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F ONTE : ADAPTADO DE UNESCO, 2006: 2 Tradições e expressões orais

1.3. T URISMO CULTURAL : PATRIMÓNIO CULTURAL E TURISMO

Neste ponto, pretende-se interligar os conceitos de turismo e património cultural, cujo resultado é o denominado turismo cultural, dando especial ênfase à componente da oferta. Também será feita uma breve abordagem à procura turística, através da análise das principais motivações dos turistas culturais rurais.

Já se conseguiu evidenciar a extraordinária importância histórica, social e até ambiental do património e-

reiro, 2006: 13), e a e ativo das comunidades.

s-

que nos tornemos e-

lhor veículo para fazer essa ligação.

A Organização Mundial do Turismo - OMT, através da publicação do Código de Ética do Turismo, real-

dor do -se ênfase à necessi- dade do desenvolvimento turístico acontecer em harmonia com as especificidades e tradições das regiões e dos países de acolhimento, observando as suas leis, usos e costumes. (OMT, 1999).

Esta conexão não é um fenómeno recente. Desde os primeiros registos de deslocações, que a cultura se assume como motivação central. Veja-se o exemplo das viagens denominadas grand tours, no século XVIII. Com o tempo, as preferências e gostos dos turistas alteraram-se. Foram incorporadas novas formas de ocupa- ção do tempo livre e, especialmente, de relacionamento com a cultura dos visitados, que, baseando-se no seu

- 2003) que comercializam para quem o quiser

ver e conhecer.

Santana (2003) propõe três estratégias para promover o desenvolvimento turístico baseado no patri- mónio cultural: a preservação e proteção total dos espaços e saberes numa perspetiva de sustentabilidade e ao serviço da ciência; preservação do património e aceitação de um turismo elitista e de minorias; e a conserva- ção e harmonização do património com a sua utilização para atividades de lazer para turismo de massas, com vista à democratização do consumo.

Quer se trate de uma estratégia que se dirija ao universo científico, quer ao público em geral ou a ni- chos de mercado, a organização de serviços turísticos, cujo eixo central seja o património cultural, origina o produto Turismo Cultural. Comecemos por clarificar os conceitos a este inerentes.

Começando pelo turismo, encontram-se inúmeras definições deste conceito, dada a diversidade de vi- compreende as atividades desenvol- vidas por pessoas ao longo de viagens e estadas em locais situados fora do seu enquadramento habitual por um período consecutivo que não ultrapasse um ano, para fins recreativos, de negócios . (Cunha, 2001: 30) Esta definição privilegia claramente o lado da procura, declinando a definição de turismo como indústria.

Mais completa é a definição de Mathieson e Wall (1982: 34) os quais consideram o turismo como o movimento temporário de pessoas para destinos fora dos seus locais normais de trabalho e de residência, as atividades desenvolvidas durante a sua permanência nesses destinos e as facilidades criadas para satisfazer as . Esta definição enfatiza a complexidade da atividade turística, abrangendo as relações entre a oferta e a procura.

Seja qual for a definição de turismo, este implica inevitavelmente a deslocação de pessoas do seu local de residência habitual para outro. Esta deslocação pode ser motivada por inúmeras razões. Entender os moti- vos que levam as pessoas a deslocar-se, a fazer turismo, bem como a identificação do tipo de turismo que as pessoas desejam fazer, é fundamental para o desenvolvimento de produtos turísticos de sucesso.

e culturais que dá valor e sentido para as escolhas de viagem, comportamento e experiênci et al., 1998) Por norma, são as motivações primárias, que levam as pessoas a determinado lugar, que definem o(s) produto(s) que este tem para oferecer enquanto destino turístico. A cultura, como fator impulsionador da viagem, não parece ser exceção.

Após uma breve revisão de parte vasta literatura sobre motivações turísticas, muitos são os autores que consideram de per si a cultura como uma motivação ou, então, integrada numa categoria mais vasta. Por exemplo, Moutinho (1987) apresenta um modelo com cinco motivações, entre as quais Educação e Cultura. McIntosh (citado por Beni, 1997)define uma categoria de motivos que assenta no desejo de conhecer outros países, hábitos, costumes, cultura.

