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F ONTE : E LABORAÇÃO PRÓPRIA , BASEADA EM M AGALHÃES (2003)

3. A E COMUSEOLOGIA EM P ORTUGAL

Portugal tem vindo a seguir as tendências internacionais no que concerne à museologia. As mudanças mais relevantes deram-se a partir da década de 60 do século passado, com a fundação da Associação Portugue- sa de Museologia (APOM), cujos objetivos refletem os novos paradigmas da museologia, nomeadamente atra-

Nabais, 1995: 4)

Após a Revolução de 1974, observaram-se as alterações fundamentais, salientando-se a criação do Ins- tituto Português do Património Cultural, em 1980, e a constituição do MINON, em 1985. Moutinho divide estas alterações em quatro fases distintas:

1ª fase: afirmação das possibilidades de outras práticas museológicas - aparecimento dos ecomuseus (Ecomuseu do Seixal); debate entre a nova museologia versus museologia tradicional; divulgação em Portugal das linhas oriundas na Declaração de Santiago;

2ª fase: ausência de uma posição consistente por parte dos museus do Estado - reforço das associações e das autarquias na criação de instituições culturais; democratização da imagem de museu; a função social do museu começa a ser discutida com base nos conceitos de alargamento da noção de património e nas formas participativas de gestão do museu e dos bens patrimoniais; procura do lugar do profissional no âmago do museu: museólogo / conservador, museólogo / militante, militante / profissional, profissional / técnico;

3ª fase: consolidação da 2ª fase e a Museologia reconhecida como disciplina pela Universidade - criação do primeiro curso universitário em 1989; criação, pela CEE, de programas direcionados para o desenvol- vimento local, com a inclusão da museologia e do património;

4ª fase: museologia entendida enquanto recurso - entendimento do património enquanto noção abrangen- te dos aspetos culturais, naturais, paisagísticos, geológicos, etc.; museologia percecionada como meio de comunicação e função educativa; museus enquanto objeto de planeamento; museologia enquanto meio e não como um fim. (Primo, 2008: 128-129)

Durante os anos 70 e 80, verificou-se o aparecimento de um grande número de estruturas museológi- cas, algumas inspiradas nos princípios da nova museologia, respondendo ao crescente interesse, demonstrado em relação património, pelas entidades competentes e comunidades.

Destaca-se o fenómeno dos museus locais, facto que se verificou um pouco por todo o país, fruto de iniciativas locais, especialmente de associações culturais, de defesa do património e das autarquias, com o intuito de defender uma nova visão museológica, apoiada na participação comunitária, na dinâmica do pa- trimónio e da memória e na integração do museu no seio das comunidades como fator de desenvolvimento. (Primo, 2008: 128).

As experiências pioneiras, que tiveram como propósito a utilização da paisagem e de todos os seus componentes naturais e culturais, partiram da iniciativa do Instituto de Conservação da Natureza e Florestas

(ICNF)11 nas várias Áreas Protegidas (AP)12 r-

constrangimentos financeiros agravados pelos sucessivos cortes orçamentais dos últimos anos, continuam a ser as AP a liderar a promoção e animação do património, nomeadamente através da dinamização do Turis- mo de Natureza. Também foi numa AP, no Parque Natural da Serra da Estrela, em 1979, que surgiu o projeto de criação de um ecomuseu. Este projeto, que contou com a participação de profissionais locais e de Georges Henri Rivière, nunca saiu do papel, por falta de interesse do poder decisor. (Pessoa, 2001)

O arquiteto paisagista Fernando Pessoa, em parceria com o ICN, propôs a criação de uma rede ecomu- seológica constituída por estruturas museológicas compostas por duas constituintes: museu do tempo e mu- seu do espaço, com o intuito de expor a história e o modo de vida de uma região, que ficariam sob a alçada da respetiva AP. No entanto, este propósito também nunca foi avante.

