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3 A ÁREA DE PROTEÇÃO AMBIENTAL DA ILHA DO COMBU

3.3 O PROCESSO HISTÓRICO DE OCUPAÇÃO DA ILHA DO COMBU

3.4.1 Comunidade do Igarapé Combu

Geograficamente a comunidade Igarapé do Combu encontra-se localizada na APA Ilha do Combu, mais precisamente compreende as margens do Igarapé Combu e seus afluentes.

Segundo Rodrigues (2006), a comunidade Igarapé do Combu é a mais antiga comunidade existente na APA, remontando sua ocupação desde o início do século XX pela então família do Sr. Quaresma, mais conhecido pelo apelido de “Seu Bouquinha”, sendo a comunidade que mais possui residências na APA.

Segundo Rodrigues (2006), na comunidade Igarapé do Combu existem 78 residências, 1 restaurante, uma igreja evangélica, uma escola, um campo de futebol, utilizado no período do verão, 1 telefone público e 1 posto de saúde. A maioria das residências são de madeira, tendo residências mistas, de madeira e alvenaria e somente de alvenaria, em sua maioria as residências são compostas de mais de 3 cômodos.

Mesmo que Rodrigues (2006), não tenha identificado em sua pesquisa resquícios materiais e espirituais que configurasse a comunidade Igarapé do Combu como uma comunidade de remanescentes de quilombolas, pois, não encontrou referências específicas da presença de escravos na Ilha e nem ruínas de engenhos, mas a partir de suas pesquisas e de leituras de autores como Alden, Bezerra Neto, Acevedo Marin e Edna Castro, nos remete para a possibilidade de sua ocupação ter se dado a partir de 1915 e de ter sido introduzido na Ilha do Combu, mais especificamente nessa comunidade, escravos vindo da Guiné e Angola na África para a realização de trabalho escravo, tendo em vista que o trabalho escravo na região guajarina como mão-de-obra foi marcadamente utilizada e ter se detectado também a existência de grupos quilombolas na região.

Quanto à atividade econômica, merece destaque a atividade agrícola que foi praticada até por volta dos anos 60, com a prática do cultivo de produtos como o milho, feijão, arroz e legumes e a forte presença do cacau na vida daqueles que vivem na ilha do Combu, mas sua vocação mesmo esteve voltada para a prática do extrativismo através da extração do açaí (RODRIGUES, 2006).

Segundo Rodrigues (2006), o Centro Comunitário do Igarapé Combu foi criado no ano de 1988, por incentivo de pesquisadores do Museu Paraense Emílio Goeld (MPEG) através do Programa Estuário desenvolvido no final dos anos 80 e início dos anos 90. Sua primeira diretoria foi composta pela família do Sr. Sebastião Quaresma, família esta que se reveza no comando da organização durante todos esses anos, sendo enfatizado pela autora a presença da D. Izete Gonçalves, 40 anos na época, ligada à família Quaresma por laços matrimoniais, uma pessoa que possibilitava a continuidade de laços comunitários dentro da comunidade.

Dois aspectos merecem atenção referente aos dados acima apresentados. A primeira nos remete para o aspecto positivo das relações sociais da comunidade Igarapé do Combu com os pesquisadores do Museu, pois, essas relações se dão em uma troca de possibilidades, se bem aproveitadas, de melhorias de condições de vida com a troca de informação, de conhecimento e até de elevada auto estima da comunidade e a preocupação dos pesquisadores na organização da comunidade como retribuição pelos estudos realizados.

O segundo aspecto que chama atenção é a presença das mulheres nessa nova organização, se apropriando de espaços político e de relações sociais mais amplas que os espaços domésticos tradicionais.

Rodrigues (2006), também faz referência em sua pesquisa sobre a existência de uma cooperativa que trabalhava com sementes na fabricação de bijuterias na comunidade Igarapé do Combu. Essa cooperativa teria sido também produto da relação da comunidade com instituições externas como a Escola Montessoriana e o Centro Educacional Superior do Pará (CESUPA).

Mais uma vez essa referência de possibilidades de trocas de conhecimentos, experiências e aprendizados entre o ambiente interno que é a comunidade e o externo que são as instituições de pesquisa nos remete inferir que algumas relações institucionais realizada entre a Ilha do Combu e algumas instituições foram positivas, contrariando o discurso bastante enfático hoje enfatizado por lideranças comunitárias e até por membros do órgão gestor da APA, de que o excesso de pesquisa no local pouco trouxe de retorno para as comunidades locais.

O fato é que muito pouco foi feito desde o período da institucionalização da Ilha do Combu em APA pelo órgão ambiental que o criou até o ano de 2007, ocasionando com isso um vácuo de gestão ambiental estadual, o que parece não ter influenciado muito nas relações cotidianas dos comunitários que vivem na comunidade Igarapé do Combu, tendo em vista que outros órgãos gestores de certa forma estavam presentes na ilha como, por exemplo, a Prefeitura Municipal de Belém, o antigo GRPU agora Superintendência do Patrimônio da União (SPU), IBAMA.

Daí nosso estudo fazer o seguinte questionamento? Que influência traz a criação da APA na vida da comunidade Igarapé do Combu?

Um dos problemas relatados por Rodrigues (2006) e que ainda hoje ainda é muito presente na comunidade, segundo depoimentos de moradores observados em oficina realizada pelo órgão gestor da APA no dia 21/03/2010, é a presença incômoda de jet-ski e de embarcações de grande porte com turistas no Igarapé Combu. Pois, as embarcações são impróprias para a largura e profundidade do igarapé e o jet-ski em alta velocidade impossibilita a pesca e deixa a água imprópria para o consumo, devido principalmente o alto teor de lama deixado na superfície por esse veículo.

Outro problema enfrentado pela comunidade do Igarapé do Combu, segundo Rodrigues (2006), é a desarticulação do centro comunitário e a pouca participação dos membros da comunidade nas reuniões, pois, até aquele período da pesquisa (2006), não havia ninguém para assumir a direção do centro comunitário.