Cunha (2001: 150) afirma que os fatores culturais influenciam as decisões de viagem, criando uma predisposição cultural à viagem. Pode, então, afirmar-se que o património cultural é de extrema utilidade para a atividade turística, quando se observa o crescimento da procura nacional e internacional interessada em conhecer o legado cultural dos destinos turísticos. Agregando-se esta procura à oferta assente no recurso património cultural, estão criadas as premissas basilares para se desenvolver o produto turismo cultural.

Abundam os conceitos de turismo cultural na literatura sobre o tema. Cunha (2001: 49), citando outros autores, diferencia turismo cultural assente nas relações dos visitantes com os estilos de vida old style e uldade em desassociar a cul-

n- tar os conhecimentos, conhecer as particularidades e os hábitos doutros povos, conhecer civilizações e cultu-

ras diferente Cunha, 2001: 49)

A International Council on Monuments and Sites (ICOMOS)2

forma de turismo para outro local que envolve as experiências do visitante sobre todos os aspetos culturais do local, os seus modos de vida contemporâneos, gastronomia, topografia, meio ambiente, vilas e aldeias, e c

O turismo cultural compreende as atividades turísticas relacionadas com a vivência do conjunto de elementos significativos do património histórico e cultural e dos eventos culturais, valorizando e promoven- do os bens materiais e imateriais da cultura. Porém, embora grande parte da vitalidade do turismo proceda do património cultural, deve-se evitar que este seja considerado apenas como uma mercadoria ao serviço da atividade turística.

Uma vez que o património cultural é compreendido como o espaço natural no qual se estabelece o diálo- go entre a sociedade atual e a do passado, em redor dos símbolos e das representações, o turismo não poderá apropriar-se deste património à luz de interesses puramente economicistas. Deve ser estabelecida uma forte ligação entre a sociedade e o bem cultural, ao observar-se o tipo de relação construída entre o património e seus "proprietários", ou seja, os residentes.

Esta construção possui como base elementos como identidade, religião, música, política, enfim, todos os aspetos que são englobados pela cultura, e nos quais estão incluídos os seus patrimónios, que não podem ser considerados fechados, nem predeterminados, mas sim como bens em constante movimento, representan-

2Organização não-governamental internacional dedicada à conservação, proteção e valorização dos monumentos, conjuntos e sítios de todo o mundo (definição disponível em< http://icomos.fa.utl.pt>, consulta a 12/05/2012).

tes de uma comunidade cultural e que precisam ser identificados como necessários e valorizados pela própria comunidade.

Pires (2004: 36) defende que o turismo cultural compreende inúmeros aspetos, com fortes potenciali- dades de exploração rentável, através da atração de visitantes:

1. A arte: a pintura, a escultura, as artes gráficas e a arquitetura; 2. A música e a dança;

3. A gastronomia típica através de restaurantes representativos da culinária tradicional local; 4. O folclore manifestado através de danças, espetáculos teatrais, desfiles, etc.;

5. O artesanato expresso sob a forma de lembranças típicas dos locais e produtos diferenciados e exóti- cos;

6. A arquitetura tradicional local, aliada ao conforto necessário ao turista;

7. O património arquitetónico observado por meio de edifícios históricos, museus, pousadas, centros culturais e outras construções que mantenham as características originais;

8. As igrejas, os ritos religiosos, as procissões e as festas religiosas;

9. A agricultura tradicional: a paisagem rural, a forma de se tratar a terra e o modo de vida rural são fortes atrativos, nomeadamente para aqueles que vivem nos centros urbanos.

É consensual que o património é a matéria-prima do turismo cultural. Importa, então, perceber de que forma se podem transformar os bens patrimoniais em produto turístico.

Segundo Pereiro (2006) o património cultural como recurso turístico pode apresentar três formas: o património cultural como produto turístico autónomo; o património cultural associado a um pacote turístico; e o património cultural como mais-valia dos destinos turísticos (diversificação do produto turístico).

Seja qual for a hipótese que se melhor se adapte a um determinado caso, o turismo cultural está sem- pre subjacente ao produto turístico, quer como motivação principal, quer como complemento da viagem. Assim sendo, o relacionamento entre o património e o turismo estabeleceu-se definitivamente. Todavia, é imprescindível o estabelecimento de regras de convivência entre ambos numa perspetiva de rentabilização económica e de desenvolvimento social, baseando-se em critérios de qualidade, para que os benefícios pro- voquem uma efetiva melhoria da qualidade de vida dos cidadãos, tanto daqueles que o praticam como daque- les que o acolhem. (Monteiro, 2006: 40)