e nos variados encontros ecumênicos realizados ao longo da ditadura. A Igreja Episcopal também participou com freqüência dos diálogos ecumênicos de lideranças cristãs. Gostaríamos, nesse ponto, de nos deter um pouco mais na militância de atores sociais ligados, em especial, à Igreja Metodista. Como foi discutido no capítulo anterior, o professor universitário metodista, Warwick Kerr, esteve sob a vigilância da comunidade de informações, sobretudo, por suas denúncias sobre torturas e sobre a repressão militar. Contudo, havia a militância de outros personagens intelectuais protestantes, em especial, naquilo que os militares chamavam de “pregação esquerdista”. O documento da DSI/MT, citado no capítulo anterior, aponta para o funcionamento de uma complexa rede ecumênica de esquerda, ligando diversos nomes que iam desde pessoas classificadas como “marxistas”, “terroristas”, passando por bispos, cônegos e leigos católicos, pastores e leigos protestantes (presbiterianos, metodistas, pentecostal), políticos e até estudantes da Ação Universitária Cristã (AUC). No capítulo anterior, mencionamos que o professor Warwick Kerr havia assumido um cargo em um instituto de pesquisa em Manaus, entretanto, a DSI/MT constatou que, mesmo de lá, ele continuava mantendo contatos com lideranças religiosas e do movimento estudantil de São Paulo. Segundo o informe, o professor Kerr, mantinha contatos com “Monsenhor ENZO CAMPOS GUZO” e com “ANGÉLICO SANDALO BERNARDINO”, “Bispo da Região leste da Grande São Paulo” e responsável pela Pastoral Operária. O redator lembra, inclusive, que os três haviam sido indiciados, em 1969, no inquérito sobre uma organização “desbaratada na região de Rio Preto”, a “Frente Armada de Libertação Nacional (FALN)”, mas “foram impronunciados na Justiça.”531

Segundo ele, quem fazia a ponte entre o professor Kerr e os

530 O São Paulo, 13-19/07/1979, p. 7. Apud. REILY, Duncan A. Op. cit., p. 379.

531 DSI – Ministério dos Transportes - Arquivo Nacional – Coordenação Regional, DF, Informação nº 539

183 religiosos católicos, em 1969, era a universitária “comunista fanática” “MARILENA CHAUÍ.”532

Em 1978, porém, na data da produção do documento, a preocupação principal da DSI ainda estava focada na militância de alguns cristãos, sendo uma das pessoas que mais causavam preocupação a protestante Letícia Caetano:

Esquerdista muito atuante da Igreja Metodista e ligada ao Conselho Mundial de Igrejas é Dona LETÍCIA BEZERRA CAETANO , Secretária do Departamento de Genética da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto e que exercia, também, a função de secretária particular do Prof. WARWICK ESTEVAM KERR, quando este era Chefe do Departamento. [...] muito ligada ao Ver. JOÃO PARAÍBA DANROCH DA SILVA (em Genebra). Certa feita, em carta dirigida a um jornalista de São Paulo (capital), a Profa. LETÍCIA afirmou que, dentro do protestantismo, às esquerdas muito deviam à atuação e serviços prestados por GUARACY SILVEIRA, ex-deputado do extinto PCB, ALMIR DOS SANTOS, Bispo Metodista, Pastor Manoel de Melo, da Igreja Pentecostal e WARWICK ESTEVAM KERR[...].533

Cabe lembrar que o bispo metodista Almir dos Santos, citado neste documento, foi um dos organizadores da Conferência do Nordeste, em 1962, no Recife, como presidente do Setor

de Responsabilidade Social da Confederação Evangélica do Brasil (CEB). Na ocasião,

proferiu a palestra intitulada “Cristo e o processo revolucionário brasileiro”534

. Entre outras coisas, apontou uma das principais características do “processo revolucionário”: “uma revolta generalizada do homem contra a atual situação em que vive grande parte da população”, acrescentando:

a revolução social está em andamento, e é um grito de revolta, no bom sentido, de uma população que desperta para a consciência de que a miséria não é uma situação inelutável; de que a pobreza não é um quinhão distribuído por Deus com endereço próprio a seus filhos.”535

A explicação que ofereceu para essa situação foi que “a pobreza meus amigos, não é da vontade Deus, a pobreza é da vontade dos homens”536

