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3 A ÁREA DE PROTEÇÃO AMBIENTAL DA ILHA DO COMBU

3.5 USO DO SOLO

3.5.2 Trilhas e atividades turísticas

Algumas atividades turísticas encontram-se presente na APA, como os passeios realizados em grandes barcos por agências de turismo ou por moradores em barcos menores. Ligado a isso existem também as trilhas. A principal função das trilhas, segundo Botelho e Santos (2009, p. 170), “sempre foi suprir as necessidades de deslocamento. No entanto, houve alteração desse sentido ao longo dos anos, de simples meio de deslocamento as trilhas surgiram como novo meio de contato com a natureza”.

Três trilhas foram encontradas na APA da Ilha do Combu pela nossa pesquisa, entretanto, percorremos em apenas duas, como forma de adentrarmos no interior da APA e observarmos como essa atividade poderia ser uma potencialidade para a gestão daquela unidade. A primeira medindo 424 metros, constituída de ponte de madeira que faz parte do restaurante Portal da Ilha localizada na comunidade Beira Rio.

A segunda medindo 1.903 metros e a terceira 700 metros, ambas denominada “trilhas da ilha”, elas existem desde 2004 e ficam anexa ao restaurante “Saudosa Maloca” localizado no Igarapé Combu.

Botelho e Santos (2009) nos apresentam os significados das trilhas como aspecto positivo para a sensibilização das pessoas quanto à educação ambiental e a manutenção dos recursos naturais, onde afirmam

a atividade de ecoturismo é intrinsecamente relacionada ao uso de trilhas, já que um dos objetivos de quem o pratica é vivenciar de forma mais intensa os elementos naturais e culturais de uma região. A caminhada por uma trilha facilita essa experiência, pois possibilita a observação de fauna e flora além de experiências educativas ao explorar aspectos geológicos, geográficos ou a história natural. Da mesma forma que sensibiliza moradores e visitantes quanto à necessidade de manutenção dos recursos naturais (p. 169-170).

A trilha de 1.903m, como podemos melhor visualizar no mapa trilhas na APA da Ilha do Combu (figura 6), tem a duração de aproximadamente 2horas e 10 minutos, sendo dividido entre 30 minutos de percurso fluvial, margeando o Igarapé Combu15 e 1hora e 50 minutos de trilha terrestre. A trilha terrestre contorna o igarapé intrafegável conhecido por “igarapé casa velha”, a trilha também passa por cima de 13 pontes pequenas construídas de árvores de açaizeiro.

Durante o percurso dessa trilha há um processo de informação sobre a flora, fauna, histórias do curupira e demonstrações de atividades extrativistas desenvolvidas no local como extração do cacau, coleta de espécies da flora que exalam perfume como, por exemplo, o breu branco.

Quanto à história do curupira a guia nos conta duas histórias contadas pelos seus avós. As histórias quase sempre se referem aos perigos de entrada na mata sem um certo respeito pela mesma. Onde, as histórias refere-se ao se perder na mata por conta daquele que adentra em seu interior sem manter um certo respeito com ela. Então, primeiramente ela salienta da importância de ter o respeito pelas plantas, pelos animais, enfim pela floresta.

Mas, o que sentimos falta nesse processo de informação durante a realização da trilha foi de informações do processo de ocupação da ilha, de sua história, mas principalmente do enfoque de ser uma área de proteção ambiental. Duas inferências podemos fazer disso. Ou era porque a nossa equipe era composta por maioria de pessoas da Sema e o guia presumiu que já sabíamos disso. Ou não há ainda uma apropriação da importância o que seja uma APA e por isso ainda não existe muito significado para as pessoas.

Mas, observa-se que essas trilhas seriam uma oportunidade para a gestão da APA está divulgando mais os seus objetivos, qual o seu papel na sociedade para um processo de conservação ambiental.

Figura 6: Mapa de Trilhas na APA da Ilha do Combu.

Fonte: IBGE, 2010; IBAMA, 2010. Elaboração e Execução: Mateus Lobato e Ribeiro, 2010.

Durante o percurso da trilha o guia apresenta várias espécies nativas entre as quais: a árvore de cacau, fruta nativa, com safra no mês de dezembro, onde há uma demonstração de coleta do fruto e doação para algum participante na trilha. Ela nos apresenta também a árvore de seringueira, destacando o seu formato, onde é fina para cima e grossa para baixo, sendo assim por causa de sua exploração maciça no passado. É apresentada também a árvore de samaumeira, açacu, árvore de cedro, árvore e semente de andiroba, jenipapo, e alguns tipos de cipós como o limbo-açu, o pari, o tracuá e o cipó morcego.

É destacado também os troncos dos açaizeiros e o processo de manejo dessa palmeira, onde, é necessário tirar algumas toceiras (no máximo quatro árvores) para que a árvore do açaí se desenvolva. Como plantas medicinais foi mostrado o “quinino”, com princípio ativo para doenças como a malária e a palmeira jacitara com princípio ativo para doenças nos rins, segundo a nossa guia, com comprovação científica por estudante do Centro Educacional Superior do Pará (CESUPA). Foi mostrado também o mututi (madeira leve utilizada em

artesanato) e a raíz de paxiúba. Como destaque foi apresentado as orquídeas, ressaltando que por meio de estudos de pesquisadores do MPEG foram encontradas 43 espécies de orquídeas na Ilha do Combu.

Como elementos da fauna, pouco foi identificado, mas fomos informados que existem ainda na ilha: sabiá, bem-te-vi, macaco de cheiro, cutia, preguiça de cheiro.

A última parada antes de entrar no restaurante “Saudosa Maloca”, se dar em frente a uma árvore de samaumeira de aproximadamente 400 anos que corre risco de cair em decorrência da forte erosão que se mantém no Rio Guamá. E em frente a várias árvores de açaizeiros que ali existem.

Por fim, nesse momento há uma demonstração de como se apanha o açaí, demonstrado por um outro guia que pega uma folha do açaizeiro e confecciona uma “peconha”, que lhe possibilita subir na árvore, com facão atrás de seu short, ele sobe. Chegando lá em cima ele pega o facão e corta o cacho do açaí, como assim é denominado, descendo com maior velocidade do que a subida. Após isso ele pousa para fotos e convida os visitantes para fazer a mesma “proeza”.

Ressalta-se, entretanto, que as trilhas (ver mapa sobre trilhas na APA da Ilha do Combu) podem ser melhor exploradas com processo educativo e atividade ecoturística, podendo a APA ser melhor apresentada, o processo de ocupação do local, assim como para despertar o senso crítico da necessidade de se pensar mais na relação homem natureza.