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P ATRIMÓNIO RURAL COMO FATOR DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

F ONTE : ADAPTADO DE UNESCO, 2006: 2 Tradições e expressões orais

2. P ATRIMÓNIO RURAL

2.3. P ATRIMÓNIO RURAL COMO FATOR DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

A chave para o desenvolvimento sustentável das regiões rurais reside no desenvolvimento de uma pers- pectiva independente e a descoberta do potencial endógeno.

(ESDP, Comissão Europeia, 1999)

O território nacional está repleto de exemplares de património rural. Em qualquer rua, quinta ou aldeia há edificações e tradições que resumem gerações que por lá passaram e viveram. Ainda assim, isto não quer dizer que tenham potencialidades como recursos culturais, capazes de promover o desenvolvimento desses locais.

Qualquer estratégia de desenvolvimento tem que começar por valorizar o património enquanto fator de identidade e de atratividade do território, começando por torná-lo acessível à população. Têm que ser os lo- cais e os seus habitantes os primeiros a sentir que este património é valioso e que pode ter utilidade e ser fonte se riqueza. Só assim se conseguirá a sua preservação e, consequentemente, a sua transmissão às gera- ções futuras.

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dade para adaptar as técnicas e os materiais para desenvolver produtos únicos e de ele- vada qualidade. Aqui se incluem o artesanato e os produtos agroalimentares com base em recursos endóge- nos.

A valorização do património pode concretizar-se através do desenvolvimento de produtos turísticos fundamentados em produtos com identidade local, produtos artesanais ou produtos culturais. (DGADR, 2009: 100)

Este processo começa, necessariamente, pelo levantamento do património e pela definição das poten- cialidades que cada elemento patrimonial pode ter. Este levantamento deve ser conduzido pelos atores locais

e acompanhado pelos poderes públicos, associações e estruturas socioprofissionais, através de formação de equipas constituídas por profissionais de várias áreas.

A participação da população local, nos projetos de valorização patrimonial, é essencial para dar corpo (e

alma) a uma nova ruralidade, dando assim uma imagem renovada e positiva aos territórios e reforçando a ten- dência atestada de atração ao meio rural de novas populações residentes e de visitantes. (DGADR, 2009: 101)

O envolvimento dos residentes no processo de desenvolvimento baseado no património rural é imprescin- dível. A sensibilização para a valorização do seu património contribui para a recuperação do orgulho e autoestima das populações. Este é o grande desafio, já que a maioria das zonas rurais do interior de Portugal estão a atra- vessar um processo (imparável e irreversível?) de despovoamento e os que ficam constituem uma sociedade comummente denominada de deprimida.

Também a entidade governamental responsável pela tutela do turismo, o Turismo de Portugal, I.P., na revisão do PENT no horizonte de 2015, define como produto estratégico o turismo de natureza, salientado a necessidade de estruturar a oferta, nomeadamente em meio rural, em particular para os segmentos de passei- os (a pé, de bicicleta ou a cavalo), de birdwatching e do turismo equestre, melhorando as condições de visita e a formação dos recursos humanos. Esta aposta é justificada pela constatação de que o turista de natureza procura a tranquilidade, o repouso e a autenticidade e realiza diversas atividades no destino. O documento refere os principais fatores de competitividade de Portugal para este produto: 23% do território está integrado em Áreas Protegidas (AP) e Rede Natura, revelador de fortes valores naturais e de biodiversidade ao nível da fauna, flora e da qualidade paisagística e ambiental; a diversidade de paisagens e de habitats naturais a curta distância e a abundância de elementos qualificadores do destino. (Governo de Portugal, 2012)

Todas estas valências revelam o interesse fulcral do património rural no desenvolvimento sustentável das regiões, nomeadamente como recurso para a implementação e crescimento da indústria turística.

José Reis, Presidente da Associação de Desenvolvimento Regional Estrela Sul (ADERES), numa en- trevista dada recentemente à publicaç

versus património rural e o respetivo contributo para o desenvolvimento rural sustentável:

Os recursos patrimoniais dos territórios rurais são a principal mais-valia na atração turística. O pa- trimónio local histórico, gastronómico e natural, quando devidamente preservado, valorizado e promovi- do é hoje fator primordial e contributo fundamental para o desenvolvimento rural. Os territórios rurais atualmente já não são apenas produtores de bens/géneros alimentares. Graças ao património ambiental, e também ao construído e gastronómico, reveladores da história e da memória dos povos, os territórios ru- rais são hoje locais de turismo, recreio e lazer muito procurados pelas populações das grandes urbes.

É neste contexto de inversão de paradigma que o património ambiental já é e será cada vez mais

fluxo de fundos financeiros para os territórios rurai pense globalmente, aja

, foram e são as organizações locais que melhor corporizam e colocam em prática a trilogia têm tido e têm hoje mais do que nunca o papel e a obrigação de formar os produtores, tornando-os agen- tes conscientes e inteligentes capazes de aumentar os níveis de produtividade sem comprometer os recur- sos ambientais no futuro. Só as organizações locais, pela ação de agir e decidir localmente, podem insti- tuir parcerias que conduzam a que Governo, sociedade civil e as diferentes organizações possibilitem mo- delos de desenvolvimento que conduzam as comunidades locais ao desenvolvimento e incremento de ati- vidades geradoras de riqueza no comprometimento da sustentabilidade do meio ambiente. (Reis, 2013: 18)

Para além de voltar a frisar o facto do património natural, construído e imaterial constituir a matéria- prima para o desenvolvimento turístico, Reis salienta a importância das organizações locais como sensibili- zadoras e formadoras junto da comunidade, nomeadamente dos atuais e futuros empresários e mediadoras, proporcionando condições para que todas as entidades locais, regionais e nacionais se envolvam e trabalhem em prol do mesmo objetivo global o desenvolvimento rural sustentável. A criação de redes e de equipas de trabalho pluridisciplinares é uma imposição para reverter a realidade do despovoamento e a crescente de-

pressão das zonas rurais, em especial quando se pretende o aproveitamento dos recursos patrimoniais, dada a vastidão de entidades e pessoas singulares que são suas proprietárias, os gerem e exploram. É, assim, neces- sário que seja feita uma gestão adequada do património rural.