Posteriormente, estas ideias foram-se solidificando, resultado da cooperação entre habitantes, repre- sentantes da comunidade e investigadores, sobretudo em zonas agrícolas ou na proximidade de cursos de água. (Janotková, 2004)

O primeiro ecomuseu português foi inaugurado, em 1982, no Seixal. Nascia, assim o Ecomuseu Muni- cipal do Seixal.

Atualmente, existem quinze espaços museológicos denominados ecomuseus13 em Portugal. Todavia,

analisados os websites de cada um, constata-se que, de acordo com a estrutura física e atividades disponibili- zadas, não cumprem os princípios preconizados pelos defensores deste instrumento, limitando-se a apresen- tar uma coleção, numa área fechada.

Indo ao encontro da filosofia dos criadores dos ecomuseus, salientamos alguns dos exemplos mais in- teressantes do nosso país, fazendo uma breve descrição dos mesmos:

Ecomuseu do Seixal: como já foi referido, foi o primeiro ecomuseu a ser inaugurado em Portugal, tendo já comemorado três décadas de existência. É gerido pelo município do Seixal, onde tem sede. Entre ou- tras valências, possui registo de entrada e inventário do património (móvel, imóvel, flutuante, imaterial); organiza exposições fixas e itinerantes; detém um centro de documentação; disponibiliza serviços educa- tivos; integra oito sítios (cinco núcleos museológicos e três extensões) e gere três embarcações tradicio- nais de recreio.

Ecomuseu do Barroso: inaugurado em 2009, está sob a alçada do município de Montalegre e está sedea- do no centro interpretativo. Possui vários núcleos, estando outros em fase de preparação. Pretende ser uma referência nos serviços de documentação (inventário patrimonial: etnográficos móveis, etnográficos

11Na altura denominado de Instituto de Conservação da Natureza (ICN).

12 Em Portugal, as AP têm as seguintes tipologias: Parque Nacional, Parque Natural, Reserva Natural, Paisagem Protegida, Monu- mento Natural e Área Protegida Privada (informação disponível em http://www.icnf.pt/portal/naturaclas/ap/tipol-areas-proteg , con- sultada em 02/03/2013).

imóveis, natural e memórias), investigação e interpretação dos valores culturais e naturais do território barrosão. Tem um plano de atividades mensal, organiza percursos e exposições.

Ecomuseu da Troncalhada: também de gestão municipal (Aveiro), tem sede na Marina da Troncalhada e tenciona mostrar, aos seus visitantes, os métodos de produção de sal, ainda hoje, feita de forma tradicio- nal, mantendo vivas as vivências e tradições ligadas a esta atividade; explora a paisagem, fauna e flora características deste meio. É constituído por vários polos: o centro interpretativo e ambiental, a marina, o moliceiro e o palheiro. Faz recriações e tem um programa museológico devidamente estruturado e atua- lizado.

Ecomuseu Tradições do Xisto de Góis: de cariz associativo, foi criado pela Associação Lousitânea Liga de Amigos da Serra da Lousã, inaugurado em 2012. Tem como grandes objetivos a preservação e dinamização do património cultural (construído e tradições - parte humanizada- com os núcleos: Núcleo- Sede, Núcleo Asinino, Núcleo do Forno e Alambique e Núcleo da Coirela das Agostinhas - hortas tradi- cionais); programas temáticos (do Entrudo Tradicional e da Rede das Aldeias do Xisto) e ambientais (da região natureza e serra, com os núcleos: Núcleo de Interpretação Ambiental (NIA), Núcleo da Mater- nidade de Árvores); e os programas de educação ambiental: Brama dos Veados, Percurso Interpretativo da Ribeira do Mouro, Caça Mimosas.

Analisando as características destes ecomuseus é fácil perceber a sua forte ligação com as comunida- des, a preocupação com valorização do património natural e cultural, a sua função como instrumentos de educação ambiental e a importância que dão à vertente da dinamização de atividades de animação no territó- rio, como forma de divulgação e, acima de tudo, como meio de promover a sua sustentabilidade económica, criando fontes de rendimento. É especialmente esta última valência, fomentada pelos ecomuseus, que abre caminho ao desenvolvimento da indústria turística local.