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a Área de Proteção Ambiental disporá de um Conselho Consultivo, presidido pelo representante da SEMA e constituído por representantes dos órgãos públicos,

4 O PROCESSO DE CRIAÇÃO E GESTÃO DA APA ILHA DO COMBU

I- a Área de Proteção Ambiental disporá de um Conselho Consultivo, presidido pelo representante da SEMA e constituído por representantes dos órgãos públicos,

de organizações da sociedade civil e da população residente, conforme dispuser o ato de sua constituição.

Parágrafo Único: Serão reavaliadas, no prazo máximo de 1 (um) ano a partir da publicação deste Decreto, as atribuições dos Conselhos de Áreas de Proteção Ambiental já instituídos. (grifo nosso).

Como se verifica há por parte do órgão gestor ambiental uma tentativa de substituir os conselhos deliberativos, que pouco deliberam, pelos conselhos consultivos. Ou seja, é um retrocesso no processo democrático e participativo do exercício desses conselhos, visto que eles precisam ter autonomia para a tomada de decisão sobre o seu próprio território sem interferência da tecnocracia de gabinete.

O decreto ainda salienta que as Áreas de Proteção Ambiental (APA) que já possuem constituídos conselhos deliberativos, como no caso da APA da Ilha do Combu, suas atribuições serão reavaliadas no prazo máximo de um ano a partir da publicação do decreto, posto que nem deu tempo dos membros do conselho exercitarem esse novo processo.

Essa postura do órgão gestor certamente fragiliza a gestão no sentido da decisão vir de cima pra baixo no imaginário dos conselheiros que são os principais sujeitos desse processo, vejamos o que pensa sobre isso uma liderança do Igarapé Combu ao tomar conhecimento em uma reunião da minuta de decreto

um outro fato que me causou até uma tristeza é que na última reunião que nós participamos no dia 29 foi informado pra gente que o nosso conselho, aliás o conselho de todas as APAs, ele não será mais um conselho deliberativo, ele será um conselho consultivo e isso não interessa pra nós, ele sendo deliberativo já é difícil a participação você imagina consultivo ... eu acho que isso é um retrocesso, inclusive na democracia, porque se nós que moramos no lugar, se nós não pudermos opinar ou decidir o que é melhor pra nós, como gente, que as pessoas que estão lá no centro urbano, vivendo suas vidas vão saber o que é melhor pra nós (...) eu vejo com grande preocupação isso (liderança “B” da comunidade Igarapé Combu).

A preocupação dessa liderança sem dúvida é compartilhada por todos aqueles conselheiros que almejam tomar decisões em pró de seu território e de todos os recursos que ali existem.

4.3.1.1 O Conselho Deliberativo da APA da Ilha do Combu

O processo de criação dos conselhos das Unidades de Conservação estaduais segue uma metodologia construída pelos técnicos da Sema que consiste inicialmente em um levantamento de instituições que tenham afinidade com a UC em questão. Em seguida, é realizada a aplicação de um questionário com cada instituição contendo perguntas relacionadas às afinidades e conhecimento da temática, reais possibilidades e do desejo de

participar do conselho da UC, aspectos legais e de suposto conhecimento de outras instituições que poderiam ser indicadas para participar do conselho.

Logo após, técnicos da Sema sistematizam as informações e inicia-se a etapa de reuniões com as instituições, mais com caráter informativo explicando o que é uma unidade de conservação e como ela foi criada, vindo em ordem de prioridade, primeiro as entidades que são do interior e do entorno da unidade, em um segundo momento as instituições de pesquisas, ONGs, sindicatos e em terceiro lugar as reuniões acontecem com as instituições governamentais.

Segundo entrevista realizada com técnicos da Sema, a partir daí é realizada uma reunião ampliada, o que é chamado de fórum de discussão, com as instituições que tenham afinidades e demonstraram interesse em participar do conselho e apresenta uma proposta de composição de conselho que pode ser ratificada ou pode sofrer alteração, daí se dar o processo de constituição do conselho. Logo após inicia-se o processo burocrático de recebimento, pela Sema, de documentação para que seja publicado em portaria nomeando as instituições e seus membros.

A partir do conselho criado inicia-se o processo do que os técnicos chamam de formação continuada, que consiste para a Sema em atender as demandas de formação apresentada pelos próprios conselheiros continuamente por meio de oficinas, cursos, intercâmbios, iniciando por temas relacionados à legislação, papel do conselho e dos conselheiros e suas atribuições, elaboração de projetos. Ou seja, existe uma formação geral, mas existem também demandas específicas dependendo da realidade de cada unidade. O organograma 01, na página seguinte, visualiza melhor a metodologia que é utilizada pela Sema para a criação de conselhos gestores das unidades de conservação estaduais.

Organograma 01: Organograma de metodologia de criação de conselhos de UC estaduais. Fonte: Ata de reunião do conselho, 2009. Organograma, elaborado pela autora.

O processo de criação do Conselho Deliberativo da APA da Ilha do Combu seguiu a mesma metodologia utilizada para a criação de outros conselhos em outras unidades e durou aproximadamente um ano e meio.

Pela análise de atas, memórias de reuniões e entrevistas concedidas por técnicos da Sema, identificamos que a constituição do Conselho da APA da Ilha do Combu acompanhou o processo de implementação de sua administração pelo órgão gestor.

Consideramos que visitas de reconhecimento, reuniões, entrevistas foram realizadas até o seu processo de criação. A primeira reunião na APA da Ilha do Combu aconteceu em setembro de 2007, quando técnicos da Sema realizaram visita de reconhecimento da área e coletaram informações para a elaboração do Plano de Trabalho que daria subsídio para a implementação de ações na APA que atendessem as demandas da comunidade, demanda essas não tão claras para um exercício de uma gestão com pouca experiência até então. Ou seja, a partir dessa data a Sema toma contato mais direto com a potencialidade da APA e com algumas de suas problemáticas. Segundo a técnica em gestão pública da Sema (entrevistada pela autora), a constituição do conselho da APA da Ilha do Combu encontrou algumas dificuldades por três fatores relatados. O primeiro referiu-se ao desconhecimento do processo de criação da unidade pela comunidade, ou seja, a falta de participação no processo de criação da unidade dificultou o processo de implementação e início de administração, pois, só quem havia um conhecimento mais aprofundado da unidade eram aquelas lideranças consideradas mais atuantes, pessoas mais envolvidas no processo político ali constituído.

METODOLOGIA