. A respeito do pastor Manoel de Mello, também citado no documento, convém lembrar que o mesmo havia sido eleito “para o comitê central” do Conselho Mundial de Igrejas, durante sua “5ª Assembléia”, realizada em dezembro de 1975, em Nairóbi, Quênia.537 A partir do CMI, Manoel de Mello articulava-se com cristãos de várias denominações no Brasil e, em 1980, ao que tudo indica, já havia passado a direção da Igreja Pentecostal o Brasil para Cristo ao pastor Olavo dos Santos, citado no caso do apoio aos grevistas do ABC. Outro nome do protestantismo, que estava preocupando a DSI, em especial, por sua militância política, foi o de Elter Dias Maciel:

Também o Prof. e Pastor Presbiteriano ELTEN DIAS MACIEL538 vem exercendo intensa atividade de esquerda dentro do protestantismo. Informes dizem que ele esteve envolvido em subversão no Estado de Goiás. Depois foi atuar em SÃO SEBASTIÃO DO PARAÍSO, cidade mineira na divisa com o Estado de São Paulo.

532 Ibid., folhas 132.

533 DSI – Ministério dos Transportes - Arquivo Nacional – Coordenação Regional, DF, Informação nº 539

/SICI/DSI/MT/1978, folhas 134.

534

SANTOS, Almir. “Cristo e o processo revolucionário brasileiro.” In: CESAR, Waldo. A Conferência do

Nordeste: Cristo e o processo revolucionário brasileiro. Recife: Setor de Responsabilidade Social da Igreja do

Departamento de Estudos da Confederação Evangélica do Brasil, 1962. pp. 1-12.

535 Ibid., p. 3. 536

Ibid., p. 6.

537 Boletim CEI, Rio de Janeiro: CEDI, n. 113, Abr. 1976. p. 1.

538 Elter Dias Maciel foi um dos integrantes da equipe do CEDI, especialmente na época em que Aloísio

Mercadante, atual Senador da República e líder do PT no Senado, também pertencia aos quadros da organização ecumênica.

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Passou alguns dias em Ribeiro Preto, quando estabeleceu ligações com alguns católicos de esquerda, entre eles...[...] É ligado ao professor WARWICK ESTEVAM KERR e tomou destino para uma outra cidade do interior paulista.

Pelo que se depreende do documento, essa DSI tinha na pessoa do professor Kerr uma das principais figuras cristãs articuladoras das atividades políticas de esquerda, juntamente com monsenhor Enzo e D. Ângelo. Estes, inclusive, “com cobertura na imprensa”. Tais articulações estendiam-se até setores da juventude protestante:

Apurou-se, que a juventude metodista, a qual realizou há alguns meses atrás um congresso em Brasília, está dominada pela ala esquerdista, muito bem orientada pelo dirigente máximo da Igreja, Bispo OSWALDO DIAS DOS SANTOS. Como exemplos de jovens metodistas de esquerda, muito atuantes no proselitismo, podem ser citados...[...]

A ala esquerdista da Igreja Metodista possui um representante na Câmara Federal: Deputado ALDO FAGUNDES (MDB/RS). Consta que o pastor ELTEN DIAS MACIEL seria parente do Deputado cassado LISÂNEAS MACIEL (RS), considerado comunista, dirigente do protestantismo e que mantém ligações internacionais de esquerda.539

Segundo o Boletim CEI, Lisâneas Maciel (que participou da cerimônia, em 1975, na Associação Brasileira de Imprensa (ABI), no Rio de Janeiro, em homenagem ao Jornalista Wladimir Herzog) ocupava um cargo no CMI desde 1972. Ainda segundo o periódico, na mesma Assembléia em que o Pastor Manoel de Mello foi eleito, Lisâneas Maciel foi reeleito para um “novo período de sete anos” como “membro” na “Comissão de Ajuda Inter- Eclesiástica e Serviço Mundial”. Daí vinha a preocupação, ainda maior da DSI, com esse personagem do universo protestante. De fato, o documento que analisamos é rico em relação às articulações ecumênicas e o que citamos, aqui, representa apenas uma pequena porção das intrincadas redes ecumênicas e, ao mesmo tempo, políticas que operavam no período.

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